O país onde os idosos cometem crimes para evitar solidão e pobreza - TVI

O país onde os idosos cometem crimes para evitar solidão e pobreza

  • CDC
  • 31 jan 2019, 19:52
Prisão [Reuters]

Grande parte dos pensionistas prefere viver na prisão a viver em liberdade

A proporção de crimes cometidos por pessoas com idades superiores a 65 anos está a crescer em força no Japão. Na origem dos delitos está a falta de dinheiro ou a solidão e há quem tenha que ser preso para sobreviver.

Toshio Takata, de 69 anos de idade, diz que quebrou a lei para sobreviver. Começou por roubar uma bicicleta, delito que lhe custou um ano de prisão, e já chegou a ameaçar uma mulher com uma faca.

Cheguei à idade da reforma e fiquei sem dinheiro. Foi então que me ocorreu que podia viver sem custos, se vivesse na prisão”, disse Takata em entrevista à BBC.

O plano resultou. Tinha 62 anos quando decidiu infringir a lei pela primeira vez.

Roubei uma bicicleta, levei-a até à esquadra da polícia e disse a quem lá estava: olhem, roubei isto”, contou.

Da segunda vez, na esperança de que a pena fosse maior, usou uma faca para ameaçar uma mulher.

Fui a um parque e ameacei-a. Não queria fazer-lhe mal. Mostrei a faca na esperança que alguém chamasse a polícia. E chamaram”.

A pensão de Takata continua a ser paga, mesmo estando preso, pelo que consegue ir poupando para viver quando está em liberdade. No total, passou metade dos últimos oito anos na prisão.

De acordo com a BBC, em 1997, um em cada 20 crimes no Japão eram cometidos por pessoas com mais de 65 anos. Atualmente, a proporção é de um a cada cinco crimes.

Em 2016, foram condenadas 2.500 pessoas com mais de 65 anos no Japão. Cerca de um terço dessas já tinham cometido pelo menos cinco crimes anteriormente. Toshio Takata é um exemplo entre milhares.

O principal crime cometido por estas pessoas é roubo em lojas, principalmente de comida.

Segundo Michael Newman, especialista em demografia da Austrália, a pensão base dos japoneses é precária. O seu cálculo mostra que os custos de renda, somados com a comida e os cuidados de saúde, já deixa um pensionista japonês em dívida. Já na prisão, estão garantidas três refeições diárias e não há contas para pagar.

Os pais não querem ser um fardo para os seus filhos e acham que se não conseguem sobreviver com a sua pensão estatal, a única maneira é forçar a sua ida para a prisão”, referiu o especialista à BBC.

O investigador afirma ainda que as mudanças no estilo de vida das famílias japonesas tem contribuído para o aumento da criminalidade nas faixas etárias mais velhas, mas culpa os transtornos psicológicos, e não financeiros.

Kanichi Yamada, diretor de um centro de reabilitação, diz que a solidão e o isolamento são difíceis de superar, sobretudo para quem já tem alguma idade e vive sozinho. Yamada diz que é comum estas pessoas usarem a pobreza como “desculpa” para cometer crimes, quando o seu verdadeiro problema é o isolamento. Na prisão têm companhia, não estão sozinhos e é isso que procuram.

Pessoas como Toshio Takata, estão de facto sozinhas no mundo. Os pais morreram, perdeu contacto com os irmãos, separou-se das duas mulheres que teve, e não fala com nenhum dos três filhos.

Se estivessem aqui para me apoiar, eu não tinha feito isto”, disse Takata.

O governo japonês tem ampliado a capacidade das suas prisões e investiu na contratação de mais guardas prisionais, especialmente do sexo feminino, tendo em conta o aumento de crimes cometidos por mulheres mais velhas.

Tivemos que melhorar as instalações. Colocámos corrimões, lavabos adaptados. Temos aulas para criminosos mais velhos”, disse à BBC Masatsugu Yazawa, o responsável pela educação das prisões japonesas.

Toshio Takata afirma não ter mais nenhum crime preparado e também não quer voltar a infringir a lei.

Tenho quase 70 anos e vou estar velho e frágil. Não voltarei a fazê-lo”, concluiu.

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