Malária mata menos 30% do que há cinco anos - TVI

Malária mata menos 30% do que há cinco anos

Mosquitos

Apesar do decréscimo, em 2015 ainda morreram no mundo 429 mil pessoas devido à doença, revela o relatório anual da Organização Mundial de Saúde sobre o paludismo

A taxa de mortalidade por malária caiu quase 30% desde 2010, mas em 2015 ainda morreram no mundo 429 mil pessoas devido à doença, revela o relatório anual da Organização Mundial de Saúde sobre o paludismo, hoje divulgado.

"Fizemos progressos excelentes, mas o nosso trabalho está incompleto. Só no ano passado, o saldo global da malária atingiu os 212 milhões de casos e as 429 mil mortes", escreveu a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Margaret Chan, no prefácio do documento.

Publicado anualmente pela OMS, o relatório de 2016 conclui que a taxa de incidência (novos casos) de malária caiu 41% em todo o mundo, entre 2000 e 2015, e 21% entre 2010 e 2015.

Já a taxa de mortalidade diminuiu 62% globalmente entre 2000 e 2015 e 29% entre 2010 e 2015.

Entre as crianças com menos de cinco anos, a taxa de mortalidade terá caído 69% nos últimos 15 anos e 35% nos últimos cinco.

Ainda assim, em 2015, o paludismo matou 303 mil crianças com menos de cinco anos em todo o mundo (70% de todas as mortes).

Entre 2000 e 2015, 17 países eliminaram a malária, ou seja, estiveram pelo menos três anos sem casos indígenas da doença, e seis destes países foram certificados como livres de malária pela OMS.

Além destas, há outras boas notícias destacadas no documento, nomeadamente no diagnóstico e tratamento das crianças e mulheres da África Subsaariana, região que concentra 90% dos casos e 92% das mortes por malária.

Segundo o relatório, em 2015 mais de metade (51%) das crianças com febre que recorreram aos cuidados de saúde públicos em 22 países africanos foram sujeitas a um teste de diagnóstico de malária, quando em 2010 apenas 29% o faziam.

Também a percentagem de mulheres grávidas que receberam as três doses recomendadas de tratamento preventivo da malária aumentou cinco vezes, de 6% em 2010, para 31% em 2015.

A proporção da população em risco na África Subsaariana que dorme sob uma rede mosquiteira tratada com inseticida ou protegida por vaporização residual aumentou de 37% em 2010 para 57% em 2015.

"Estamos definitivamente a ver progressos", afirmou o diretor do Programa Global de Malária da OMS, Pedro Alonso, citado num comunicado da organização.

Contudo, o mesmo responsável alertou que "o mundo ainda está a lutar para alcançar os níveis elevados de cobertura que são necessários para vencer esta doença".

Os autores do relatório confirmam que cerca de 43% da população em risco na África Subsaariana não está ainda protegida pelos métodos primários de controlo do vetor da malária, as redes mosquiteiras e a vaporização residual e em muitos países os sistemas de saúde não têm recursos suficientes e são pouco acessíveis às pessoas mais vulneráveis.

Em 2015, 36% das crianças com febre não foram levados aos serviços de saúde em 23 países africanos.

No relatório, a diretora-geral da OMS considera "uma prioridade urgente" o aumento do financiamento dos programas de controlo da malária.

Segundo o relatório, o financiamento quase estagnou entre 2010 e 2015, ano en que totalizou 2,9 mil milhões de dólares, menos do que metade do objetivo.

"Para alcançarmos as nossas metas globais, as contribuições, tanto das fontes domésticas como internacionais, devem aumentar substancialmente, alcançando 6,4 mil milhões de dólares anuais até 2020", escreve Margaret Chan.

A malária é provocada por um parasita do género Plasmodium, que é transmitido aos seres humanos através da picada de uma fêmea do mosquito Anopheles.

Existem várias espécies, mas o Plasmodium falciparum é o mais perigoso para os humanos e o mais prevalente em África, onde se concentram 90% das mortes pela doença.

Os primeiros sintomas da malária são febre, dores de cabeça e vómitos e aparecem entre 10 e 15 dias depois da picada do mosquito, mas se não for tratada, a malária por P. falciparum pode progredir para uma fase grave e acabar por matar.

