Desastre de avião, fome e tempestade: este casal teve uma lua de mel aterradora no meio da selva - TVI

Desastre de avião, fome e tempestade: este casal teve uma lua de mel aterradora no meio da selva

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 25 dez 2020, 18:57
Desatre de avião no meio da selva

Holly e Gerald preparavam-se para a viagem mais entusiasmante das suas vidas, mas acabaram por ser testados ao limite num sítio inóspito

Holly e Gerald fizeram este ano 50 anos de casado e, como em todos os anos desde 1972, juntam-se à mesa para comer peixe, laranja e arroz. Uma tradição permanente na casa dos Fitzgerald e com um simbolismo por trás verdadeiramente dramático. 

No início da década de 70, o casal juntou dinheiro suficiente para fazer uma viagem de lua de mel de 4 meses pela América do Sul, um sonho de ambos que quase foi concretizado, não fosse um acidente de avião que os colocou à beira da morte perdidos no centro da reserva florestal Madre de Deus, no Perú.

O avião, com 13 pessoas a bordo, fez uma aterragem de emergência no meio da selva e, em entrevista à BBC, Holly lembra o susto que apanhou: "Quando o avião bateu no solo, era tudo lama. Havia uma península de água em volta e a aeronave colidiu com as árvores da floresta."

Desamparados e ainda a recuperar do acidente, o grupo atravessou um riacho a bordo de um barco a motor e começou a caminhar por um trilho lamacento até encontrar uma colónia penal, uma prisão ao ar livre e isolada do mundo.

Lá dentro, os guardas prisionais explicaram-lhes que a colónia não tinha grades porque não havia lugar algum por onde os presos pudessem fugir e aconselharam-lhes a esperar uns dias para apanharem um avião até Puerto Maldonado. O plano, conta Holly, é seguir depois para a cidade de Riberalta, apanhando um barco.

Os dias passaram e, quando a chuva acalmou, o grupo apanhou o voo ainda traumatizado pelo acidente que os havia deixado em plena luta pela sua sobrevivência. Porém, se desta vez o voo aterrou em segurança, Holly e Gerald depararam-se com outro infortúnio: o barco em direção à cidade já tinha partido.

Ficámos arrasados. Estávamos sozinhos naquela cidade pequena e era época de monções, tinha lama até ao meu tornozelo, simplesmente não era onde queríamos ficar por meses à espera de um barco", conta Holly.

Porém, um morador local deu uma alternativa: "Ele disse-me que podíamos pegar numa jangada e viajar até à cidade. Ele disse que todos os habitantes o faziam”.

O casal decidiu então construir uma jangada com quatro tarolos de madeira amarrados e uma tenda de plástico rosa em cima. Batizaram-na de Pink Palace, ou palácio rosa.

A viagem iria durar cinco dias e cinco noites para percorrer 800 quilómetros e os primeiros dias assemelharam-se a um passeio idílico. Mas a aventura deu para o torto, novamente.

Durante a quarta noite no rio, o casal foi atingido por uma forte tempestade e um trovão partiu a meio uma árvore que caiu sobre a embarcação. O tronco rasgou o plástico da tenda e atingiu Holly que ficou presa por baixo da árvore.

Na manhã seguinte, a tempestade deu lugar a um lindo dia de sol. Mas com o novo dia, veio também uma terrível constatação: a maior parte da comida que tinham havia caído no rio durante o temporal.

Não havia sobrado quase nada. Só tínhamos uma caixa com uma lata de atum, um pouco de sopa de ervilha em pó, um pouco de açúcar e café instantâneo. Era isso", enumera Holly.

O casal encontrava-se também encalhado numa planície alagada e sem terra à vista. Isolados de qualquer civilização, tornaram-se alvos fáceis para os animais selvagens que viviam na floresta.

Conseguíamos ouvir os animais durante a noite. Havia rugidos, alguns rugidos pareciam de onças. E, embora a terra estivesse submersa, sabíamos que elas podiam subir pelas árvores. Temíamos também as anacondas e os jacarés”.

Com o passar dos dias sem comer,  o casal começou rapidamente a perder peso e a ficar cada vez mais fraco.

 

Gerald a bordo da jangada construída pelo casal/ Holly Fitzgerald

 

 

No 31º. dia, Holly lembra-se que acordou e não conseguiu despertar o marido. “Achava que ele tinha morrido enquanto dormia. Estava deitado sem se mexer e eu não conseguia ouvi-lo a respirar”, conta Holly, sublinhando que chamava por ele, mas ele não respondia.

Quando ele acordou, eu comecei a chorar. Estava tão aliviada. Ele estava vivo!

Pouco tempo depois do susto, Gerald avistou dois homens que navegavam numa canoa e, usando a pouca força que lhe restava, gritou por socorro.

Os homens, nativos daquela zona do Perú, colocaram o casal na canoa e levaram-nos até à aldeia onde viviam.

Quando chegaram, Holly lembra-se de que a tribo alimentou imediatamente o casal.

 

 

O casal com os habitantes que o resgataram/ Holly Fitzgerald

 

 

Primeiro, comemos laranjas maravilhosas, chamadas laranjas de Santo Domingo e depois fizeram uma canja de galinha, peixe e um pouco de arroz”, conta, explicando que é daí que vem a mais antiga tradição do casal.

Terminava assim a lua de mel de George e de Holly que sobreviveram a cerca de dois meses de constante provação. Os dois precisaram ficar hospitalizados por 17 dias até se recuperarem totalmente.

Hoje, 50 anos depois, comemoram a aventura sem qualquer arrependimento. “É uma lembrança de tudo aquilo que podemos passar se estivermos juntos”, afirma Holly.

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