Rússia demite quatro funcionários prisionais por alegada tortura e violação de detidos - TVI

Rússia demite quatro funcionários prisionais por alegada tortura e violação de detidos

Imagem de um dos vídeos do Gulag.net

Organização de defesa dos direitos humanos revelou imagens chocantes de tortura numa prisão em Saratov mas diz que tem provas de que a tortura e a violação acontecem de forma sistemática noutros estabelecimentos penitenciários do país

As autoridades russas despediram quatro funcionários de uma prisão em Saratov, acusados de terem violado e torturado prisioneiros.

A Organização Não Governamental (ONG) Gulagu.net afirma que recebeu centenas de denúncias de tortura sistemática em prisões russas e, esta semana, divulgou um vídeo de quase três minutos que mostra um prisioneiro a ser sexualmente abusado. Segundo o Gulagu.net, a violação ocorreu em fevereiro de 2020 numa unidade médica para prisioneiros com tuberculose num hospital penitenciário, em Saratov, no centro da Rússia.

De acordo com a Reuters, o Serviço Prisional Federal Russo (FSIN) confirmou que demitiu o diretor dessa instituição, assim como um dos seus assistentes e dois outros funcionários.

Em comunicado, o FSIN disse que foram enviados investigadores para "verificar as informações sobre a conduta errada" e alegada violência contra os prisioneiros. A autoridade acrescentou que os quatro indivíduos foram "dispensados dos seus cargos e demitidos".

Segundo a agência de notícias Interfax, na terça-feira à noite, o chefe da filial do FSIN na região de Saratov, Alexei Fedotov, terá também pedido a demissão por causa do escândalo. 

A ONG afirma que um denunciante anónimo bielorrusso enviou mais de mil vídeos com imagens de tortura na prisão, assim como fotos e outros documentos. No total, a Gulagu.net diz que tem mais de 40 gigabytes de informações. A organização garante que enviou parte desses documentos ao Comité Europeu para a Prevenção da Tortura.

O fundador do Gulagu.net, Vladimir Osechkin, disse no Facebook que os vídeos "provam" que membros do FSIN e do Serviço de Segurança Federal da Rússia (FSB) usam a violação e outras formas de tortura para forçar os presos a cooperar. 

Osechkin alega que 200 presos foram torturados e violados nas prisões russas entre janeiro de 2020 e maio deste ano, e garante que tem imagens em vídeo de pelo menos 40 casos.

"É a primeira vez que os defensores dos direitos humanos obtêm uma quantidade tão grande de documentos que provam a natureza sistémica da tortura na Rússia", disse Osechkin à AFP. "... Eles [as autoridades] têm medo de admitir a verdade em público, e a verdade é terrível porque a verdade é que os seus serviços especiais têm torturado pessoas em massa."

A ONG garantiu que, nos próximos dias, irá divulgar mais vídeos de supostos abusos na prisão nos próximos dias. 

O assunto já está a ser investigado pelas mais altas autoridades russas.

"Se a autenticidade deste material for confirmada, será motivo para uma investigação séria", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

A violência sexual é punida na Rússia com até 10 anos de prisão, o que não impede o sistema prisional do país de ser regularmente marcado por escândalos de tortura cometida por guardas. O caso mais famoso de maus-tratos dentro das prisões russas é o do dissidente Alexei Navalny.

À BBC, Tanya Lokshina, da Human Rights Watch, disse que a organização não pôde verificar a veracidade dos vídeos, mas estes "são motivo para grande preocupação". “O problema da tortura nas prisões russas é muito grave e o governo não está a fazer o suficiente para garantir uma investigação eficaz”, acusou.

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