O combate à doença passa por uma diversidade de estratégias, que passam pela prevenção, através do uso de redes mosquiteiras impregnadas de inseticida e pulverização do domicílio, assim como pelo diagnóstico e tratamento dos casos confirmados com medicamentos anti-maláricos.

Ainda não existe qualquer vacina para a doença, mas a OMS anunciou no mês passado que a primeira vacina contra a doença será lançada em 2018 na África Subsaariana.

Moçambique e Angola entre os oito países com mais mortes

Moçambique e Angola estão entre os oito países com mais mortes por malária no mundo, representando juntos 7% do peso global da doença, revela também o relatório anual da OMS.

Segundo o relatório, cerca de 75% das mortes por malária em 2015 concentraram-se em 13 países, a maioria na África Subsaariana.

O país com maior peso nas mortes por malária é a Nigéria, que reúne 26% do total de mortes, seguido da República Democrática do Congo, com 10%.

A Índia, com 6%, o Mali com 5%, a Tanzânia e Moçambique com 4% cada, o Burquina Faso, Angola, Costa do Marfim, Gana, Uganda e Quénia (3% cada), e o Níger, são os restantes 11 países.

Os autores do relatório estimam que Moçambique tenha registado 8,3 milhões de novos casos em 2015 e que 15 mil pessoas tenham morrido naquele ano devido à malária.

Em 2010, o número estimado de novos casos no país era de 9,3 milhões e o total de mortos era de 18 mil.

A redução do número de casos e mortes face a 2010 poderá dever-se ao facto de mais de 60% da população moçambicana dormir hoje coberta por redes mosquiteiras tratadas com inseticida e mais de 10% protegida por vaporização residual, as duas formas mais primárias de controlo da transmissão da malária.

Em Angola, a OMS estima que tenham surgido 3,1 milhões de novos casos em 2015, contra 2,4 em 2010; e que no ano passado tenham morrido 14 mil pessoas devido à doença, número semelhante ao de 2010.

Segundo o relatório, quase 40% das pessoas em risco no país dormem protegidas por redes mosquiteiras.

Entre os países lusófonos, Cabo Verde e Timor-Leste destacam-se pela positiva, sendo dos que têm menos casos e mortes por malária: Cabo Verde terá tido menos de 50 casos e menos de 10 mortos em 2015 (contra 140 mortos e menos de 10 mortos em 2010), enquanto Timor-Leste terá registado 120 casos e menos de 10 mortos em 2015 (contra 110 mil casos e 220 mortos em 2010).

Cabo Verde é ainda destacado como um dos três países do mundo (juntamente com a Zâmbia e o Zimbabué) onde mais de 80% da população em risco dorme protegida por redes mosquiteiras ou vaporização residual.

Já em abril deste ano, a OMS incluía Cabo Verde e Timor-Leste num lote de 21 países em condições de eliminar o paludismo nos próximos cinco anos.

Nessa ocasião, a agência das Nações Unidas para a saúde, sediada em Genebra, referia-se também a São Tomé e Príncipe.

Os autores escreviam que se esperava que o país eliminasse a malária até 2025, mas admitiam que, com o financiamento adequado e vontade política, essa meta poderia ainda ser alcançada até 2020.

Hoje, o Relatório sobre a Malária 2016 estima que o arquipélago lusófono tenha registado 3.400 casos e menos de 100 mortos em 2015, contra 4.900 casos e menos de 100 mortos em 2010.

Na Guiné Equatorial, país que em 2014 aderiu à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o número estimado de novos casos subiu de 150 mil, em 2010, para 180 mil, em 2015, enquanto o total estimado de mortos se manteve nos 340.

Já quanto à Guiné-Bissau, os autores do relatório estimam que o número de novos casos tenha caído (de 170 mil para 160 mil), mas que o número de mortos tenha aumentado (de 670 para 680 nos últimos 10 anos).

No Brasil, estima o relatório, a quantidade de novos casos caiu de 440 mil para 180 mil entre 2010 e 2015, enquanto o número de mortos diminuiu de 98 para menos de 50 no mesmo período.

Ao contrário dos países africanos, onde a malária é maioritariamente provocada pelo parasita mais mortífero (Plasmodium falciparum), no Brasil, mais de 80% dos casos são causados pelo Plasmodium vivax, que provoca uma versão mais suave da doença.

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