Embora Portugal tenha acolhido nos últimos dois meses 1.374 refugiados, continua entre os países menos desejados por estes. Daqueles que foram acolhidos no nosso país, cerca de 40% fugiram das instituições que os apoiou.
Neste dia Mundial dos Refugiados, falámos com Ilda Figueiredo, presidente do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), e ex-deputada da CDU, que, em declarações à TVI24, afirmou que "houve organizações e autarquias que se mostraram disponíveis" para acolher os refugiados,” e “em geral, houve um acolhimento razoável, embora nalguns casos tenham sido enviados muito para o interior, o que desagradou a alguns”."
Apesar de Portugal acolher e apoiar alguns refugiados, “não são tantos como aqueles que o governo declarou aceitar”, acrescentou.
Chegar a um país novo e integrar-se nem sempre é fácil e Ilda Figueiredo considera que as principais dificuldades são "a língua e a falta de emprego”. Além das dificuldades que os espera, os refugiados são muitas vezes alvo de discriminação. Sobre isto, a líder do CPPC refere que as coisas estão a melhorar e a mudar ao longo do tempo. Atualmente “a situação é mais positiva”.
"Em nome do CPPC, tenho participado em muitos debates e posso afirmar que há maior compreensão e solidariedade com os refugiados”. No entanto, existem ainda “incompreensões, que esquecem que já houve muitos portugueses refugiados da Guerra Colonial e que há milhões de emigrantes portugueses em muitos países a precisarem também da solidariedade dos outros povos”, clarifica Ilda Figueiredo.
Muitos dos refugiados que fogem dos seus países de origem são crianças e jovens que, quando chegam aos países que os acolhem, pretendem integrar-se da melhor forma possível. Sobre isto, a líder do CPPC revelou que “há muitos jovens a estudar cá [em Portugal], designadamente em universidades do norte do país”. No entanto, existem diversas situações, “uns isolam-se e outros, pelo contrário, integram-se bem”.
O número de refugiados está a aumentar a olhos vistos e a ex-deputada da CDU admite que este aumento drástico se justifica pela “intensificação das guerras, sobretudo no Médio Oriente e em África”. E aponta “a destruição da Líbia pelas tropas da NATO, a sua participação juntamente com os EUA e os seus aliados da União Europeia e de países como a Arábia Saudita e Israel na manutenção da guerra na Síria, a ocupação do Iraque e Afeganistão, as ingerências em diversos países de África, como Mali, República Centro Africana”, como sendo as principais razões para este crescimento.
Ao olhar para o panorama mundial e para a crise humanitária sem precedentes que o mundo atravessa, Ilda Figueiredo afirma que essa crise “tem causas e responsáveis: são as guerras e quem as provoca. É sobretudo após a invasão do Iraque pelos EUA e seus aliados, utilizando como argumento uma mentira (a existência de armas de destruição massiva, que nunca apareceram, porque era mentira) que se intensificou o drama dos milhões de deslocados e dos refugiados, embora houvesse nos países do Médio Oriente alguns milhões de refugiados após a ocupação por Israel de parte da Palestina e da Síria“.
Portugal: um país acolhedor mas indesejado
Portugal é o quarto país europeu que mais refugiados acolhe, seguindo-se a França, a Alemanha e a Holanda. Nos últimos dois meses, duplicou o número de refugiados recolocados em Portugal, num total de 1.374. De acordo com a Lusa, o nosso país comprometeu-se a aceitar 2.951 refugiados elegíveis para concessão de asilo, listados na Grécia e na Itália.
Apesar de ser um país acolhedor, de ter organizado campanhas e movimentos de solidariedade e de ter enviado voluntários independentes para os países afetados, Portugal não é um destino preferencial dos refugiados, segundo o ministro-adjunto da República Portuguesa, Eduardo Cabrita.
Em 2016, num total de 1255 refugiados, 474 destes deixaram as instituições que os acolheram, o que equivale a quase 40%.
Para celebrar este dia, o Conselho Português para os Refugiados irá, pela primeira vez, “prestar uma homenagem às autarquias do país e às equipas que colaboram com a nossa organização na procura de soluções dignas de acolhimento e integração dos refugiados em Portugal. No Dia Mundial do Refugiado, 20 de junho, celebra-se a resiliência e a coragem de mais de 65 milhões de pessoas que foram forçadas a fugir da guerra, da perseguição e da violência, mas também se reconhece o papel da sociedade portuguesa que, solidariamente, acolhe refugiados, oferecendo-lhes um lugar seguro nas suas comunidades, recebendo-os nas suas escolas e nos seus locais de trabalho", pode-se ler numa nota enviada pelo CPR à agência Lusa.