Sete factos que precisa de saber sobre a poluição - TVI

Sete factos que precisa de saber sobre a poluição

  • Élvio Carvalho
  • 15 nov 2016, 18:42

Enquanto os líderes mundiais participam na conferência da ONU para as alterações climáticas (COP 22), em Marraquexe, Marrocos, veja quais são os efeitos dos gases de estufa na saúde e conheça quais são os países que mais contribuem para o aquecimento global

O recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu na sua conta de Twitter, em 2012, que "o conceito do aquecimento global foi criado pelos e para os chineses, para tornar a produção americana pouco competitiva." Durante a campanha que conduziu à sua eleição, Trump também prometeu várias medidas que vão contra o Acordo de Paris, que quer travar as alterações climáticas. O novo presidente é, por isso, uma sombra que paira sobre a conferência da ONU para as alterações climáticas (COP 22), que decorre em Marraquexe, Marrocos, onde se tentam encontrar medidas eficazes para travar a poluição.

Uma sombra porque a posição de Trump pode significar que os EUA, o segundo país mais poluidor do mundo, venha a ignorar o acordo mundial, abrindo a porta para uma repetição do que aconteceu com o protocolo de Quioto.

Dezenas de líderes e representantes mundiais estão em Marraquexe porque têm uma visão diferente do magnata, porque querem lutar contra as alterações climáticas e o impacto que já se sente e só vai piorar nas futuras gerações.

Para entender o que se discute na cimeira do clima e os números que estão em cima da mesa, reunimos sete factos que precisa de saber sobre a poluição.

 

1. Poluição do ar causa 5,5 milhões de mortes por ano

Um relatório elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem por base dados de 3.000 cidades de 103 países, recolhidos entre 2008 e 2015, concluiu que 80% da população está exposta a poluentes acima do nível recomendado. A poluição do ar é o maior risco ambiental para a saúde, sendo responsável por 5,5 milhões de mortes prematuras anualmente.

A baixa qualidade do ar aumenta o risco de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e de doenças cardiovasculares e respiratórias, incluindo asma. No total, a poluição do ar contribui para 5,4% de todas as mortes no mundo.

Ainda que o problema seja bastante mais acentuado em países em desenvolvimento, a OMS alerta que a poluição do ar aumentou 8% nas zonas monitorizadas, sendo que nas 3.000 cidades vivem 3,9 mil milhões de pessoas.

Vale ressalvar, porém, que mais de 50% das cidades em países desenvolvidos e mais de 33% das cidades dos países em desenvolvimento conseguiram reduzir os níveis de poluição do ar em 5% ao longo de cinco anos.

 

2. Poluição é um fator determinante na morte de 600 mil crianças

Um estudo da Unicef, divulgado em outubro, estima que cerca de 300 milhões de crianças em todo o mundo (uma em sete) respirem um ar suficientemente poluído para causar danos físicos. A poluição que pode ter consequências no desenvolvimento, incluindo no cérebro.

O diretor executivo da Unicef, Anthony Lake, acredita que a poluição atmosférica seja um fator determinante na morte de cerca de 600.00 crianças com menos de cinco anos.

 

3. O que são as PM2.5 e as PM10?

Ouvimos falar destas duas denominações quando se discutem emissões e alterações climáticas. As PM2.5 e PM10 são dois tipos de partículas (de gases poluentes) microscópicas – suficientemente pequenas para entrarem nos pulmões e na corrente sanguínea - que podem danificar o aparelho respiratório, causar mutações genéticas, entre outros problemas de saúde, e que podem levar a uma morte prematura.

As PM2.5 são as chamadas partículas finas, partículas com 2.5 micrómetros de diâmetro – ou menos - e que a OMS diz que a sua concentração não deve ultrapassar os 10 microgramas por metro cúbico de ar (µ/m3). As PM10 são partículas maiores, com 10 micrómetros ou menos, e que a OMS considera que não devem ultrapassar os 20 microgramas por metro cúbico de ar (µ/m3).

É através destes valores que a OMS verifica se um país ou cidade tem um nível de poluição acima do recomendado, para que não interfira no bem-estar dos seus habitantes.

Apesar de serem diretrizes da Organização Mundial de Saúde, estes valores não são universais. A União Europeia, por exemplo, estabelece um limite máximo de 25 µ/m3 para as PM2.5 e de 40 µ/m3 para as PM10.

