E agora Itália? Vai haver eleições antecipadas? - TVI

E agora Itália? Vai haver eleições antecipadas?

Italianos votaram em referendo uma reforma constitucional que se transformou num plebiscito ao primeiro-ministro, que anunciou a demissão. Derrota de Matteo Renzi pode agora reforçar a posição de partidos populistas e eurocéticos como a Liga Norte e o Movimento Cinco Estrelas

preocupação à volta do referendo em Itália, que vinha sendo intensificada na última semana, tinha afinal razão de ser: o “não” no referendo ganhou e o primeiro-ministro, Matteo Renzi, que queria o "sim" demitiu-se como tinha prometido. A demissão abriu uma crise política numa das mais importantes economias europeias, com sérias implicações para quem lá vive, mas também para a toda a União Europeia.

A vitória do “não” no referendo convocado pelo chefe do Governo, agora demissionário, sobre uma reforma constitucional que pretendia reduzir os poderes do Senado e dos governos regionais para fortalecer o Estado central foi pouco surpreendente.

As sondagens que anteviam a vitória do "não" davam a entender que muitos italianos "desiludidos" iam aproveitar esta votação para castigarem Matteo Renzi, os bancos, a União Europeia, movidos pelos mesmos medos que, em novembro, levaram os norte-americanos a eleger Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos da América.

A vitória de Trump há um mês foi celebrada em Itália pelo Movimento Cinco Estrelas, um partido antissistema e eurocético fundado pelo humorista Beppe Grillo em 2009 que começou por ganhar apoios com comícios contra Sílvio Berlusconi. Durante a campanha para o referendo de domingo, esse mesmo movimento acabou por se aliar à Liga Norte, um partido de direita xenófobo que também se mostrou satisfeito com a eleição de Trump.

O medo agora, com a vitória do “não” no referendo de domingo, é que a Itália vire costas à integração europeia e também à moeda única. Há quem receie que os efeitos possam ser ainda piores do que no Brexit pelo potencial de a Itália, sendo a terceira maior economia da zona euro, poder mergulhar a moeda única e toda a UE em profunda incerteza sobre o futuro.

Antes da votação, a União Europeia e os mercados estavam nervosos com a hipótese de o "não" ganhar, pela possibilidade de desencadear a chegada ao poder do Movimento Cinco Estrelas, que quer referendar a permanência de Itália no euro. Sendo que as sondagens mais recentes apontam um quase empate entre o partido antissistema e o Partido Democrático (PD, centro-esquerda) de Matteo Renzi.

Eleições antecipadas ou Governo de transição?

Mais do que o chumbo da proposta do referendo, foi Matteo Renzi, agora demissionário, o principal castigado nas urnas. Já que foi o próprio primeiro-ministro italiano que transformou o referendo num plebiscito a ele próprio e ao seu Governo, colocando em causa a continuidade do Executivo caso o “não” ganhasse.

Por isso, poderá perguntar-se se a Itália não estará neste momento numa crise política que podia ter sido evitada. Isto apesar de ainda não serem claras as intenções de Matteo Renzi, já que não esclareceu se vai sair do Partido Democrático, e de nem se saber se poderá existir uma solução política no atual quadro ou se Itália irá partir para novas eleições.

Renzi vai apresentar esta segunda-feira o pedido formal de renúncia ao Presidente Sergio Mattarella, a quem cabe decidir se aceita ou não o pedido de demissão do primeiro-ministro. O Presidente italiano tem a seu cargo a decisão de convocar eleições antecipadas ou de abrir a porta a um Governo de transição que fique em funções até às eleições de 2018, consultando os líderes dos partidos antes de nomear um novo primeiro-ministro. A acontecer desta forma, o novo primeiro-ministro será o quarto chefe sucessivo do Governo a ser nomeado sem a realização de eleições, um facto que realça a fragilidade do sistema político italiano.

Quase todos os partidos italianos são a favor de um Governo tecnocrático de transição que fique ao leme de Itália até 2018, data das próximas eleições legislativas, para impedir que o Movimento Cinco Estrelas, que fez uma campanha dura a favor da vitória do “não” no referendo italiano, capitalize nas urnas o descontentamento generalizado entre a população.

Sem surpresas, o Movimento de Beppe Grillo já está a exigir que sejam convocadas eleições antecipadas "o mais depressa possível".

“Deve votar-se o mais depressa possível. Os partidos farão de tudo para chegar a setembro de 2017 e receber 'a pensão de ouro' (parlamentar). Não permitiremos", escreveu Beppe Grillo no seu blogue, num artigo entitulado "Viva!".

A exigência de Grillo foi divulgada pouco depois de Matteo Renzi, ter anunciado a demissão e reconhecido a derrota no referendo à reforma constitucional.

Também o líder da Liga Norte, Matteo Salvini, quer eleições legislativas imediatas.

“Estamos prontos a votar o mais rapidamente possível com qualquer lei eleitoral”, afirmou citado pela AFP.

“Achamos que a Itália não se pode permitir meses de debates sobre um novo sistema eleitoral”, justificou.

 

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