A primeira-ministra britânica anunciou eleições legislativas antecipadas para o dia 8 de junho, numa altura em que já foi acionado o artigo 50º, que dá formalmente início ao Brexit. É precisamente para que o processo não se comprometa, dada a oposição político-partidária que está a enfrentar, que Theresa May tomou esta decisão.
Numa curta declaração à porta do número 10 de Downing Street, May disse que quando se tornou primeira-ministra o país necessitava de estabilidade e que ela conseguiu devolver essa estabilidade ao país, cumprindo o que se esperava depois do resultado do referendo para o Reino Unido sair da União Europeia.
E este é um caminho sem retorno, frisou. Mas é um caminho que precisa de eleições agora, porque outros partidos estão contra os planos do seu governo para as negociações do Brexit. O que o seu executivo pretende é que o Reino Unido recupere o controlo das suas leis e fronteiras.
Esta é a abordagem certa, mas os outros partidos opõem-se. Deve haver unidade em Westminster. Mas não há".
O Partido Trabalhista ameaçou votar contra o acordo final. Os democratas liberais querem paralisar os negócios parlamentares. O SNP (Partido Nacional Escocês) também se opõe.
Ora, Theresa May assume que não está preparada para permitir que os seus oponentes comprometam as negociações do Brexit. Por isso é que, se não houvesse eleições agora, o jogo de forças continuaria.
Desafia, por isso, os partidos da oposição a aceitar eleições antecipadas, para deixarem o povo decidir. É com "relutância" que toma a decisão, mas ao mesmo tempo mostra-se "determinada" a lutar pela vitória e pela "liderança forte" que o país precisa.
Vamos remover o risco de incerteza e instabilidade".
Aprovação certa no parlamento
Será já amanhã que a primeira-ministra britânica irá apresentar à câmara dos Comuns a sua proposta para que o sufrágio ocorra já no próximo dia 8 de junho. Daqui a menos de dois meses, portanto.
Entretanto, os trabalhistas receberam com agrado o anúncio da primeira-ministra britânica, pelo que a aprovação no parlamento é certa.
I welcome the PM’s decision to give the British people the chance to vote for a government that will put the interests of the majority first pic.twitter.com/9P3X6A2Zpw
— Jeremy Corbyn MP (@jeremycorbyn) 18 de abril de 2017
Para conseguir convocar já eleições, May precisa de uma maioria de dois terços na Câmara dos Comuns, ou seja, 434 deputados. Com os conservadores (330 deputados) e os trabalhistas (229) conseguirá.
Não sem contestação. A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, acusou a chefe do governo britânico de querer impor um Brexit duro com as eleições antecipadas e pediu aos eleitores daquela região para “defenderem” a Escócia nas próximas eleições.
The Tories see a chance to move the UK to the right, force through a hard Brexit and impose deeper cuts. Let's stand up for Scotland. #GE17
— Nicola Sturgeon (@NicolaSturgeon) 18 de abril de 2017
UE não vê problema
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, já veio dizer, através do seu porta-voz, que as eleições antecipadas em nada alterarão os planos de Bruxelas para as negociações sobre o Brexit.
“As eleições britânicas em nada alteram os nossos planos de uma União Europeia a 27”, disse à AFP Preben Aaman, porta-voz de Tusk.
As negociações sobre os termos do ‘divórcio’ entre o Reino Unido e a UE deverão arrancar em finais de maio.
Reviravolta face a outros discursos
Até aqui, o que se ouvia da boca da primeira-ministra britânica era que eleições antecipadas, sob a sua liderança, nem pensar. Ainda há um mês disse que "não iria acontecer".
Logo desde que substituiu David Cameron à frente do Governo assumia essa posição. Disse-o a 30 de junho do ano passado, poucos dias depois do referendo.
Em setembro, a mesma coisa, na primeira grande entrevista depois de tomar posse."Não vou estar a convocar eleições antecipadas. Tenho sido muito clara. Acho que precisamos desse período de tempo, dessa estabilidade, para poder lidar com as questões que o país está a enfrentar e ter eleições em 2020".
Poucos meses depois, na mensagem natalícia que dirigiu aos britânicos, pedia unidade e afastou da agenda a possibilidade de um sufrágio. Admitia, porém, que o referendo "revelou algumas divisões adicionais", mas ao mesmo tempo sublinhou: "Estamos muito mais unidos e temos muito mais em comum do que aquilo que nos divide". A lembrar Rui Veloso, mas à inglesa.
A posição de Portugal
O Presidente da República português considera que o mais importante é que as negociações sobre o Brexit corram bem, sublinhando que se é importante mais legitimidade, a decisão de realizar eleições antecipadas no Reino-Unido é uma boa notícia.
"O fundamental é que corram bem as negociações, quer para o Reino Unido quer para a União Europeia".