O nome de Kofi Annan será sempre recordado em Timor - TVI

O nome de Kofi Annan será sempre recordado em Timor

  • PP (atualizado às 13:55)
  • 18 ago 2018, 12:28

Ex-Presidente timorense, José Ramos-Horta, prestou homenagem ao ex-secretário-geral da ONU e recordou que este cumpriu o seu compromisso de resolver o problema do território

O ex-Presidente timorense, José Ramos-Horta, prestou hoje homenagem ao ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, cujo nome será sempre recordado em Timor-Leste por ter conseguido cumprir o seu compromisso de resolver o problema do território.

"Ele cumpriu com o seu compromisso em que disse que queria ver resolvido o conflito em Timor-Leste. Dinamizou a questão nomeando um representante especial, dinamizou encontros trilaterais, com a ONU, a Indonésia e Portugal", recordou Ramos-Horta.

"O nome dele ficará sempre recordado neste país. E espero que o nosso Estado se faça representar no seu funeral ao mais alto nível. Já alertei o Governo para ver como honrar Kofi Annan", disse Horta que enquanto Presidente atribui a Annan o galardão timorense mais alto, a Coroa da Ordem de Timor-Leste.

Recorde-se que coube a Kofi Annan, a poucos minutos das 00:00 de 20 de maio de 2002, entregar formalmente Timor-Leste aos timorenses numa cerimónia que marcou a restauração da independência do país.

Annan tinha supervisionou a assinatura do histórico acordo de 05 de maio de 1999 - entre Portugal e a Indonésia - que permitiu o referendo em que os timorenses escolheram ser independentes.

Horta, que conheceu Annan no início da década de 1980, recorda a sua "seriedade e serenidade" e que logo no seu primeiro discurso disse que queria ver a questão de Timor-Leste resolvida no seu mandato.

O líder histórico timorense deveria ter-se encontrado com Annan no próximo mês de setembro quando participaria, enquanto comissário, na Comissão Global sobre Política da Droga, que era liderada pelo antigo secretário-geral.

O antigo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e prémio Nobel da Paz de 2001, Kofi Annan, morreu aos 80 anos, divulgou hoje a fundação do antigo diplomata.

Kofi Annan, que fez a sua carreira profissional nas Nações Unidas, cumpriu dois mandatos como secretário-geral da ONU, entre 01 de janeiro de 1997 e 31 de dezembro de 2006.

Kofi Annan falou pela primeira à população timorense a 27 de agosto de 1999, numa mensagem dias antes do referendo da independência, cujo 16.º aniversário se cumpre no próximo dia 30 de agosto.

"Permitam-me congratular-vos por se terem recenseado em tão grande número, e por terem seguido o processo com muitas paciência, coragem e dedicação ao fim de garantir um futuro melhor para os vossos filhos", refere a mensagem, transmitida em Timor-Leste.

Annan visitou Timor-Leste pela primeira vez ainda antes da independência, em fevereiro de 2000, tendo feito um périplo por Díli e uma visita a Liquiçá, a oeste da capital timorense.

"Juntos conseguiremos atravessar a atual crise, abrindo as portas a uma nova era para Timor-Leste. Uma era em que Timor-Leste ocupará o seu lugar entre a família das nações, onde os seus homens, mulheres e crianças possam viver vidas de dignidade e paz", disse no seu primeiro discurso no país.

Ana Gomes lamenta morte de diplomata corajoso e honesto

A eurodeputada Ana Gomes lamentou a morte do antigo secretário-geral da Organização das Nações, dizendo tratar-se de um homem corajoso e honesto, com quem trabalhou no processo de independência de Timor Leste.

Kofi Annan, "um corajoso, honesto e decisivo secretário-geral da ONU! O mundo sente tremendamente a tua falta", escreveu a socialista portuguesa na rede social Twitter, sobre a morte do prémio Nobel da Paz de 2001.

 

"Foi uma honra para mim trabalhar consigo, nomeadamente no Iraque sob ataque dos EUA e no processo de libertação/independência de Timor Leste. Portugal curva-se perante si", diz Ana Gomes dirigindo-se ao ex-diplomata Kofi Annan.

