Tortura: ex-preso de Guantánamo responsabiliza Reino Unido - TVI

Tortura: ex-preso de Guantánamo responsabiliza Reino Unido

Prisão de Guantanamo (foto Lusa)

Egípcio Binyam Mohamed passou quase sete anos detido sem que fosse provada a sua culpa

Relacionados
Binyam Mohamed tem 30 anos, nasceu no Egipto e vive no Reino Unido. Mas desde 2002 a Fevereiro deste ano esteve nas mãos dos serviços secretos norte-americanos. Tudo começou com uma viagem de inspiração religiosa ao Paquistão e terminou nas celas da chamada guerra ao terror dos EUA. Diz ter sido torturado durante quase sete anos e responsabiliza as autoridades britânicas de envolvimento.

Numa entrevista dada à «BBC Radio 4», o homem a quem a suspeita de pertencer à rede terrorista Al Qaeda colocou a vida em suspenso durante seis anos e dez meses, disse que perdeu mais do que esse tempo. «Não tenho os sentimentos que uma pessoa normal tem. Os sentimentos de felicidade e de tristeza, ainda não os encontrei», lamentou Mohamed.

Libertado em Fevereiro, quando se encontrava no centro de detenção de Guantánamo, por não ter sido provada qualquer ligação a grupos terroristas, o egípcio pretende ver George W. Bush julgado, assim como o antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair, se se provar que o governante também estava a par dos maus tratos de que foi vítima.

Se em relação a Blair, Binyam Mohamed ainda admite a dúvida, já em relação aos serviços secretos britânicos não hesita em apontar o dedo, acusando o MI5 de ter colaborado nos interrogatórios que lhe foram feitos.

Interrogatórios com MI5

Depois de uma conversão religiosa, Mohamed decidiu viajar até ao Paquistão. «Disseram-me que lá é que estava o verdadeiro Islão». Mas acabou por ser detido e sujeito a um interrogatório de três horas por agentes norte-americanos, com a presença de um operacional do MI5. «Se não fosse o envolvimento britânico desde o início nos interrogatórios no Paquistão e as sugestões feitas pelo MI5 aos americanos para me fazerem responder não penso que tivesse sido levado para Marrocos».

«Foi a ajuda inicial que o MI5 deu à América que me fez passar pelos sete anos que passei», acusou o egípcio. Binyam Mohamed contou que do Paquistão foi levado para uma prisão secreta em Marrocos, em Julho de 2002, onde terá sido torturado, com base em questões enviadas pela inteligência britânica, assim como centenas de fotografias de muçulmanos residentes no Reino Unido.

Eminen 24 horas por dia

De Marrocos, o egípcio foi levado para o Afeganistão, em Janeiro de 2004, onde os maus tratos terão continuado. Em Cabul foi encerrado num local a que chamou «prisão negra». «Na prisão negra estava literalmente morto. Não existia. Não estava lá. Não havia dia, não havia noite». Numa cela sem luz, Mohamed descreve que além dele existia apenas um cobertor no chão e colunas embutidas nas paredes que, durante um mês seguido, 24 horas por dia, o bombardeavam com música do rapper norte-americano Eminen.

No Afeganistão, o egípcio acabou por assinar uma confissão, sob a ameaça de continuar na «prisão negra» se não cooperasse. Depois foi levado para Guantánamo, onde voltou a ser alvo de violência. Diz que os maus tratos se intensificaram, de forma especial, quando o presidente Barack Obama anunciou que o centro de detenção seria para encerrar.

Em Fevereiro de 2009, Binyam Mohamed foi libertado, ilibado de todas as suspeitas, e voou de Cuba para o Reino Unido, país que acusa de ter permitido que fosse torturado e sofrido mesmo sendo inocente. «Foram sete anos de total escuridão por que passei. Voltar à vida vai levar tempo», disse.

O governo do Reino Unido assegurou que «condena sem reservas o uso da tortura». Apesar disso, a procuradoria geral britânica disse que vai analisar a alegações de Mohamed para decidir se irá abrir ou não uma investigação ao caso.
Continue a ler esta notícia

Relacionados