Covid-19: perguntas e respostas sobre a promissora vacina da Pfizer - TVI

Covid-19: perguntas e respostas sobre a promissora vacina da Pfizer

Pfizer

A vacina experimental contra a covid-19 que está a ser desenvolvida pela Pfizer e pela BioNTech demonstrou, em dados provisórios, ter uma eficácia de 90% no combate ao vírus. Se, por um lado, a comunidade científica diz que há razões para otimismo e esperança, por outro, ainda existem muitas perguntas por responder

A vacina experimental contra a covid-19 que está a ser desenvolvida pela Pfizer e pela a empresa alemã de biotecnologia BioNTech demonstrou, em dados provisórios, ter uma eficácia de 90% no combate ao vírus. A farmacêutica norte-americana acredita que vai conseguir fornecer 50 milhões de doses ainda este ano e cerca de 1,3 mil milhões até ao final de 2021. 

Se, por um lado, a comunidade científica diz que há razões para otimismo e esperança, por outro, ainda existem muitas dúvidas por responder. Os especialistas têm deixado vários alertas sobre a precocidade destes dados agora revelados: "é para estar prudentemente otimista", disse Tiago Correia, professor de Saúde Internacional do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.

Recorde-se que ainda não foi feita nenhuma publicação em qualquer revista científica.Foram apenas avaçados alguns pormenores num comunicado de imprensa, com base em 94 casos de covid-19 em participantes do ensaio clínico, dos quais 90% tomaram o placebo e 10% a vacina.

Aqui, fica um apanhado de tudo o que se sabe sobre uma das vacinas mais promissoras contra a covid-19.

Quão segura é?

Até ao momento, e de acordo com o comunicado, não surgiu “nenhuma preocupação séria ao nível da segurança”, mas continuam a ser apurados dados nesse sentido.

Em declarações ao The Guardian, Paul Hunter, professor na Universidade de East Anglia, no Reino Unido, explicou que existem alguns efeitos colaterais, como dor no braço ou febre. Ainda assim, ressalvou que estes são sintomas comuns na toma de vacinas.

Em resposta à TVI24, Tiago Correia, professor de Saúde Internacional do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, reforçou que os dados reportados não revelam infromações relativamente à segurança. 

Em todo o caso, a declaração pública da Pfizer é que ainda não foram encontrados efeitos adversos nos participantes", referiu.   

Chama ainda a atenção para o facto de que no grupo de 94 participantes infetados com SARS-CoV-2, "90% dessas pessoas tinham tomado o placebo e não a vacina. Logo, apenas 10% dessas pessoas infetadas tinham recebido as 2 doses da vacina".

Até a data, a maioria dos reguladores ao nível da saúde admitia aprovar uma vacina que fosse 50% eficaz, protegendo metade daqueles a quem fosse administrada. 

O estudo da Pfizer deverá prosseguir, pelo que há possibilidade de a taxa de eficácia se alterar. Os ensaios clínicos da fase 3 envolveram mais de 43 mil pessoas e, segundo a farmacêutica, as pessoas de minorias étnicas parecem estar tão bem protegidas quanto as restantes. 

 A vacina pode prevenir doenças graves?

Esta vacina foi desenvolvida única e exclusivamente para o combate à covid-19, mas, como já foi referido, os dados ainda não foram publicados.

Sabe-se que a vacina parou a infeção sintomática clínica (doentes com sintomas), mas ainda existem incertezas sobre a infeção assintomática (doentes sem sintomas). Contudo, os ensaios clínicos prosseguem nesse sentido.

Previne a transmissão do vírus ou só combate os sintomas?

A resposta ainda não é clara. Não se sabe ao certo se a vacina protege as pessoas de ficarem contaminadas com covid-19, se evita a transmissão do vírus, ou se apenas previne o desenvolvimento de sintomas em doentes infetados. 

Todavia, os especialistas alegam que se a vacina tem sido capaz de parar a infeção, deveria, naturalmente, evitar uma possível transmissão. 

Se tu não ficares infetado porque desenvolveste imunidade, então não me vais infetar. Mas se tu fores um doente assintomático, existe um potencial risco de me infetares, ainda que a probabilidade seja muito mais baixa do que se estivesses clinicamente infetado", clarificou o professor universitário. 

A vacina é eficaz em todas as faixas etárias?

O estudo incluiu crianças dos 12 anos para cima, até aos idosos com 85 anos, no entanto, os dados dos efeitos nas diferentes faixas etárias ainda não foram divulgados. Mas, regra geral, as vacinas não funcionam tão bem em pessoas com uma idade avançada, como funcionam com jovens. Isto explica-se com o facto de os idosos nem sempre desenvolverem uma resposta imunológica eficaz. 

Portanto, não seria surpreendente se os idosos não respondessem tão eficazmente quanto os mais jovens a esta vacina”, disse Paul Hunterm, ao The Guardian. 

Quais são os prós e contras?