Entre 1999 e 2003, Ana Gomes foi responsável de missão e embaixadora em Jacarta, tendo participado no processo que levou à independência de Timor Leste e no restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a Indonésia.

Jorge Sampaio recorda inteligência e força moral do "amigo"

O ex-presidente da República Jorge Sampaio recebeu com “mágoa” a notícia da morte do “amigo” Kofi Annan, que recorda pela “estatura intelectual e força moral”, “dinamismo” e solidez de presença e convicções.

“São raras as pessoas que dificilmente imaginamos que possam um dia desaparecer, mas Kofi Annan era seguramente uma delas. A sua estatura intelectual e força moral, o seu dinamismo, a solidez da sua presença e convicções sempre se sobrepuseram ao sentido da vida efémera e à mortalidade própria dos humanos”, afirma Jorge Sampaio, num comunicado.

Para o antigo Presidente da República, o “desaparecimento súbito” de Kofi Annan provoca um “sentimento de choque e injustiça que não são facilmente superáveis”, principalmente para alguém que, como Jorge Sampaio, privou com ele “em contextos diversos e durante vários anos”.

Jorge Sampaio recorda como, enquanto Presidente da República, se encontrou com o então Secretário-Geral das Nações Unidas a propósito da causa de Timor Leste, da luta contra o HIV-SIDA e da agenda dos Objetivos do Desenvolvimento Milénio.

Foi, aliás, Jorge Sampaio quem distinguiu Kofi Annan, em nome de Portugal e dos portugueses, com o grande colar da Ordem da Liberdade, em outubro de 2005.

Uma distinção que traduziu a homenagem portuguesa a quem soube “dar voz e defender os valores consagrados na Carta das Nações Unidas e conferir um novo sentido e uma nova urgência ao papel insubstituível que cabe a esta Organização desempenhar no mundo, em prol da paz, do desenvolvimento e da defesa dos direitos humanos”.

O antigo Presidente da República sublinha como, na altura, destacou em particular o “sentido de independência e a coragem” de Kofi Annan, bem como a sua “vigorosa” defesa dos direitos humanos, o empenho que colocou na promoção do estatuto da mulher e na igualdade de género, a prioridade à luta contra a pobreza e a doença, o “decisivo impulso” ao processo de reforma da Organização e o “papel fundamental” que desempenhou no processo que culminou na independência de Timor Leste.

Jorge Sampaio evoca também o momento – em abril de 2006, já após o final do seu mandato de Presidente da República – em que recebeu uma chamada telefónica de Kofi Annan, convidando-o para seu enviado especial para a luta contra a tuberculose, missão relacionada com a Agenda dos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio.

Esse desafio, permitiu o início de um novo ciclo de relacionamento de trabalho entre Jorge Sampaio e Kofi Annan

Depois de deixar a liderança das Nações Unidas, Kofi Annan manteve ainda contacto com Jorge Sampaio no âmbito da Comissão Global para a Política das Drogas.

“Continuei a encontrar o meu amigo Kofi Annan, sempre extremamente ativo e envolvido na promoção de causas em que entendia ser útil e poder marcar uma diferença”, sublinha.

Jorge Sampaio enaltece ainda a “faculdade extraordinária” que Kofi Annan tinha “de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afeto próprio e uma amizade certa”.

“Talvez seja esta faceta de Kofi Annan que guardarei sempre viva na memória e que tive ocasião de observar”, fosse em situações mais formais, como as reuniões em Genebra, ou informais, como um encontro acidental numa remota sala de espera do aeroporto de Nairóbi.

Jorge Sampaio termina evocando o “olhar frontal e sorriso luminoso” do antigo secretário-geral das Nações Unidas, bem como o seu “sentido de humor”, “sabedoria funda, feita de experiência e inteligência rara”.

“Kofi Annan deixa-nos no ano do centenário do nascimento de Nelson Mandela. São dois vultos e dois legados que devemos celebrar conjuntamente, por tudo o que os une e que representam para a afirmação da nossa humanidade comum e da universalidade dos valores e princípios em que assenta”, considera.

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