Armas na América: uma história de violência - TVI

Armas na América: uma história de violência

Trocar armas por vales de compras [Reuters]

Entrevista com Elliot Fineman, líder do National Guns Victims Action Council

A questão do acesso às armas é, neste momento, um dos temas centrais da discussão política nos EUA.

As eleições presidenciais de 2012 não tiveram o «gun control» no topo da agenda (não era do interesse dos dois candidatos), mas o massacre de Newtown, Connecticut, em dezembro, alterou por completo os dados do problema.

Elliot Fineman é o presidente da National Guns Victims Action Council (NGAC), uma associação norte-americana, politicamente independente, que tem como lema ser «uma força que se bate por uma legislação de armas saudável».

Em entrevista exclusiva ao TVI24.pt, este antigo consultor de marketing de grandes empresas como a Accenture, KPMG e do Boston Consultant Group explica ao pormenor o que está em causa e aponta soluções para travar o risco de futuros massacres.

O interesse de Elliot Fineman no «gun control» tem uma origem pessoal trágica: no último dia de 2006, um esquizofrénico que possuía uma arma legal matou o seu filho num restaurante de San Diego.

As sondagens mostram que cerca de 8 em cada 10 democratas defendem mais leis sobre gun control e que cerca de 8 em cada 10 republicanos defendem o direito ao livre acesso às armas. Há aqui um padrão claro, uma divisão política e ideológica neste tema?

Sim, os democratas acreditam na comunidade e no contrato social («we are all in this together», «we are our brother¿s keeper»). Eles veem o governo como uma força benigna com quem trabalhar. Os democratas têm compaixão pelo sofrimento dos outros. Os republicanos acreditam no indivíduo, em cada pessoas ser responsável por si própria. Eles não subscrevem o contrato social. Os republicanos acreditam na acção individual e veem o governo como algo malévolo, ameaçador, um inimigo que deve ser afastado das suas vidas. Atendendo a estas diferenças ideológicas, não é surpreendente que os republicanos quisessem livre acesso às armas e que os democratas estejam mais focados na segurança pública e pretendam uma legislação mais restritiva.

Pode uma legislação federal sobre gun control ser efetiva se os estados continuarem a ter diferentes leis sobre o tema?

Não.



Será que os americanos são mais violentos que outros povos? Haverá um «pedigree» de violência na história do seu país?

Não acredito que os americanos sejam mais violentos que outros povos. Estatisticamente, seria de esperar que a percentagem de pessoas que são violentas seria igual em Inglaterra e nos EUA. A grande diferença é que os americanos são donos de cerca de 300 milhões de armas, enquanto noutros países é de apenas 100 mil. Estar armado é uma condição que torna mais fácil a perceção de que se é poderoso, ou que está a ser ameaçado. E isso aumenta a possibilidade de usar armas.

O que pensa da ideia de dar armas aos professores para defesa de eventuais ataques a escolas no futuro?

É uma ideia ridícula. Estudo feitos nos EUA mostram que os polícias, treinados para reagir a situações de stress, apenas conseguem acertar no alvo pretendido três vezes em cada dez tiros. Sete balas vão sabe-se lá para onde - para outras pessoas? No incidente de 2012 no Empire State Building sete pessoas que estavam ali apenas a passar foram baleadas enquanto a polícia combatia com o atirador. E todas as pessoas atingidas levaram com balas disparadas pela polícias, que falharam o alvo.
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