Mourinho: «Tenho um problema, estou melhor em todos os sentidos» - TVI

Mourinho: «Tenho um problema, estou melhor em todos os sentidos»

Um longa entrevista ao «The Telegraph» em que o treinador português desvenda um pouco do seu lado mais intimo

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«The Special One» tem um problema. José Mourinho, numa entrevista ao «The Telegraph», faz um balanço da sua já longa carreira, fala em evolução e assume, com o seu estilo bem vincado, que está melhor do que nunca. Em todos os aspetos, faz questão de salientar. Uma longa entrevista em que o treinador do Chelsea fala de tudo o pouco e revela, inclusive, uma das poucas coisas em que está de acordo com Arséne Wenger.

«Penso que tenho um problema, que é estar a melhorar em tudo o que está relacionado com o meu trabalho desde que comecei. Houve uma evolução em várias áreas - a forma como leio o jogo; a forma como preparo o jogo; a forma como treino; a metodologia...sinto-me cada vez melhor. Só há um ponto em que não posso melhorar: quando falo com os jornalistas, nunca sou hipócrita», começa por destacar com a mesma confiança, muitas vezes confundida com arrogância, com que há onze anos anunciou a chegada do «Special One».


Os números acabam por lhe dar razão. Estatisticamente, Mourinho é o treinador mais bem sucedido do Mundo. Foi campeão em todos os quatro países onde trabalhou – Portugal, Itália, Espanha e Inglaterra – e ganhou duas Liga dos Campeões. Apesar de tudo, Mourinho não se sente velho. «Em termos futebolísticos, não sou assim tão velho. Aos 52 anos tenho provavelmente mais vinte anos pela frente para treinar. Sinto-me, como vocês dizem, uma velha raposa. Nada me assusta, nada me preocupa muito, parece que já nada me pode surpreender. Estou muito estável ao nível do controlo emocional, mas preciso de tempo para pensar. Não acordo a meio da noite preocupado com uma lesão ou com uma tática para o jogo. Preciso de refletir, preciso de tentar antecipar problemas. Preciso do meu tempo», explica o treinador que chega sempre duas horas antes do treino para se fechar no seu escritório.

«Wenger disse uma coisa interessante...»

A entrevista prossegue depois para o início da carreira de Mourinho, para a forma como o treinador português se relaciona com os jogadores que são cada vez mais estrelas, mesmo sem fazer muito por isso. É neste ponto que Mourinho está de acordo com Arsène Wenger, treinador do Arsenal, com quem tem mantido uma rivalidade desde que chegou à Premier League. «Penso que Wenger disse uma coisa interessante; ele é contra a Bola de Ouro, e acho que ele tem razão, porque nesta altura o futebol está a perder o conceito de equipa para se focar mais no individuo. Estamos sempre à procura das exibições individuais, para as estatísticas, para o jogador que corre mais. Se correres onze quilómetros num jogo e eu só correr nove quer dizer que fizeste um melhor trabalho? Talvez não. Talvez os meus nove tenham sido mais importantes dos que os teus onze», destacou sorridente.

Mais à frente, Mourinho volta a estranhar o estatuto que os jogadores têm vindo a adquirir na sociedade. «Em Portugal diz-se que se pode mudar de casa, mudar de mulher, mas não podes mudar de clube. Compreendo a força do futebol socialmente, politicamente e culturalmente. Mas como é que um jogador de futebol pode estar entre as 100 personalidades mais influentes do Mundo na revista Forbes? Não era um, mas dois. O ano passado Cristiano Ronaldo estava em 30º e Lionel Messi em 45º. É um absurdo. Não salvamos vidas. Sei que uma pessoa pode saltar de um quinto andar porque a sua equipa perdeu um jogo, mas essa pessoa tem problemas. Como é que se pode comparar ujm jogador ou um treinador com um cientista ou médico? Não se pode comparar», referiu.



A entrevista desvia-se depois para os aspetos pessoais de Mourinho que se assume como um homem religioso e, ao contrário do que mostra muitas vezes no futebol, descreve-se como «uma boa pessoa». «Penso que sim. Tento ser e penso que sou. Não tenho problemas com a família, nem com amigos. Sou um bom amigo. Tento apoiar pessoas que nem conheço. Cometo erros? Sim. A mi há área profissional não é só competitiva. É competitiva e emocional, tens de empurrar pessoas para teres um determinado comportamento. Mas a vida profissional é apenas uma parte da pessoa. A pessoa é muito mais do que isso», comenta.

Mourinho assume que não tem grandes amigos entre os ingleses, mas há um que admira acima de todos os outros: Alex Ferguson. O primeiro contato com antigo treinador do Manchester United foi em 2004, quando o FC Porto eliminou a equipa de Old Trafford. «Foi aí que conheci as duas faces desse grande homem. A primeira face foi o seu lado competitivo, do homem que tentou tudo para sair vencedor. Depois disso encontrei um homem de princípios, com respeito pelo adversário, com fair-play. Na minha cultura, na portuguesa e na latina, não temos essa cultura de duas faces que agora tento ter», contou.

Uma segunda face pouco visível, uma vez que Mourinho é muitas vezes descrito como maquiavélico. «Não me vejo dessa forma. Claro que conheço Maquiavel. Aceito que às vezes possa fazer uns comentários maquiavélicos, mas não mais do que isso», comentou ainda.
 
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