Tailândia: os sete fatores chave que mantiveram vivos os 13 jovens na gruta - TVI

Tailândia: os sete fatores chave que mantiveram vivos os 13 jovens na gruta

  • AFO
  • 12 jul 2018, 12:45

Os 13 jovens ficaram encurralados durante nove dias na gruta, sem ninguém saber se estariam vivos ou mortos. Os últimos a serem resgatados estiveram mais oito dias confinados

Um treinador de futebol  e 12 dos seus jogadores sobreviveram nove dias seguidos presos dentro da gruta de Tham Luang Nang Non, no norte da Tailândia. Estiveram nove dias desaparecidos, sem ninguém saber se estavam vivos ou mortos. Durante esse tempo e até serem descobertos, sobreviveram com escassos mantimentos que tinham levado na mochila e apenas com a água existente no local.

Mas como é possível 12 crianças e um adulto sobreviverem durante nove dias, sem contacto com o exterior, completamente às escuras, quase sem alimentos e só com a água da chuva? E mesmo depois de encontrados, como sobreviver mais oito dias em condições adversas, sem saberem quando, como e se iriam ser resgatados?

De acordo com especialistas, houve fatores cruciais para esta sobrevivência estóica. 

1 - Um aniversário

A razão que os levou à gruta foi também um dos principais fatores que terá ajudado a mantê-los vivos até serem descobertos. Naquele dia, Pheeraphat Sompiengjai, conhecido como Night, quis comemorar os seus 17 anos com os seus colegas de equipa e o treinador.

Decidiram passear pelas grutas, onde acabaram por ficar presos por causa das cheias.  

De acordo com a BBC, foi a celebração do aniversário que os levou a comprar uns snacks para comemorar e que acabaram por ser a única fonte de alimentação durante os nove dias. Não se sabe exatamente como é que esta pequena quantidade de comida foi suficiente, mas o certo é que os ajudou.

Foi noticiado também que o treinador, Ekapol Chantawong, chegou a recusar comer para deixar mais para os 12 adolescentes. Por isso, era também dos mais fracos do grupo quando foram encontrados. 

2 - A água que escorria pelas paredes da gruta

Os especialistas estimam que o ser humano consegue ficar sem comer por um período de 30 a 45 dias, mas o mesmo não acontece se estiver privado de água.

Neste caso, terão sido então as gotas de água que escorriam nas paredes da gruta que se tornaram essenciais na sobrevivência dos 13 jovens.

3- Alimentação depois de terem sido encontrados

A partir do dia 2 de julho, a nutrição dos 13 jovens foi acompanhada por profissionais. Começaram a receber "alimentos especiais, de fácil digestão e mais calóricos, com vitaminas e minerais, sob a supervisão de um médico", segundo informou o almirante Arpakorn Yuukongkaew, comandante da Marinha Tailandesa.

Ainda assim, quando saíram da gruta, cada jovem tinha perdido em média dois quilos. 

4 - Meditação

De acordo com os mergulhadores e especialistas ouvidos pela BBC, o treinador foi mais do que uma vez indicado como um pilar fundamental para o êxito desta operação. Como ex-monge budista, apostou na meditação para manter calmos os 12 adolescentes, que estiveram às escuras e, durante os primeiros nove dias, sem saberem sequer se havia uma operação em curso.

Quando foram encontrados, aparentavam, estar calmos. O treinador conseguiu fazê-los "esquecer" da escuridão onde viviam. 

Este exercício terá sido também crucial para manterem a esperança, já depois de os mergulhadores os terem encontrado e enquanto aguardavam o resgate.

5 - Fornecimento de oxigénio

No momento em que ficaram presos, a perda de ar não era das maiores preocupações. No entanto, à medida que os dias iam passando também o nível de oxigénio na gruta foi caindo. Dos 21% normalmente registados, o nível de oxigénio foi reduzido para cerca de 15%.

Foi crucial o fornecimento de botijas de ar comprimido, levadas por mergulhadores, enquanto, fora da gruta, se discutiam planos e táticas de resgate.

Nesta luta contra todas as adversidades, um mergulhador da Marinha tailandesa morreu. Saman Gunan tinha ido levar uma reserva de oxigénio para o interior da gruta e na viagem de regresso, faltou-lhe precisamente o oxigénio e perdeu a consciência.

6 - As cartas trocadas com os pais

Quando os socorristas chegaram e perceberam que os 13 estavam vivos, a preocupação passou por dar oportunidade das próprias crianças comunicarem com os pais. A ideia inicial era instalar um sistema de comunicação que permitisse chamadas telefónicas ou mesmo videoconferência. Mas esta hipótese acabou por sair gorada e os mergulhadores acabaram por levar para dentro da gruta cartas dos familiares e trazer bilhetes escritos pelas crianças.

Também foi nas cartas que se conseguiu perceber que o bem-estar dos 12 jogadores era, definitivamente, a principal preocupação do treinador. Pediu desculpa aos pais por os ter posto naquele local. Na carta que o próprio escreveu ainda se pode ler: 

Prometi que cuidaria das crianças da melhor forma que eu pudesse."

Mas a maioria dos pais respondeu dizendo que não o culpavam.

7 - A câmara nove

Os médicos já mostraram surpresa pelo estado de saúde de todos eles, uma vez que as condições às quais estavam submetidos seriam suficientes para fazer piorar a condição física e mental de qualquer ser humano.

Estavam em boas condições e não estavam stressados. A maioria deles perdeu dois quilos", disse Thongchai Lertwilairattanapong, inspetor do departamento de saúde da Tailândia. 

A escolha do local onde ficaram à espera de ajuda, a já conhecida câmara nove, foi fundamental. 

A temperatura do sítio onde estavam permitiu que o ambiente fosse fresco e as perdas de água fossem menores e, por isso, os corpos conseguiram manter o equilíbrio hídrico. 

Até aos meses de setembro ou outubro, as grutas de Tham Luang Nang Non estão regularmente inundadas, e a temperatura no interior ronda os 15 graus. Ou seja, apesar de ser um ambiente mais fresco que o exterior, as crianças não correram o risco de hipotermia. 

Obviamente eles estão muito fracos, mas estão todos vivos. Eles ficaram sentados num pedaço de rocha, num espaço reduzido, durante quase 10 dias, então isto é realmente um milagre", disse  um dos membros da equipa de resgate Ben Reymenants, à BBC

Reymenants explicou que o lugar onde se encontravam tem uma temperatura relativamente quente, de cerca de 26ºC, o que evitou uma possível hipotermia, um dos principais riscos quando se fica preso numa área como esta. .

Tendo em conta as condições, pode-se até afirmar que saíram com bom estado de saúde, e apenas três deles apresentavam arranhões e feridas. Os especialistas acreditam que isto só foi possível porque tiveram sorte na escolha do lugar para aguardar o resgate.

O mundo acompanhou o drama que terminou na terça-feira, com o resgate bem-sucedido de todo o grupo do complexo de cavernas Tham Luang, na Tailândia. 

Continue a ler esta notícia