Histórias da Casa Branca: talvez o debate mais feio de sempre - TVI

Histórias da Casa Branca: talvez o debate mais feio de sempre

  • Germano Almeida
  • 10 out 2016, 10:05
Debate Hillary Clinton vs Donald Trump in St. Louis (Reuters)

Trump não foi ao tapete e só isso já foi para ele uma vitória. Menos assertiva que no primeira debate, Hillary foi, mesmo assim, eficaz a segurar a vantagem

“Não há desculpas para Donald Trump. Para os seus comentários ofensivos e repugnantes. Nenhuma mulher deverá sofrer deste tipo de comportamento inapropriado. Ele, e apenas ele, deverá carregar o fardo da sua conduta e deve sofrer as respetivas consequências", John McCain, nomeado presidencial republicano em 2008, declaração em que retira apoio formal a Trump.

 

“Lamento ter trabalhado para ele e nunca votaria nele”, Pratik Chougule, antigo coordenador político da campanha de Donald Trump.

 

“Donald Trump é vago nos assuntos e vulgar com as mulheres”, Maureen Dowd, artigo no New York Times.

 

“Estou fora. Não posso continuar a apoiá-lo”, Jason Chaffetz, congressista republicano do Utah, depois de ver e ouvir a gravação de 2005.

 

“Donald Trump não me representa, nem representa o Partido Republicano”, Carly Fiorina, antiga candidata presidencial nas primárias.

 

“Isto foi conversa de balneário”,  Donald Trump, segundo debate presidencial, a comentar o conteúdo da gravação de 2005 revelada pelo Washington Post.

 

Desta vez não houve KO (no primeiro debate, tinha sido vitória Hillary por larga margem), foi mais um duelo por pontos, em que cada candidato somou pequenos triunfos, sem conseguir deitar o adversário ao tapete.

Trump saiu-se muito melhor do que no primeiro debate, apareceu mais preparado do que se esperava e parece ter ganho balanço para, pelo menos, estancar a onda de dissidências no Partido Republicano – e só isso já é uma vitória para o nomeado do GOP.

Depois de ver a sua candidatura praticamente dada como morta, nas horas anteriores ao debate, Donald Trump mostrou que tem condições de chegar vivo a 8 de novembro. Talvez tenha sido essa a grande notícia do segundo debate, realizado em St. Louis, Missouri.

Hillary apareceu menos vigorosa e dominadora do que no primeiro debate e, tenha sido por estratégia ou mera inabilidade, a verdade é que cilindrou o rival, em definitivo, na fase em que ele estava mais vulnerável.

O caso da gravação libertada pelo Washington Post, com Donald a aparecer a falar em tons gravíssimos sobre as mulheres, colocou os republicanos em estado de choque.

Trump, mesmo com um pedido de desculpas, fez ouvidos moucos a essas opiniões e, numa fuga para a frente, preparou reação lançada minutos antes do segundo debate, expondo, em conferência de Imprensa, quatro mulheres que acusam Bill Clinton de assédio sexual (duas delas, Paula Jones e Kathleen Wiley, são nomes bem conhecidos desde os anos 90, durante a presidência Bill Clinton).

A ideia era mostrar que, enquanto ele apenas “pecou” com palavras, “Bill Clinton teve comportamentos muito mais condenáveis com mulheres e Hillary Clinton estava a par e fez ameaças a uma das dessas mulheres”.

Estava lançado o ambiente para aquele que terá sido o debate mais tenso e feio no clima gerado entre os dois candidatos presidenciais das últimas décadas na América.

Logo de início foi assim: Donald e Hillary não se cumprimentaram, ninguém deu o primeiro passo para estender a mão, abrindo assim um precedente na liturgia dos debatrs presidenciais na América.

A troca de acusações entre os candidatos foi permanente, num debate azedo, negativo, bem representativo do que tem sido esta eleição.

Quem ganhou?

De acordo com sondagem CNN, venceu Hillary, embora com diferença menor do que no primeiro debate: 57/37. Mas a mesma sondagem mostra dado relevante: 63% dos inquiridos considera que Trump se saiu melhor do era esperado. E essa será a prova da sobrevivência de Donald nesta corrida.

Por isso, e sob diferentes pontos de vista, ganharam os dois: Hillary manteve perfeitamente aberto o caminho para vitória clara a 8 de novembro; Donald selou a legitimidade da sua candidatura com características singulares, contra os princípios do próprio partido que o nomeou e acelerando no combustível anti-políticos, anti-sistema e anti-Washington.

Trump foi forte na crítica aos acordos comerciais, às revelações comprometedoras para Hillary nos emails expostos pelo Wikileaks e até na reversão do tema dos impostos (ao dizer que usou de expediente idêntico ao que foi usado por amigos e financiadores de Hillary, como Warren Buffett e George Soros).

Mas Hillary voltou a ser eficaz na menorização de Trump, acusando o adversário de não ter qualificações para ser Presidente, de não estar à altura do desafio, de não passar no teste do “fact-checking” nas questões essenciais.

Mais do mesmo nos dois campos, talvez para fixar os respetivos eleitorados, não tanto para conquistar indecisos ou roubar votos ao campo oposto.

Donald voltou a queixar-se dos moderadores, reforçou a sua veia anti-sistema, vestiu de novo a pele das primárias, de candidato zangado com "as elites". Hillary sobreveio pela preparação, puxou dos galões pelo que já fez pelas crianças, pelo sistema de saúde, pelo papel da América no mundo. 

Difícil juntar dois opositores tão diferentes. E este debate não fez muito mais do que sublinhar essa oposição.

A 19 de outubro há mais, em Las Vegas, Nevada, desta vez sob a moderação de Chris Matthews, da FOX.

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