Colômbia: passageiros não se aperceberam que o avião ia cair - TVI

Colômbia: passageiros não se aperceberam que o avião ia cair

Erwin Tumiri, um dos seis sobreviventes da tragédia da Chapecoense, relatou os momentos que antecederam a queda do avião da LaMia que vitimou 71 pessoas e o que fez depois do acidente

Um dos sobreviventes do acidente aéreo que vitimou 71 pessoas garantiu, numa entrevista, que os passageiros não foram avisados sobre eventuais problemas com o avião.

Erwin Tumiri, membro da tripulação do avião da LaMia que se despenhou na Colômbia, saiu quase ileso do acidente, teve alta hospitalar e já está na Bolívia. A Globo entrevistou-o no hospital boliviano onde ainda recupera.

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“Fomos avisados que íamos aterrar, mas seria uma aterragem normal”, disse, ao programa “Fantástico” da Globo, o sobrevivente do acidente aéreo que vitimou quase toda a equipa de futebol do Chapecoense. Erwin recordou que momentos antes do embate estava a conversar com o treinador da equipa que lhe estava a ensinar algumas palavras em português.

Quando o piloto disse: coloquem os cintos porque vamos aterrar, todos voltaram aos seus lugares e apertaram os cintos. As luzes apagaram-se e o avião começou a vibrar. Associei a turbulência à aterragem, mas não era isso que se passava”, disse.

As causas do acidente ainda não são conhecidas. Há teorias que apontam para falta de combustível suficiente para fazer a ligação entre a Bolívia e a Colômbia. As duas caixas negras foram recuperadas em bom estado, durante as operações de resgate, e serão cruciais para determinar a origem da queda do avião.

O comissário de bordo explicou que a tripulação obedecia a vários critérios de segurança no processo de revisão do aparelho, antes de ser realizado o voo.

Nós, como técnicos de voo, fazemos o trabalho pré-voo, com listas de tudo o que é preciso fazer. Preocupamo-nos com isso. A LaMia tem o seu pessoal, mas eu sigo o meu trabalho. Nos relatórios, estava escrito que íamos a Cobija (abastecer). No momento da descolagem, perguntei e disseram que íamos diretos para Medellín", disse.

O homem explicou que a inspeção da autonomia do aparelho, da carga e do tempo de viagem é da responsabilidade da LaMia, que ainda não se pronunciou sobre o acidente.

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O voo 2922 da companhia aérea venezuelana, que opera a partir da Bolívia, LaMia despenhou-se na madrugada de segunda-feira, 28 de novembro, em Cerro El Gordo (Monte O Gordo). O aparelho tinha saído de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, com destino ao aeroporto internacional José María Cordova, em Ríonegro, Colômbia.

“Foi como um pesadelo”

Ao contrário do que tinha sido avançado pela imprensa colombiana, Erwin Tumiri não ter seguiu quaisquer procedimentos de segurança e revelou que no momento da queda ninguém se apercebeu do que se estava a passar. O embate do aparelho foi descrito como único e impercetível, depois Erwin só se lembra de ter acordado no chão.

O momento do acidente foi como um pesadelo porque não acreditava. Acordei e pensei: o que é que aconteceu aqui?”, disse o boliviano.

Nos momentos que se seguiram ao despiste da aeronave, Erwin disse que agarrou numa lanterna e gritou por ajuda, ao mesmo tempo que fez sinais luminosos para que o pudesse localizar.

Quando foi encontrado pelas equipas de resgate, o homem gritava o nome dos colegas na esperança de os conseguir localizar. Uma das pessoas que encontrou, e que acabou por também ser resgatada com vida dos escombros, foi Ximena Suárez, colega da tripulação.

Ximena estava a cinco metros. Estava deitado no chão de barriga para baixo quando acordei, assustado, e corri em direção a ela e soltei-a porque estava presa. Ela estava a gritar e quando me viu, acalmou”, recordou.

Os dois apresentavam ferimentos ligeiros e Erwin terá sugerido saírem dali para tentarem seguir em direção ao aeroporto. “Como estava escuro e era mato, fomos andando nessa direção”, disse.

O avião tinha 77 pessoas a bordo, incluindo jogadores e equipa técnica do cube brasileiro Chapecoense, que iria disputar a final da Taça Sul-Americana frente ao Atlético Nacional, em Medellín. O aparelho tinha ainda 22 jornalistas a bordo.

O homem recordou que no momento em que salvou a colega viu muitos corpos espalhados, “mas não havia nada a fazer”. Erwin afirmou que estava preocupado com a possível explosão do aparelho e só queria afastar-se o quanto antes com a colega.

A queda do avião da LaMia provocou 71 vítimas mortais, mas seis pessoas sobreviveram. Questionado se não ouviu outros pedidos de ajuda, Erwin afirmou que quando parou para descansar ouviu alguém “com sotaque brasileiro”. O comissário de bordo tentou ir ao encontro desse passageiro, com quem procurou manter sempre contacto verbal para conseguir localizá-lo e ajudá-lo a manter-se acordado.

Entre os sobreviventes há três jogadores da equipa de futebol brasileira Chapecoense, que iria disputar a final da Taça Sul-Americana, na Colômbia, um jornalista e dois tripulantes.

No final da conversa com o jornalista brasileiro, o sobrevivente revelou que, quando recuperar na totalidade, não vai desistir de trabalhar no ramo, vai continuar a estudar para ser piloto comercial e quer, um dia, conhecer a cidade de Chapeco.

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