EUA anunciam unilateralmente "regresso" das sanções da ONU contra o Irão - TVI

EUA anunciam unilateralmente "regresso" das sanções da ONU contra o Irão

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  • CM - notícia atualizada às 12:44
  • 20 set 2020, 08:52
Mike Pompeo

Medidas norte-americanas serão anunciadas "nos próximos dias". Restantes potências mundiais com direito de veto no Conselho de Segurança não aprovaram decisão de Washington

Os Estados Unidos anunciaram unilateralmente que as sanções da ONU contra o Irão estão novamente em vigor e prometeram punir qualquer violação, num gesto que poderá aumentar o isolamento de Washington, mas também as tensões internacionais.

Os Estados Unidos saúdam o regresso de quase todas as sanções da ONU contra a República Islâmica do Irão anteriormente levantadas", declarou o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, em comunicado.

Mike Pompeo indicou que estas medidas punitivas estão "novamente em vigor" a partir das 20:00 de sábado (01:00 em Lisboa).

Se os Estados-membros da ONU não cumprirem as suas obrigações para aplicar estas sanções, os Estados Unidos estão prontos a utilizar mecanismos próprios para punir estas falhas", advertiu Pompeo.

Estas medidas norte-americanas contra "aqueles que violem as sanções da ONU" serão anunciadas "nos próximos dias", prometeu.

Em agosto, Washington deu início a um procedimento na ONU para restabelecer todas as sanções internacionais contra o Irão, criadas com o acordo nuclear de 2015, com o argumento de que Teerão não cumpriu as obrigações estabelecidas.

As restantes potências mundiais, além dos Estados Unidos, com direito de veto no Conselho de Segurança, como a China e a Rússia, mas também os aliados europeus de Washington contestaram a declaração da administração Trump e consideraram que Washington não tem o direito de usar aquele mecanismo por ter abandonado o pacto com o Irão em 2018.

"Qualquer decisão ou medida tomada na intenção de restabelecer as sanções não terá qualquer efeito jurídico", responderam antecipadamente a França, o Reino Unido e a Alemanha, numa carta conjunta enviada na sexta-feira à presidência do órgão.

A Alemanha não integra o Conselho de Segurança da ONU, mas participou nas negociações do acordo nuclear de 2015 com o Irão.

Berlim, Paris e Londres refutam decisão de Washington

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, França e Reino Unido refutaram hoje a decisão unilateral dos Estados Unidos de restabelecer todas as sanções internacionais contra o Irão, alegando que Washington abandonou o pacto nuclear com Teerão.

Os Estados Unidos "retiraram-se do acordo em 8 de maio de 2018, pelo que já não fazem parte deste mecanismo", afirmaram os três ministros num comunicado conjunto.

As decisões ou medidas que (os Estados Unidos) possam adotar em relação a este processo não têm qualquer efeito jurídico. Mantemos o nosso objetivo de manter a autoridade e integridade do conselho de segurança da ONU", dizem os ministros dos três países no comunicado, onde também expressam o empenho no acordo nuclear com o Irão.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo também denunciou hoje a declaração unilateral dos Estados Unidos de que as sanções da ONU contra Teerão estavam de novo em vigor, sublinhando que as reivindicações de Washington não tinham base legal.

"As iniciativas e ações ilegítimas dos Estados Unidos não podem, por definição, ter consequências jurídicas internacionais para outros países", disse o ministério num comunicado.

A Rússia, um aliado chave do Irão, acusou Washington de fazer uma "representação teatral" e salientou que as declarações dos Estados Unidos "não correspondem à realidade".

Irão sublinha “isolamento” de Washington

O Irão alertou hoje para o “isolamento” dos Estados Unidos após a proclamação unilateral de retorno das sanções da ONU e a promessa de punir aqueles que as violarem, rejeitada por vários países que participaram no acordo nuclear.

O mundo inteiro diz que nada aconteceu. Apenas aconteceu no mundo imaginário" do secretário de Estado americano Mike Pompeo, reagiu hoje Saeed Khatibzadeh, porta-voz do ministério das Relações Exteriores iraniano, em conferência de Imprensa.

Acreditando que Washington estava "isolado" e "do lado errado da história", Khatibzadeh sugeriu que os Estados Unidos "voltem à comunidade internacional, (respeitem) seus compromissos, parem de se revoltar e o mundo vai aceitá-los".

O desafio dos americanos ao resto do mundo corre o risco de aumentar as tensões internacionais, quando Donald Trump ameaça pôr em prática um sistema de chamadas sanções secundárias para punir qualquer país ou entidade que viole essas sanções.

 

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