Interior de Portugal “desagradou” a refugiados - TVI

Interior de Portugal “desagradou” a refugiados

  • Rafaela Berteotti | Susana Oliveira
  • 20 jun 2017, 10:04

Apesar de Portugal ser um país acolhedor, cerca de 40% dos refugiados que vieram fugiram das instituições que os acolheram

Embora Portugal tenha acolhido nos últimos dois meses 1.374 refugiados, continua entre os países menos desejados por estes. Daqueles que foram acolhidos no nosso país, cerca de 40% fugiram das instituições que os apoiou.

Neste dia Mundial dos Refugiados, falámos com Ilda Figueiredo, presidente do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), e ex-deputada da CDU, que, em declarações à TVI24, afirmou que "houve organizações e autarquias que se mostraram disponíveis" para acolher os refugiados,” e “em geral, houve um acolhimento razoável, embora nalguns casos tenham sido enviados muito para o interior, o que desagradou a alguns”."

Apesar de Portugal acolher e apoiar alguns refugiados, “não são tantos como aqueles que o governo declarou aceitar”, acrescentou.

Chegar a um país novo e integrar-se nem sempre é fácil e Ilda Figueiredo considera que as principais dificuldades são "a língua e a falta de emprego”. Além das dificuldades que os espera, os refugiados são muitas vezes alvo de discriminação. Sobre isto, a líder do CPPC refere que as coisas estão a melhorar e a mudar ao longo do tempo. Atualmente “a situação é mais positiva”.

"Em nome do CPPC, tenho participado em muitos debates e posso afirmar que há maior compreensão e solidariedade com os refugiados”. No entanto, existem ainda “incompreensões, que esquecem que já houve muitos portugueses refugiados da Guerra Colonial e que há milhões de emigrantes portugueses em muitos países a precisarem também da solidariedade dos outros povos”, clarifica Ilda Figueiredo. 

Muitos dos refugiados que fogem dos seus países de origem são crianças e jovens que, quando chegam aos países que os acolhem, pretendem integrar-se da melhor forma possível. Sobre isto, a líder do CPPC revelou que “há muitos jovens a estudar cá [em Portugal], designadamente em universidades do norte do país”. No entanto, existem diversas situações, “uns isolam-se e outros, pelo contrário, integram-se bem”.

O número de refugiados está a aumentar a olhos vistos e a ex-deputada da CDU admite que este aumento drástico se justifica pela “intensificação das guerras, sobretudo no Médio Oriente e em África”. E aponta “a destruição da Líbia pelas tropas da NATO, a sua participação juntamente com os EUA e os seus aliados da União Europeia e de países como a Arábia Saudita e Israel na manutenção da guerra na Síria, a ocupação do Iraque e Afeganistão, as ingerências em diversos países de África, como Mali, República Centro Africana”, como sendo as principais razões para este crescimento.

Ao olhar para o panorama mundial e para a crise humanitária sem precedentes que o mundo atravessa, Ilda Figueiredo afirma que essa crise “tem causas e responsáveis: são as guerras e quem as provoca. É sobretudo após a invasão do Iraque pelos EUA e seus aliados, utilizando como argumento uma mentira (a existência de armas de destruição massiva, que nunca apareceram, porque era mentira) que se intensificou o drama dos milhões de deslocados e dos refugiados, embora houvesse nos países do Médio Oriente alguns milhões de refugiados após a ocupação por Israel de parte da Palestina e da Síria“.

Portugal: um país acolhedor mas indesejado

Portugal é o quarto país europeu que mais refugiados acolhe, seguindo-se a França, a Alemanha e a Holanda. Nos últimos dois meses, duplicou o número de refugiados recolocados em Portugal, num total de 1.374. De acordo com a Lusa, o nosso país comprometeu-se a aceitar 2.951 refugiados elegíveis para concessão de asilo, listados na Grécia e na Itália.

Apesar de ser um país acolhedor, de ter organizado campanhas e movimentos de solidariedade e de ter enviado voluntários independentes para os países afetados, Portugal não é um destino preferencial dos refugiados, segundo o ministro-adjunto da República Portuguesa, Eduardo Cabrita.

Em 2016, num total de 1255 refugiados, 474 destes deixaram as instituições que os acolheram, o que equivale a quase 40%.

Para celebrar este dia, o Conselho Português para os Refugiados irá, pela primeira vez, “prestar uma homenagem às autarquias do país e às equipas que colaboram com a nossa organização na procura de soluções dignas de acolhimento e integração dos refugiados em Portugal. No Dia Mundial do Refugiado, 20 de junho, celebra-se a resiliência e a coragem de mais de 65 milhões de pessoas que foram forçadas a fugir da guerra, da perseguição e da violência, mas também se reconhece o papel da sociedade portuguesa que, solidariamente, acolhe refugiados, oferecendo-lhes um lugar seguro nas suas comunidades, recebendo-os nas suas escolas e nos seus locais de trabalho", pode-se ler numa nota enviada pelo CPR à agência Lusa.

 

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