Modelo negra recusa desfilar com acessórios "racistas” na Semana de Moda de Nova Iorque - TVI

Modelo negra recusa desfilar com acessórios "racistas” na Semana de Moda de Nova Iorque

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  • 18 fev 2020, 10:42
Amy Lefevre

Amy Lefevre ficou incrédula quando viu que tinha de usar umas orelhas de macaco e uns enormes lábios vermelhos

A modelo Amy Lefevre, de 25 anos, levantou a ponta do véu da polémica sobre o racismo na moda ao recusar-se usar acessórios que considerou "racistas", durante um desfile da Semana da Moda de Nova Iorque. O caso já aconteceu a 7 de fevereiro, mas só saltou para as páginas da atualidade no último fim de semana, depois de uma reportagem do jornal The New York Post, publicada no último sábado. 

Os acessórios em questão eram umas orelhas de macaco negras e uns lábios grossos vermelhos, ambos de grandes dimensões, que a manequim considerou possuírem conotações racistas.

Fiquei ali, quase desfeita, até chegar ao ponto de dizer à organização que me sentia incrivelmente incomodada em levar aqueles acessórios que claramente são racistas. Disseram-me que podia sentir-me desconfortável durante 45 segundos”, contou Amy, em declarações ao jornal novaiorquino. 

A resposta da organização do desfile chocou ainda mais Amy Lefevre.

Fiquei a tremer. Não conseguia controlar as minhas emoções. Todo o meu corpo tremia. Nunca me tinha sentido assim em toda a minha vida. Os negros ainda lutam muito em 2020 e os promotores [do desfile] não vetaram e até branquearam o uso destes acessórios nos desfiles", acrescentou. 

A situação acabou por ficar resolvida. Ao contrário das restantes modelos, Amy Lefevre desfilou sem os acessórios, que, originalmente, faziam parte de um brinquedo sexual. De acordo com um um comunicado de imprensa, o desfile no Manhattan’s Pier59 Studios foi idealizado para mostrar o trabalho de 10 estudantes do Fashion Institute of Technology (FIT) de Nova Iorque. 

A produção servia para assinalar o 75ª aniversário do FIT. Fundado em 1944, o instituto faz parte da Universidade Estatal de Nova Iorque. As roupas, que eram complementadas pelos acessórios foram desenhadas pelo finalista Junkai Huang, e pretendia colocar a nu "as partes feias do corpo humano". O estilista de origem chinesa não comentou a controvérsia. 

A diretora do instituto Joyce F. Brown saiu em defesa dos estudantes que desenharam os adornos, alegando que se tratou de uma perspetiva artística, contudo garante que vai investigar a origem destes acessórios.

Este programa protege a liberdade dos estudantes para encontrarem a sua própria linha e perspetiva como designers, mesmo que algumas pessoas considerem ser provocadoras, mas acharam a sua voz”, referiu.

Contudo, um aluno do instituto, que estava nos bastidores do desfile e que pediu o anonimato, colocou-se ao lado da modelo: "Já tínhamos alertado várias vezes o produtor do desfile. Dissemos 'ela não pode usar isso. Está errado'. Ele gritou comigo e disse que eu tinha de me afastar e estar calado."

O mesmo estudante disse que vários estudantes levantaram as suas objeções junto dos responsáveis do desfile. 

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