 

4. As regiões do mundo com mais poluição atmosférica

Legenda: AFR – África; AMR – Américas; EMR – Este do Mediterrâneo; EUR – Europa; SEAR – Sudeste Asiático; WPR – Pacífico Oeste; World - Mundo. HI – Rendimentos Elevamos; LMI – Baixos e médios rendimentos.

O gráfico da OMS acima distribui os valores das PM10, entre 2008 e 2015, por região do globo. Esta imagem ajuda a perceber, de forma mais precisa que os mapas do ponto anterior, as diferenças entre, por exemplo, a zona a Este do Mediterrâneo e a Europa. Ajuda, também, a verificar que os países a Este do Mediterrâneo e o Sudeste Asiático representam atualmente um problema maior que África.

Pode ver o mapa interativo relativo às PM2.5 AQUI.

 

5. As cidades mais poluídas do mundo são…

A Organização Mundial de Saúde estima que 98% das cidades de países com baixos e médios rendimentos com mais de 100.000 habitantes não cumprem as metas definidas para as PM2.5 e PM10. O número baixa para 56% nas cidades de países com altos rendimentos. Tendo por base estes dados é fácil de prever que as cidades mais poluídas do mundo se encontrem em países situados fora da Europa e EUA.

No topo da lista das 20 cidades mais poluídas está Onitsha, na Nigéria, seguida de Peshawar, no Paquistão, e Zabol, no Irão.

A OMS eleborou uma lista separada para as denominadas “megacidades”, locais com uma população superior a 14 milhões de habitantes. Nesta “lista negra” surgem zonas urbanas como Deli (Delhi), na Índia, São Paulo, no Brasil, Pequim (Beijing) e Xangai (Shanghai), na China, ou o Cairo, no Egito.

No site oficial da conferência da ONU para as alterações climáticas (COP 22) está disponível uma lista dos países mais poluidores do mundo, organizados pelo total de emissões de CO2, em 2016. Entre os grandes poluidores, deixam de estar apenas os países em desenvolvimento e surgem, também, nações europeias e da América do Norte.

1. China;

2. Estados Unidos da América;

3. Índia;

4. Rússia;

5. Japão;

6. Alemanha;

7. Coreia do Sul;

8. Canadá;

9. Arábia Saudita;

10. Irão.

 

6. Como fica Portugal? E que empresas poluem mais?

Segundo os últimos dados da OMS (2014), apenas seis de doze cidades monitorizadas em Portugal ultrapassaram os limites definidos para as PM2.5: Ílhavo (15 µg/m3), Albufeira (14), Coimbra (12), Faro, Lisboa e Vila do Conde (11). No que toca às PM10, apenas Ílhavo (21) excede o limite.

Se, no entanto, nos guiarmos pelas normas da União Europeia, nenhuma das cidades portuguesas ultrapassou o número de microgramas por metro cúbico.

Que empresas contribuem mais para a poluição em Portugal? Segundo dados da agência Zero (2015), a “culpa” de grande parte das emissões está do lado das centrais a carvão. Na lista das cinco empresas mais poluentes, as centrais de Sines (EDP) e do Pego (Tejo Energia) ocupam os primeiros lugares (juntas representam quase 1/5 das emissões de CO2 em Portugal), seguindo-se a refinaria de Sines (Petrogal), a Cimpor e a transportadora aérea TAP.

 

7. A COP 22 e o Acordo de Paris

A conferência anual da ONU para as alterações climáticas (COP 22) decorre até sexta-feira e é lá que dezenas de países discutem medidas a implementar para cumprir com o Acordo de Paris – o maior entendimento a nível mundial para diminuir as emissões de gases poluentes e travar as alterações climáticas, alcançado em 2015 na capital francesa.

O Acordo de Paris foi histórico porque foi assinado por 193 países, que se comprometeram a limitar o aquecimento global a menos de 2 graus Celcius até ao final do século. O objetivo é que, à sua maneira, as nações tomem medidas para reduzir as emissões poluentes, passando, por exemplo, mas não só, por apostar em energias limpas.

Segundo afirmou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, esta terça-feira, o acordo já foi ratificado por 109 países, porém, enquanto existem nações como a França, que se mostram determinados a cumprir – François Hollande prometeu fechar todas as centrais a carvão até 2023 – outras, como os EUA (o segundo maior poluidor do mundo), deixam margem para dúvidas.

O atual presidente Barack Obama foi um dos defensores do Acordo de Paris, mas o seu sucessor, recém-eleito, Donald Trump, parece determinado em ignorar as alterações climáticas. Se Trump cumprir, seguirá os passos de George W. Bush, o antecessor de Obama, que não ratificou o Acordo de Quioto.

 

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