A hashtag surgiu nas redes sociais depois da emissão de uma reportagem da BBC focada no drama dos refugiados, e que incluía a história de Azam, a criança que viajava com o seu tio, Khalil al-Daham, rumo ao norte da Europa. O jornalista que fez a reportagem, John Sweeney, decidiu então procurar o rapaz – uma jornada que só terminaria em Haburgo, na Alemanha, a 1.500 quilómetros do local onde o jovem desapareceu.
Sweeney conheceu Azam e o seu tio em setembro, em Preshevo, na Sérvia, pouco tempo depois de este ter sido atropelado por um carro enquanto dormia. O jornalista da BBC viu o rapaz a chorar, enquanto um médico limpava o seu maxilar partido. Foi aí a última vez que o viu, quando foi levado numa ambulância para o hospital de Belgrado.
Convencido que Azam ficaria internado durante vários dias, Sweeney foi procurá-lo apenas duas semanas depois. No hospital disseram-lhe que naquele mesmo dia, antes de completar o tratamento, a criança desapareceu com o seu tio.
Depois da emissão da reportagem, Sweeney tentou refazer os passos da criança e do seu tio, começando no último sítio onde o tinha visto, em Preshevo. O jornalista e o seu câmara espalharam cartazes, contactaram centros de refugiados e organizações humanitárias, a polícia, hospitais e partilharam intensivamente a história nas redes sociais.
Quando estavam prestes a desistir, surgiu uma pista: a polícia de Belgrado informou-os que uma informação não confirmada dizia que Azam estava, ou esteve, em Munique, na Alemanha. Os repórteres não hesitaram e partiram, porém à chegada à Alemanha enfrentaram um novo problema: como não são familiares, nem refugiados, não podem entrar nos campos onde estes estão instalados.
Novamente prestes a desistir, os repórteres britânicos seguem para o aeroporto prontos para regressar a casa. Aí têm nova sorte. Um colega da BBC Arabic, que vasculhou grupos no Facebook usados por refugiados, tinha encontrado um homem que viajou com o tio de Azam, que acabou por lhe passar a página de Facebook de Khalil.
Muitos cliques depois, encontraram uma fotografia do tio da criança publicada três minutos antes num centro comercial algures na Alemanha e uma outra do próprio Azam, já com o maxilar visivelmente melhor. Com ajuda de um colega sérvio, foram capazes de cruzar referências baseadas em elementos da fotografia. Havia um detalhe em particular que podia ajudar a encontrar a criança: a loja atrás de Khalil é uma de apenas duas em toda a Alemanha. Os dois sírios ou estavam em Munique, ou em Berlim. Analisando melhor a fotografia, acabaram por concluir que estavam em Munique.
Novamente, como já havia acontecido várias vezes, a sorte durou pouco. A foto tinha sido publicada há três minutos, mas tinha sido tirada em setembro. No entanto, alguém informou o tio de Azam que os jornalistas estavam à sua procura, e é o próprio Khalil que publica uma mensagem no seu Facebook a convidá-los para o encontrarem em Hamburgo.
Os repórteres conduziram durante sete horas até à cidade, mas Khalil deixou de atender o telemóvel. Acabaram por encontrar Azam e o tio, por “sorte” quando estavam a estacionar o carro, perto de um centro de refugiados nos subúrbios de Hamburgo.
Azam continuava com o maxilar inchado e com uma cicatriz, mas estava bem, e parecia feliz. O tio de Azam contou a Sweeney que, já na Alemanha, a criança esteve 10 dias no hospital, onde recebeu tratamento adequado para corrigir o maxilar.
Quando questionado sobre o motivo que o levou a fugir com a criança do hospital de Belgrado, o tio de Azam contou que os médicos o deixaram sair livremente. Porém, a Sweeney, o médico que o tratou na Sérvia disse ao jornalista que a criança devia ter ficado no hospital.
Porquê a Alemanha?
Naturais de Damasco, o rapaz foi entregue ao tio para ser levado para a Alemanha, de forma a receber tratamento para um ferimento num olho, resultante de um estilhaço de um bombardeamento. Porém, os pais de Azam também já não estão na Síria.
Khalil disse a Sweeney que os pais da criança já estavam na Turquia, “a caminho”, depois de terem visto as notícias feitas pelo jornalista da BBC sobre Azam.
“Não lhes dissemos o que tinha acontecido. Dissemos-lhes que ele estava bem, mas eles viram a sua reportagem sobre o Azam e o seu estado de saúde. Agora estão a caminho”.
A última informação que o jornalista recebeu dava conta que os pais de Azam já estavam no sul da Alemanha.