Brexit: “Haverá consequências para toda a gente”, diz Michel Barnier - TVI

Brexit: “Haverá consequências para toda a gente”, diz Michel Barnier

  • CE
  • 6 nov 2019, 07:50
Michel Barnier

O negociador-chefe da União Europeia para o Brexit assegurou que a saída do Reino Unido só pode ser resumida com a expressão ‘lose-lose’, uma situação em que todos perdem

O negociador-chefe da União Europeia para o Brexit, Michel Barnier, assegurou que a saída do Reino Unido só pode ser resumida com a expressão ‘lose-lose’, uma situação em que todos perdem, porque “haverá consequências para toda a gente”.

Em duas palavras, desde logo, o Brexit é ‘lose-lose’. Portanto não posso dizer que seja outra coisa”, disse Barnier em entrevista à Lusa.

Para o chefe da equipa europeia que negociou o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, as consequências do Brexit são, “infelizmente”, “um enfraquecimento” da União.

Lamentamos e respeitamos esta escolha dos britânicos. Queremos pô-la em prática de maneira ordenada e depois construir uma relação ambiciosa e equilibrada […], mas infelizmente nunca poderá ser ‘business as usual’”, explicou.

Segundo Barnier, a lista de domínios que serão afetados pelo ‘Brexit’ é longa: “Haverá controlos [aduaneiros], talvez tarifas, consequências para os cidadãos”.

Os direitos sociais, de residência, já estão protegidos no acordo assinado entre Londres e Bruxelas e abrangem os próprios e respetivas famílias até ao fim das suas vidas, explicou.

Mas depois do final de 2020 [quando termina o período de transição], vai ser diferente para os cidadãos que forem de um lado para o outro”, disse, evocando “uma política de imigração do Reino Unido que não” se conhece, o fim da liberdade de circulação, ou os efeitos do “câmbio da libra para a poupança, para o turismo”.

 

Haverá consequências para toda a gente”, assegurou.

E depois, salientou, “há as lições do Brexit”.

Porque é que 52% dos britânicos votaram contra a Europa? Sem dúvida por razões estritamente britânicas, que pertencem à vida política, mas também lições para toda a gente sobre um sentimento popular de que a Europa não protege o suficiente, que não defende o suficiente”, referiu.

Michel Barnier sublinhou que “é preciso não confundir esse sentimento popular com o populismo”, que o “usa e explora”, mas antes “responder e ouvir esse sentimento popular”.

Para isso, defende, são necessárias “novas políticas no plano da indústria, da autonomia da soberania europeia, da proteção, em certos casos, da defesa, do controlo dos fluxos migratórios”.

É a urgência dos cinco próximos anos. Ursula von der Leyen [a presidente eleita da Comissão Europeia], Elisa Ferreira [a comissária nomeada por Portugal], sabem que é a sua tarefa. E é um debate de ideias e um debate de propostas no qual participarei”, disse.

“Elisa Ferreira será uma voz muito forte como comissária”

Michel Barnier afirmou que a futura comissária de Portugal “será uma voz muito forte” em Bruxelas, sendo “uma mulher muito respeitada, estimada e competente ao nível europeu”.

Numa entrevista à agência Lusa, Barnier disse que conhece muito bem e há longos anos Elisa Ferreira.

É formidável que ela [Elisa Ferreira] esteja em breve na Comissão Europeia e não o digo para agradar, mas porque trabalhei muito com ela a propósito dos serviços financeiros”, afirmou o negociador-chefe do acordo sobre o Brexit, que partilha com ela o facto de, em tempos passados, ter ocupado a mesma pasta na Comissão, da política regional e coesão e que – disse – “o apaixonou”.

Considerando-se um “enamorado de Portugal” e com ótimas relações com os portugueses, Michel Barnier referiu-se a António Vitorino, com quem trabalhou sobre a reforma das instituições europeias durante cinco anos, e ainda a Carlos Moedas, por quem tem “muita estima”, destacou.

Em Portugal, sinto-me como se estivesse em casa”, disse o chefe do novo grupo de trabalho da União, que destacou a “vigilância” colocada pelos parceiros sociais relativamente às futuras relações com o Reino Unido.

Michel Barnier, que veio a Portugal para participar na Web Summit, encontrou-se terça-feira com alguns parceiros sociais, e destacou que, nessa reunião, vários lhe disseram que “era necessário um acordo futuro sobre livre troca com o Reino Unido, mas que tinha de ser acompanhado por um acordo de boa conduta sobre condições equitativas recíprocas”.

Todos os parceiros sociais foram convidados para a reunião com o negociador europeu, mas estiveram presentes apenas os representantes da UGT e CGTP, do Conselho Económico e Social, Confederações do Turismo, Agricultura, Comércio e Serviços, e Indústria.

Terça-feira ainda, Barnier esteve com o líder do PSD, Rui Rio, e a presidente do grupo parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes. Esta quarta-feira, encontra-se com o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e o primeiro-ministro, António Costa.

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