Um dos contras desta vacina, e que se pode tornar num problema logístico, está relacionado com a conservação quando ela é entregue nos laboratórios. A vacina contra a covid-19 tem de estar armazenada em muito baixas temperaturas e isso pode revelar-se um problema quer da preservação, quer na distribuição. 

Em declarações à TVI24, Reynaldo Dietze, médico e professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, explicou que algumas destas vacinas que estão a ser desenvolvidas precisam de estar preservadas em ambientes de 80 graus negativos. Ora, segundo o especialista, a maior parte dos laboratórios ou serviços de saúde só têm capacidade de preservar vacinas a 20 graus negativos. 

Na mesma linha, Tiago Correia disse que este é, nesta fase, "o contra mais visível"

Na ótica do professor de saúde internacional, outro dos contra é o facto da tecnologia usada ser nova, "pelo que não há experiência do comportamento da vacina administrada em larga escala". E ainda o facto de ter de ser administrada em duas doses, o que significa que "terá que haver 2x mais doses do que pessoas para vacinar"

O principal pró acaba por ser o resultado do estudo, uma vez que "o processo científico está a ser muito rápido sem que isso comprometa os princípios éticos".

Quanto tempo dura a proteção?

A suposta eficácia de 90% foi detetada sete dias após a segunda injeção da vacina, o que pode mudar consoante a verificação dos dados a longo prazo. Isto significa que a proteção é alcançada 28 dias após o início da vacinação, uma vez que as duas doses têm um intervalo de três semanas entre si.

É razoável pensar numa vacina até ao final do ano?

Segundo a Pfizer, os resultados desta última fase de testes deverão estar concluídos até ao final de novembro e, nessa altura, vão ser submetidos aos reguladores. A farmacêutica norte-americana acredita que conseguirá fornecer 50 milhões de doses da vacina no final de 2020 e cerca de 1,3 mil milhões até ao final de 2021. 

Reynaldo Dietze alertou que os dados ainda são preliminares e, por isso, precisam de ser entendidos melhor, uma vez que só estão a ser avaliados 94 casos de covid-19 em participantes do ensaio clínico.

Precisam de uma análise científica mais apurada e de mais dados. O estudo continua e isto é preliminar. É preciso agregar mais casos a este grupo, para se perceber se 90% é 90% ou se 90% é 60%”.

Sobre a possibilidade de se ter uma vacina contra o vírus no Natal, o médico e professor considerou ser um cenário muito pouco provável. 

Muito provavelmente nós não vamos ter uma vacina que possa ser utilizada na população até ao Natal”, explicando que aquilo que se vai ter nessa altura são apenas informações preliminares e que é muito importante que a decisão de iniciar uma vacinação seja feita com base em dados mais aprofundados.

Já Tiago Correia aponta o terceiro trimestre do próximo ano, entre o carnaval e a páscoa, depois de serem revelados dados mais conclusivos, seguindo-se a fase de aprovação, produção e, por fim, a de distribuição. 

Razoável ou não, o que é certo é que a Europa já se lançou na corrida para comprar a vacina. França já garantiu 35 milhões de doses, Espanha contratou à Pfizer 10 milhões de vacinas e a Alemanha fala mesmo em 100 milhões. 

Quanto a Portugal, a diretora-geral da Saúde disse, na segunda-feira em conferência de imprensa, que a vacina da Pfizer é uma das que Portugal prevê adquirir, ao abrigo dos mecanismos europeus de distribuição das vacinas contra a covid-19.

Portugal está nos mecanimos de aquisição", disse Graça Freitas, admitindo que, se se verificar a eficácia da vacina, será "das melhores que teremos" para combater a pandemia, uma vez que "as que utilizamos atualmente nem todas têm essa eficácia"

Haverá vacina para toda a gente?

Muito provavelmente, numa primeira fase, não vai haver doses de vacinas suficientes para toda a gente. Por essa razão, vão existir grupos prioritários que vão ser primeiramente vacinados: idosos, doentes com outras patologias e profissionais de saúde. 

Como já foi referido mais acima, a vacina da Pfizer e da BioNTech obriga a que sejam administradas duas doses, o que significa que "terá que haver 2x mais doses do que pessoas para vacinar"

O que é que fica por responder?

Como foi possível verificar, os dados provisórios revelados na segunda-feira, não permitem responder a questões relacionadas com a durabilidade da imunidade, se previne a transmissão ou só combate os sintomas, se tem eficácia em todas as faixas etárias ou se consegue evitar a transmissão em pessoas assintomáticas ou com sintomatologia ligeira.

De acordo com o comunicado, este ensaio clínico vai continuar até serem detetados, no total, 164 casos de covid-19 entre os participantes, de maneira a ser possível recolher mais dados. 

Para além disso, os participantes vão ser acompanhados durante dois anos após terem sido vacinados, para que se possa perceber, a longo prazo, a segurança e a proteção da vacina. 

A TVI24 tentou contactar a Direção-geral de Saúde, mas, até à publicação deste artigo, não obteve resposta.

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