Migrantes: Bruxelas ajuda Grécia com 700 milhões e assistência médica - TVI

Migrantes: Bruxelas ajuda Grécia com 700 milhões e assistência médica

  • CM
  • 3 mar 2020, 16:09

País enfrenta enorme pressão nas suas fronteiras externas com a Turquia depois de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter decidido abrir as portas aos refugiados que pretendem rumar à Europa, numa tentativa de garantir mais apoio ocidental na questão síria

A Comissão Europeia anunciou, nesta terça-feira, uma ajuda financeira de 700 milhões de euros à Grécia para responder à pressão migratória no país, sobretudo de migrantes vindos da Síria, mobilizando ainda assistência médica através do Mecanismo Europeu de Proteção Civil.

Vamos disponibilizar uma ajuda financeira de 700 milhões de euros à Grécia e isto divide-se em 350 milhões que ficam já disponíveis e outros 350 milhões de euros que podem vir a ser requeridos como uma verba prometida”, divulgou a presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen, falando em conferência de imprensa na Grécia, após uma visita a campos de refugiados.

Realçando as “circunstâncias extremas e a situação difícil e tensa” no país, a responsável precisou que “a ajuda financeira será destinada à gestão da questão migratória, de forma geral, para construir e manter as infraestruturas necessárias”.

Na ocasião, Ursula von der Leyen informou também que, a pedido da Grécia, foi ativado o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, visando assim que aquele país “possa receber assistência médica, em termos de equipas e de equipamentos, como abrigos e cobertores, enquanto de tal necessite”.

Vamos continuar em contacto muito próximo para garantir que damos todo o apoio necessário”, adiantou a presidente do executivo comunitário.

A Grécia enfrenta uma enorme pressão nas suas fronteiras externas com a Turquia depois de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter decidido abrir as portas aos refugiados que pretendem rumar à Europa, numa tentativa de garantir mais apoio ocidental na questão síria.

Também por isso, na segunda-feira, a agência europeia da guarda costeira, a Frontex, aceitou lançar uma intervenção rápida nas fronteiras externas da Grécia, para ajudar as autoridades gregas face ao fluxo de refugiados oriundos da Turquia.

A decisão do diretor-executivo da Frontex, Fabrice Leggeri, surgiu na sequência de um pedido do governo grego, que no domingo à noite solicitou oficialmente à agência o lançamento de uma intervenção rápida nas suas fronteiras marítimas no Mar Egeu.

Hoje, Ursula von der Leyen precisou que a operação rápida da Frontex será feita pelo mar, terra e por via aérea, nomeadamente através da alocação de embarcações, helicópteros e de aeronaves e ainda da disponibilização de mais 100 guardas costeiros aos cerca de 530 que a agência já tem nas fronteiras gregas.

Esta é uma responsabilidade da Europa porque as fronteiras gregas são as fronteiras europeias”, salientou a presidente da Comissão Europeia.

Ursula von der Leyen deixou, ainda, um aviso à Turquia.

Todos os que tentam testar a unidade europeia vão ficar desapontados, pelo que esta é altura de reafirmarmos os nossos valores europeus."

Catarina Martins considera “absolutamente sinistro” UE dar mais dinheiro a Erdogan

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, considerou hoje, em Bruxelas, “absolutamente sinistro” a União Europeia admitir continuar a pagar ao regime turco liderado por Erdogan para reter os refugiados e utilizá-los como “arma humana na sua guerra”.

Em declarações aos jornalistas durante uma deslocação a Bruxelas para reuniões com a direção do grupo parlamentar do Grupo da Esquerda Unitária, do qual o Bloco faz parte, Catarina Martins apontou que “houve um tema que se sobrepôs hoje” na agenda, o da situação “absolutamente calamitosa” dos refugiados na fronteira entre a Turquia e a Grécia, e deplorou a atitude que a União Europeia tem tido face a esta crise.

A coordenadora do BE sublinhou que “faz agora quatro anos, em março, que a UE fez um acordo com a Turquia, para a Turquia reter os refugiados”, e ao longo deste período “foram seis mil milhões de euros entregues à Turquia, para a Turquia fazer campos de concentração de refugiados, pois foi isso que aconteceu”, e agora utilizá-los como "arma".

Lembrando que o seu partido sempre defendeu que o acordo celebrado com “o regime autoritário” de Ancara para dar resposta à crise dos refugiados “era uma péssima ideia”, Catarina Martins sublinhou que, “quatro anos passados, seis mil milhões de euros depois, na verdade a situação da crise de refugiados está pior, e não melhor”, e o regime de Recep Tayyip Erdogan “está a utilizar os refugiados como arma humana no seu conflito e para pressionar a UE sobre os ataques que quer fazer na Síria”.

Aquilo que nos dizem é que querem renovar o acordo com a Turquia. Ou seja, já foram entregues 6 mil milhões de euros ao regime de Erdogan, que utiliza os refugiados com arma humana na sua guerra, e a UE, em vez de alterar os seus procedimentos, em vez de, com os seus recursos, criar corredores seguros e criar acolhimento, o que está a tentar fazer é continuar a pagar a Erdogan para tratar os refugiados desta forma, e isto é sinistro, é absolutamente sinistro”, declarou.

Defendendo a necessidade de as instituições da União Europeia tomarem o quanto antes uma “decisão clara sobre o acolhimento a estes refugiados”, e reforçando que “os 6 mil milhões eram a verba necessária para criar corredores seguros para quem está a fugir da guerra e encontrar soluções para estas famílias absolutamente desesperadas”, Catarina Martins lamentou que, em vez disso, as autoridades europeias estejam em constantes reuniões com as autoridades turcas e gregas, às quais também aponta o dedo, lamentando designadamente a “atuação muito violenta” do primeiro-ministro da Grécia para com os refugiados.

Hoje mesmo, [Kyriakos Mitsotakis] veio dizer que tem o apoio de Donald Trump [o presidente norte-americano], e portanto nós sabemos o que isso quer dizer. Não é seguramente a preocupação com os direitos humanos”, observou, manifestando por isso “enorme preocupação” quando ouve “as autoridades europeias a dizer que estão a apoiar a atuação do governo grego”.

“É preciso apoiar a Grécia, sim. A Grécia tem de ter apoio porque está a sofrer toda a pressão da crise dos refugiados. Mas não é apoiar disparos contra refugiados, isso não pode ser seguramente”, disse.

Comentando aquilo que classifica como “um dos piores momentos” da história europeia, a dirigente do BE enfatizou ainda que “a União Europeia não só fez há 4 anos este acordo absolutamente desastroso com a Turquia, como também foi acabando com todos os programas que faziam resgate de pessoas no Mediterrâneo e que combatiam as redes de tráfico de seres humanos”, caso da operação Sophia.

O que nos ofende e é inaceitável é saber que ontem mesmo morreu uma criança afogada a tentar chegar à Grécia, quando a Europa não tem nenhum programa de resgate neste momento no terreno. Nenhum, absolutamente nada. Travou tudo, para dar todos os seus recursos à Turquia, que neste momento está a utilizar os refugiados como arma. Isso é absolutamente inaceitável e é dos piores momentos da nossa história europeia”, concluiu.

 

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