O governo da Áustria pretende fechar um centro para o diálogo religioso fundado pela Arábia Saudita em Viena, numa tentativa de travar a execução de Murtaja Qureiris, o adolescente saudita que pode ser condenado à morte por atos cometidos quando era criança.
O parlamento austríaco aprovou uma resolução esta quarta-feira que apela à libertação de Qureiris, agora com 18 anos, e que prevê “a utilização de todos os meios diplomáticos e políticos disponíveis para evitar a sua execução”.
Uma das primeiras medidas adotadas nesse sentido passa por abandonar o tratado estabelecido com Riade que levou à fundação do Centro Internacional Rei Abdullah Bin Abdulaziz para o Diálogo Inter-religioso e Intercultural (KAICID).
O Ministério dos Negócios Estrangeiros austríaco confirmou à CNN que estão a ser dados “os passos legais necessários para implementar o processo”.
Este centro inter-religioso foi criado em Viena para promover o diálogo inter-religioso, evitando e resolvendo conflitos, numa perspetiva de entendimento e cooperação. Os seus fundadores são a Arábia Saudita, a Áustria e a Espanha.
No diploma aprovado esta quarta-feira, o parlamento austríaco deixa duras críticas ao governo saudita, considerando que Riade não tem “respeito pela vida nem pela decência humana”.
Depois do caso Khashoggi, o governo saudita mostra uma vez mais como trata as pessoas que o criticam e nem sequer se inibe de assassinar crianças / adolescentes. (…) O governo de Riade só conhece uma única linguagem: a ausência de diálogo ou de respeito pela vida e pela decência humana”, lê-se no documento.
Murtaja Qureiris foi detido em 2014, quando tinha 13 anos. As acusações contra o jovem estão relacionadas com a sua participação em protestos antigovernamentais, que ocorreram três anos antes da sua detenção, ou seja, quando tinha apenas dez anos. Murtaja é acusado de posse de arma de fogo e de se ter juntado a uma organização terrorista.
Esta semana, a Organização Europeia para os Direitos Humanos na Arábia Saudita (European Saudi Organization for Human Rights, ESOHR), que tem monitorizado o caso há vários anos, anunciou que conseguiu confirmar pela primeira vez que o Ministério Público saudita já deduziu acusação sobre Murtaja. A acusação recomenda que o jovem seja condenado à morte.
O seu caso, denunciado por organizações de defesa dos direitos humanos, está a chocar a comunidade internacional.