Seis dos 10 países com crises mais negligenciadas são africanos - TVI

Seis dos 10 países com crises mais negligenciadas são africanos

  • BM
  • 5 jun 2019, 12:23
FIFA em África (Reuters)

Os Camarões lideram a lista, segundo a associação humanitária Conselho Norueguês de Refugiados

Seis dos 10 países em crise mais negligenciados do mundo são africanos, com os Camarões a liderarem a lista, divulgou esta quarta-feira a associação humanitária Conselho Norueguês de Refugiados.

Embora a ajuda humanitária deva ser baseada nas necessidades, e apenas nas necessidades, algumas crises recebem muito mais atenção do que outras”, refere o relatório do Conselho Norueguês de Refugiados (CNR) num documento publicado hoje.

A lista divulgada coloca a zona anglófona dos Camarões no primeiro lugar, sendo a que é mais esquecida.

No ano passado, esta região do mundo não fazia parte do ‘ranking’ das 10 crises mais negligenciadas, que era liderado pela República Democrática do Congo.

Este país passou, este ano, para o segundo lugar, seguindo-se a República Centro-Africana, o Burundi e a Ucrânia.

A segunda metade desta lista é composta pela Venezuela, Mali, Líbia, Etiópia e Palestina.

Temos de acabar com esta paralisia da comunidade internacional: cada dia que passa, o ressentimento torna-se mais forte e a região está perigosamente próxima de uma guerra impiedosa”, afirmou o secretário-geral do CNR, Jan Egeland, citado no documento.

“Embora a crise nas regiões de língua inglesa dos Camarões continue, a comunidade internacional permanece passiva", acrescentou.

Os separatistas de língua inglesa nos Camarões - um país predominantemente de língua francesa – querem criar um Estado independente nas regiões Noroeste e Sudoeste.

No final de 2017, após um ano de protestos, os separatistas pegaram em armas contra Yaoundé.

Desde então, essas áreas têm sido palco de um conflito armado que continua a crescer.

A crise já deixou mais de 530 mil pessoas sem casa e deslocadas, segundo dados da ONU.

De acordo com centro de análise geopolítica International Crisis Group (ICG), os confrontos causaram, em 20 meses, 1.850 mortes.

Dos quatro milhões de pessoas afetadas pela crise da zona anglófoba dos Camarões, 1,3 milhões precisam de ajuda humanitária, mas a maior parte nunca recebeu nada.

Embora tenha sido inexistente durante muito tempo, a pressão internacional intensificou-se nos últimos meses.

No início de fevereiro, Washington encerrou vários programas militares e de segurança e o Parlamento Europeu adotou uma resolução, em meados de abril, convidando as autoridades camaronesas a "pôr fim" à violência "com urgência".

A classificação anual do CNR baseia-se em três critérios: a falta de financiamento para as necessidades humanitárias, a falta de cobertura mediática e a negligência política.

A República Democrática do Congo, que no relatório passado ocupava o primeiro lugar entre os mais negligenciados, é este ano o segundo da lista.

Centenas de milhares de congoleses foram forçados a fugir através do Lago Albert para o Uganda, em 2018, quando o conflito interétnico recomeçou no Nordeste do país”, refere o documento, lembrando que, a juntar-se aos conflitos por controlo de território e recursos – com destruição de escolas e ataques a civis – surgiu um surto de ébola em agosto de 2018 naquele país”.

Questionado as razões que levam umas crises a serem acompanhadas, quer política quer mediaticamente, pelo mundo inteiro e outras a serem “esquecidas”, o Conselho Norueguês dos Refugiados refere que “a negligência pode resultar de uma falta de interesse político” ou de “as pessoas afetadas parecerem estar demasiado longe para alguém se identificar com elas”.

O CNR pretende, por isso, sublinha a organização, “chamar a atenção das pessoas”.

Por isso, todos os anos analisa as crises que já provocaram pelo menos 200 mil deslocados e que, este ano, totalizaram 36 confrontos.

África, Médio Oriente, América do Sul e Europa de Leste são as zonas mais problemáticas, mas também mais negligenciadas, o que leva à “deterioração da situação para os civis e a um aumento dos deslocados e refugiados”, conclui.

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