Venezuela: Maduro apela ao Papa e vai rever relações com quem reconhece Guaidó - TVI

Venezuela: Maduro apela ao Papa e vai rever relações com quem reconhece Guaidó

  • 4 fev 2019, 16:19

Ordem é para "rever integralmente" relações bilaterais com os países europeus que reconheceram o deputado Juan Guaidó como presidente interino. Do Papa, Maduro espera "resposta positiva"

Nicolás Maduro deu ordem esta segunda-feira para "rever integralmente" as relações bilaterais com os países da Europa que reconheceram o deputado Juan Guaidó como presidente encarregado de realizar eleições presidenciais livres na Venezuela.

O governo da República Bolivariana da Venezuela irá rever integralmente as relações bilaterais com esses governos, a partir deste momento, até que se produza uma retificação que descarte a seu apoio aos planos golpistas e se caminhe para o respeito estrito pelo direito internacional", explica um comunicado do Ministério de Relações Exteriores venezuelanos.

No documento, divulgado em Caracas, o Governo de Maduro apela "aos governos europeus para que transitem pelo caminho da moderação e do equilíbrio, para que sejam capazes de contribuir construtivamente para uma via política, pacífica e dialogada, que permita abordar as diferenças entre as forças políticas venezuelanas".

No comunicado, a Venezuela começa por expressar "a mais forte condenação da decisão adotada por alguns governos da Europa, na qual se unem oficialmente à estratégia da administração norte-americana para derrubar o Governo legítimo do presidente Nicolás Maduro, que o povo venezuelano escolheu de forma soberana, livre e democrática".

A soberania do povo venezuelano não está sujeita a nenhum tipo de reconhecimento de parte de qualquer autoridade estrangeira, muito menos após 200 anos de ter quebrado as cadeias coloniais, graças à gesta independentista liderada pelo Libertador Simón Bolívar (político venezuelano)", afirma.

Segundo Caracas, "é alarmante o grau de subordinação desses governos à política belicista liderada pelo atual governo dos Estados Unidos contra a Venezuela, que por sua vez atenta contra a paz e a estabilidade de toda a região". "

Denunciamos que esta decisão é abertamente violadora dos princípios e práticas que regem as relações diplomáticas, estabelecendo um precedente perigoso para a coexistência pacífica entre as nações", explica.

No comunicado, Caracas adverte que esses governos "estão a tomar posição pela fação mais extremista da direita venezuelana que, agindo sob a direção de Washington, procura desesperadamente assumir o controlo do poder político que lhe foi negado por decisão soberana da maioria do povo venezuelano, que expressou a sua clara vontade democrática nas eleições presidenciais de 20 de maio de 2018".

"Espero receber uma resposta positiva"

O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse hoje que escreveu ao papa Francisco pedindo a sua ajuda e mediação na crise que enfrenta a Venezuela, durante uma entrevista ao canal de televisão italiano SkyTG24.

Enviei uma carta ao Papa Francisco", disse Maduro durante a entrevista, realizada em Caracas.

Disse-lhe que estou a serviço da causa de Cristo (...) e, nesse espírito, pedi a sua ajuda no processo de facilitação e de reforço do diálogo", afirmou o Presidente venezuelano.

Os Governos do México e do Uruguai, todos os Governos caribenhos, no seio da Caricom (Comunidade do Caribe), e a Bolívia pediram uma conferência para o diálogo no dia 7 de fevereiro (...). Eu pedi ao Papa para fazer os seus maiores esforços, para nos ajudar no caminho do diálogo. Espero receber uma resposta positiva", disse Maduro.

A União Europeia (UE) e o Uruguai anunciaram, no domingo, a primeira reunião do grupo de contacto, para o dia 7 de fevereiro, em Montevidéu, com o objetivo de promover a organização de novas eleições na Venezuela.

A UE e oito dos seus Estados-Membros (Alemanha, Espanha, França, Itália, Portugal, Países Baixos, Reino Unido e Suécia) estão entre eles, bem como os latino-americanos Bolívia, Costa Rica, Equador e Uruguai.

Enquanto isso, vários países europeus - incluindo Portugal, Alemanha, Espanha, França, Reino Unido, Dinamarca, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, Finlandia e Suécia - também reconheceram hoje o opositor e líder da Assembleia Nacional Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela.

Apoios a Guaidó

O presidente da assembleia nacional da Venezuela, Juan Guaidó, garantiu esta segunda-feira novos apoios internacionais, após oito países da União Europeia (UE), incluindo Portugal, o terem reconhecido como presidente interino do país até à convocação de eleições presidenciais.

Estes reconhecimentos foram anunciados poucas horas depois de ter expirado o ultimato de oito dias emitido pela UE, mas sem unanimidade, para que o Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocasse eleições livres e democráticas.

Maduro tinha rejeitado a possibilidade de abandonar o poder ou de convocar novas eleições presidenciais, ao sublinhar "não aceitar ultimatos de ninguém".

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, chefe de Estado desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.

Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.

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