Responsável pela estratégia sueca para conter Covid-19 admite demasiadas mortes. "Há potencial para melhorar" - TVI

Responsável pela estratégia sueca para conter Covid-19 admite demasiadas mortes. "Há potencial para melhorar"

  • Bárbara Cruz
  • 3 jun 2020, 11:56
Suécia não impôs confinamento obrigatório para conter os contágios de Covid-19

País regista o maior número de mortes per capita em todo o mundo. Governo decidiu não impor confinamento e aconselhar apenas a população idosa a ficar em casa e os restantes a evitarem viagens não essenciais

Anders Tegnell, o epidemiologista responsável pela estratégia de contenção da Covid-19 na Suécia, admite que o país deveria ter feito mais para impedir os contágios do vírus e consequente mortalidade. 

De acordo com os cálculos mais recentes do Our World in Data, o número de mortes per capita na Suécia, por infeção com o novo coronavírus, é o mais alto em todo o mundo. Nos sete dias que antecederam a data de 2 de junho, a Suécia registou uma média de 5,29 mortes por milhão de habitantes, seguida do Reino Unido com 4,48, do Peru com 4,35, do Brasil com 4,34 e de Espanha, com 3,38. 

Questionado se morreram demasiadas pessoas na Suécia - que regista agora 4,468 óbitos por Covid-19 - Tegnell respondeu que sim, admitindo que, no futuro, o país terá de encontrar forma de prevenir este número elevado de mortes. 

Se voltássemos a encontrar a mesma doença, sabendo exatamente o que sabemos hoje, julgo que faríamos algo entre o que fizemos e o que fez o resto do mundo", disse o epidemiologista em entrevista a uma rádio sueca, citado pela BBC, acrescentando que há "obviamente potencial para melhorar o que fizemos". 

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Ao contrário de outros países como Portugal, que impuseram confinamento e encerraram restaurantes, escolas e grande parte do comércio, a Suécia fechou as escolas para maiores de 16 anos e proibiu ajuntamentos com mais de 50 pessoas, tendo apenas aconselhado a população a evitar viagens não essenciais e pedido aos idosos e doentes que ficassem em casa. Por não haver qualquer medida específica para lares de idosos, por exemplo, a pandemia de Covid-19 foi particularmente letal na Suécia nestas faixas etárias. 

Outros países começaram com muitas medidas ao mesmo tempo. O problema é que assim não se percebe qual das medidas tomadas foi mais eficaz", disse ainda Tegnell, admitindo que será necessário analisar de que forma é possível conter a pandemia sem impor um confinamento obrigatório.

O epidemiologista disse noutras ocasiões que a estratégia sueca para a Covid-19 não passava por atingir a imunidade de grupo mas por atrasar a velocidade dos contágios, para que o sistema de saúde conseguisse dar resposta a todos os doentes, mas estas medidas foram altamente criticadas por vários especialistas nacionais. 

Annike Linde, que foi epidemiologista chefe da Agência de Saúde Pública da Suécia antes de Tegnell, até 2013, admitiu que, inicialmente, concordou com o desenho proposto para fazer face à pandemia, mas reavaliou a posição quando a Covid-19 começou a fazer cada vez mais vítimas mortais entre os idosos. 

Esta semana, o governo sueco cedeu à pressão da oposição e comprometeu-se a constituir uma comissão para rever a estratégia contra a Covid-19, tendo lançado um inquérito à gestão da pandemia.

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