Líder indígena manchado por caso de violação, Paulino Paiakan morre vítima da Covid-19 - TVI

Líder indígena manchado por caso de violação, Paulino Paiakan morre vítima da Covid-19

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 19 jun 2020, 13:11

Travou uma das maiores batalhas pela conservação da Amazónia contra a barragem de Belo Monte, no rio Xingu. Em 1992, foi alvo de acusações de violação por parte de uma estudante

Paulino Paiakan, um dos maiores defensores da floresta Amazónica e chefe do povo indígena Kayapó, morreu esta quarta-feira devido a complicações resultantes de infeção por Covid-19. Tinha 65 anos.

Nos anos 80, Paulino Paiakan teve os holofotes internacionais virados para si durante a luta contra a barragem de Belo Monte, uma das maiores alguma vez construídas.

Ao lado do chefe Kayapó Raioni e do músico Sting, Paiakan chamou a atenção para o impacto da construção da barragem no rio Xingu, na Amazônia. Depois de muitos obstáculos, um projeto modificado foi construído e a operação de construção começou em 2016.

 

 

Paiakan foi uma das vozes indígenas mais importantes durante o regresso da democracia ao Brasil, na década de 1980, e ajudou a liderar a campanha pela criação de grandes reservas indígenas na Amazónia. Lutou inclusive pela expulsão de mineiros e lenhadores ilegais destas áreas protegidas.

Em 1992, Paulino Paikan esteve envolto numa controvérsia com repercussões internacionais depois de uma estudante o ter acusado de violação. Depois de um processo legal que viria a durar seis anos, Paiakan acabou por ser condenado a seis anos de prisão, tendo servido apenas uma parte do tempo em prisão domiciliária na sua casa na Reserva Indígena do Pará.

Também a sua mulher foi condenada por ter auxiliado o ataque.

Numa entrevista enquanto estava preso concedida à Folha de São Paulo, Paiakan negava ser “um explorador de mogno e ouro” e sublinhava que nunca violou ninguém.

Mogno e ouro acabaram e sobre o crime: a gente erra e procura acertar depois. Mas eu não violei”, afirmou, salientando que estava cansado do mundo dos brancos e que queria voltar a ser índio.

Também a sua mulher foi condenada por ter auxiliado o ataque.

 

 

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) reagiu à morte do chefe indígena com tristeza.

“Pai, líder e guerreiro dedicado às lutas por direitos dos povos indígenas. Seu legado deixa na história e na vida dos povos uma construção de muita força. Reconhecido internacionalmente como grande defensor da floresta e seus povos, Paiakan era uma fonte de inspiração na luta para todos nós”, afirmou a associação numa nota no site oficial.

 

 

Gert-Peter Bruch, fundador do grupo ambiental Planet Amazon (Planeta Amazónia) disse à agência de notícias AFP que o mundo perdeu um “valioso guia”.

“Trabalhou toda a vida para criar alianças internacionais para salvar a Amazónia. Estava muito à frente do seu tempo”, afirmou Gert-Peter Bruch.

 

 

Paulino, cujo nome real é Bengororoti, morre numa altura em que a Covid-19 já fez mais de 280 vítimas mortais dentro das comunidades indígenas, onde os hospitais têm poucos meios e o acesso é extremamente difícil.

 

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