Covid-19: imunidade de grupo nos EUA “é pouco provável" - TVI

Covid-19: imunidade de grupo nos EUA “é pouco provável"

  • João Guerreiro Rodrigues
  • 9 mai 2021, 17:52
Multidão em movimento

O alerta foi dado por vários especialistas norte-americanos, entre os quais o conselheiro médico da Casa Branca, Anthony Fauci, que já deixou de utilizar a expressão

Especialistas norte-americanos em saúde pública acreditam que é improvável que os Estados Unidos alcancem a imunidade de grupo, antecipando que a covid-19 vai tornar-se “uma ameaça controlada”, que circulará ao longo dos anos, continuando a causar hospitalizações e mortes, embora numa escala muito mais reduzida.

As declarações surgem numa altura em que o ritmo da campanha de vacinação no país começa a desacelerar, depois de mais de metade dos adultos nos EUA já terem sido vacinados com, pelo menos, uma dose da vacina.

É pouco provável que o vírus vá embora, mas queremos fazer todos os possíveis para que o vírus se torne numa infeção ligeira”, afirmou Rustom Antia, especialista em biologia evolucionária da Emory University, de Atlanta, em entrevista ao The New York Times.

A mudança apresenta um novo desafio para a administração Biden, uma vez que a meta da imunidade de grupo capturou o imaginário coletivo de milhões de pessoas como sendo o ponto em que tudo voltaria à normalidade. Afirmar o contrário poderá ter um efeito negativo no número de pessoas que tencionam ser vacinadas, pondo em causa um dos fatores mais importantes no combate ao vírus.

As pessoas estavam a ficar confusas e pensavam que nunca conseguiríamos baixar o número de infeções a menos que atingíssemos esse nível mágico da imunidade de grupo, seja lá o que isso for”, explicou Anthony Fauci, conselheiro médico da Casa Branca para a covid-19.

Fauci revelou que, por esse motivo, deixou de utilizar a expressão "imunidade de grupo" e passou a reforçar a ideia de que para descer o número de infeções é preciso continuar a vacinar.

É por isso que parámos de usar a expressão imunidade de grupo no sentido clássico do termo. Agora digo: esquece isso por um segundo. Se vacinarmos gente suficiente, as infeções vão começar a descer”, reforçou.

Dificuldades em atingir a imunidade de grupo

Na fase inicial da pandemia, os especialistas, incluindo Anthony Fauci, acreditavam que a imunidade de grupo seria atingida assim que 60 a 70% da população do país tivesse desenvolvido anticorpos naturais ou através da vacinação. A expetativa era de que esses números fossem atingidos no momento em que as vacinas começassem a ser administradas.

À medida que as vacinas foram desenvolvidas e o ritmo da sua distribuição começou a aumentar durante o inverno e na primavera, as estimativas do limiar necessário para atingir a imunidade de grupo começaram também elas a aumentar. O motivo deveu-se ao facto destes cálculos terem sido baseados na contagiosidade da primeira versão do vírus. Atualmente, nos Estados Unidos, a variante britânica é a predominante e esta é 60% mais transmissível do que a versão original.

Esse fator fez com que os especialistas a trabalhar para as autoridades norte-americanas revissem o limiar da imunidade de grupo para 80%.Os cientistas apontam também o facto de uma pessoa imune poder transmitir o vírus, o que faz com que o número necessário de pessoas imunes para atingir a desejada imunidade seja ainda maior.

E essa informação choca com os mais recentes dados das sondagens no país, que mostram que cerca de 30% dos americanos ainda se mostram céticos em relação a tomar a vacina contra a covid-19.

Teoricamente, é possível atingir cerca de 90% de cobertura da vacina, mas não é provável”, afirmou Marc lipsitch, um epidemiologista da Harvard T.H. Chan School of Public Health.

O que podemos esperar no futuro?

Por todos estes motivos, os especialistas sublinham que aquilo que deve guiar a avaliação do sucesso no combate ao vírus é a taxa de hospitalizações e de mortes após as restrições terem sido levantadas.

As expectativas são de que, com o contínuo aumento da vacinação no país, o coronavírus se torne sazonal, como a gripe e que passe a afetar principalmente a população mais jovem e mais saudável.

O que nós queremos é chegar a um ponto em que tenhamos apenas pequenos surtos esporádicos. Essa seria uma meta muito sensata para este país, onde temos uma excelente vacina e a capacidade de a administrar”, antecipou Carl Bergstrom, biólogo da Universidade de Washington, em Seattle.

O objetivo é fazer com que, a longo prazo, o SARS-CoV-2 se torne um parente da gripe comum. Idealmente, defendem os especialistas, a primeira infeção deste vírus deve acontecer durante a infância para que as infeções seguintes se tornem mais leves, criando uma “imunidade parcial”. Algumas pessoas poderão continuar a ter sintomas ligeiros da covid-19 ao longo de semanas, ou até meses, mas os especialistas acreditam que essa situação não deverá ser grave o suficiente para colocar em causa o sistema de saúde norte-americano.

Para que isso aconteça, as autoridades contam combater a mortalidade nos grupos mais afetados pelo vírus, ou seja, pessoas com mais de 60 anos e com algumas condições de saúde que as colocam na lista de risco. Rastreio e testagem em massa são alguns dos principais mecanismos pelos quais as autoridades de saúde planeiam combater de forma eficaz o aparecimento de um potencial surto. Essa é estratégia avançada pela equipa de Bary Pradelski, numa publicação no jornal científico The Lancet.

Penso que, neste momento, a erradicação do vírus é impossível. Mas queremos a eliminação local do SARS-CoV-2”, explicou Pradelski.

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