Cleveland: especialista explica «identificação» com sequestrador - TVI

Cleveland: especialista explica «identificação» com sequestrador

Análise de psicóloga da Polícia Judiciária

Casos como os de Cleveland, em que três mulheres viveram em cativeiro durante vários anos, causam a maior perplexidade: pelo tempo que se prolongam, pelo tormento que se imagina e pela incapacidade de fuga das vítimas.

Os psicólogos explicam que muitas vezes estes longos cativerios só são possíveis porque se estabelece uma estranha e complexa relação entre os sequestradores e as vítimas. Pode parecer estranho como é que alguém demora tanto tempo a pedir ajuda, mas talvez seja humana a demora, mais humana do que aquilo que julgamos.

«Primeiro porque as vítimas era jovens, por isso tiveram de passar por um processo de crescimento, em que aprenderam a lidar com a situação. Por outro lado, muitas vezes os agressores têm estratégias de pressão e coação e de medo, que leva a que a vítima não tenha condições para o fazer. Por outro lado, as vítimas podem ter estado amarradas», analisou Cristina Soeiro, psicóloga da Polícia Judiciária.

A tudo isto junta-se outro factor humano, estranhamente humano: «Este fenómeno, em situações de sequestro ou de rapto mais curtas, pode ter o nome de síndrome de Estocolmo, que é quando a vítima começa a identificar-se com o próprio agressor. É uma estratégia de sobrevivência que permite à vítima conseguir suportar determinado tipo de pressões causadas pelo agressor. Por outro lado, o facto do agressor percepcionar a vítima como uma pessoa que até começa a identificar-se com ele, reduz também o seu padrão de comportamento mais agressivo.

No caso de Amanda Berry há ainda uma filha fruto da relação com o homem que manteve em cativeiro. «Há situações desta natureza em que a criança acaba por ser um suporte positivo e afetivo da própria mãe, algo de bom e de positivo a que ela se pode dedicar e também faz a ponte com o agressor», acrescenta a especialista.

Num momento em que Amanda quer virar a página desta década de terror, a menina de 6 anos pode ficar, para sempre, como o símbolo do medo, mas que ultrapassou graças a uma das características inatas do ser humano: o desejo de liberdade.
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