Sudão morreu quando já não conseguia ficar de pé - TVI

Sudão morreu quando já não conseguia ficar de pé

Rinoceronte-branco do norte tornou-se numa celebridade que chegou a ter conta no Tinder. Era o último macho da espécie e morreu esta segunda-feira

Era o último macho de pé. Sudão, o rinoceronte-branco do norte único no mundo morreu, esta segunda-feira, depois de já não conseguir erguer-se, anunciou a reserva natural onde vivia. O rinoceronte que era uma estrela mundial com conta no Tinder foi morto depois de muito sofrer e de deixar um legado único na luta pela extinção. A sobrevivência da espécie é agora o desafio do futuro.

É com grande tristeza que anunciamos que Sudão, o último rinoceronte-branco do norte macho, com 45 anos, morreu na reserva natural, no Quénia, a 19 de março de 2018”, diz o comunicado da organização de proteção da vida animal OI Pejeta Conservacy.

Sudão enfrentava várias patologias relacionadas com a idade, nomeadamente, a degeneração de músculos e ossos e extensas feridas na pele que levaram a várias infeções. Para evitar prolongar o sofrimento do animal, a equipa de veterinários que o acompanhava, e depois de piorar nas últimas 24 horas, tomou a decisão difícil de o matar. Sudão, o último macho de pé morreu precisamente quando deixou de conseguir levantar-se.  

A reserva natural onde habitava afirma que o rinoceronte-branco vai ser relembrado pela sua vida pouco habitual. Depois de ter nascido em 1973, no Sudão e ter escapado à extinção, foi levado com dois anos para um Jardim Zoológico, na República Checa. 

“Ao longo da sua existência, contribuiu significativamente para a sobrevivência da espécie ao criar duas fêmeas”, adianta o mesmo comunicado.

A sobrevivência da espécie é, aliás, agora a principal preocupação. Para mitigar o fim, o material genético de Sudão foi recolhido no próprio dia da morte na esperança de que, no futuro, com o avanço da tecnologia celular seja possível reproduzir rinocerontes brancos do norte.

Durante os últimos anos, Sudão, o rinoceronte que se tornou famoso e amado por muitos, sobretudo depois de uma fotografia em que surge guardado por três homens armados se ter tornado viral, tentou prolongar a espécie e por isso voltou, em 2009, para África. Os quenianos tomaram medidas para o salvar. Sudão viveu com transmissores de rádio e GPS e o chifre foi-lhe retirado para desincentivar os caçadores que cobiçam o valioso marfim.

Sudão, que perdeu dois dos últimos companheiros machos em 2014, tentou, sem sucesso, procriar com as últimas duas fêmeas: a filha e neta. Apesar das tentativas, tornou-se claro em 2015 que não havia interesse feminino em Sudão. Afinal, o velho rinoceronte tinha perto de 90 anos em idade humana.  

Nós na Ol Pejeta estamos todos tristes com a morte de Sudão. Ele foi um grande embaixador da sua espécie e irá ser lembrado pelo trabalho que fez para trazer consciência global não só para a situação que a própria espécie atravessava, mas também para outras”, lê-se.

Em 2015, tudo voltou a mudar. Ringo, uma cria abandonada de rinoceronte-branco foi colocado junto a Sudão. A energia da “criança” trouxe um novo fôlego ao velho animal que acompanhava o crescimento do rinocerante bebé como um "tio protetor". Tragicamente, em 2016 a cria morreu e o efeito em Sudão foi evidente.

Apesar dos seus tratadores e visitantes lhe darem muita atenção. Ele simplesmente não era o mesmo. Sentia realmente a falta da pequena criatura feliz com quem se tinha tornado amigo nos últimos seis meses.”

Habituado a sobreviver, Sudão voltou a resistir e aos poucos tornou-se amigo dos cavalos que estavam no estábulo ao seu lado. 

Em abril de 2017, Sudão voltou a ser notícia. Chegou ao Tinder. A plataforma de encontros acolheu o “solteiro mais elegível do mundo” como mote de uma campanha de angariação de fundos para apoiar a reabilitação de Sudão, e as técnicas de fertilidade, que conseguiu 85 mil dólares.

Sudão foi visitado por Presidentes, empresários e as mais diversas personalidades que viajavam de todo o mundo para ver o rinoceronte mais famoso do mundo e que colocou a extinção das espécies nas bocas do mundo. 

Em 1960, havia mais de dois mil rinocerontes-brancos do norte no mundo.

Hoje não há nenhum macho. 

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