Brexit: Portugal trabalha para um acordo, mas prepara todos os cenários - TVI

Brexit: Portugal trabalha para um acordo, mas prepara todos os cenários

  • LCM com LUSA
  • 16 out 2018, 13:50
Augusto Santos Silva

Augusto Santos Silva falava no final da reunião plenária da Comissão Permanente de Concertação Social, que foi hoje presidida pelo primeiro-ministro, António Costa

O ministro dos Negócios Estrangeiros português disse hoje que Portugal “trabalha em Bruxelas e em Londres” para que haja um acordo sobre o ‘Brexit’, realçando, no entanto, que Lisboa também está a preparar-se para todos os cenários possíveis.

Augusto Santos Silva falava no final da reunião plenária da Comissão Permanente de Concertação Social, que foi hoje presidida pelo primeiro-ministro, António Costa, e dedicada em exclusivo à discussão do Conselho Europeu de quarta-feira, da Cimeira do Euro e do ‘Brexit’ (processo de saída do Reino Unido da União Europeia).

Nós trabalhamos em Bruxelas e em Londres para que haja acordo, mas estamos preparados para todos os cenários, incluindo o cenário de não acordo”, disse o chefe da diplomacia portuguesa em declarações aos jornalistas, após uma reunião de cerca de duas horas com os parceiros sociais.

“Temos trabalhado consistentemente com muitos outros Estados-membros para que seja possível um acordo e cremos que é possível chegar a acordo e é desejável”, reforçou.

Salientando as “sugestões muito importantes” colocadas pelos parceiros sociais na reunião de hoje, Santos Silva lembrou que Portugal está particularmente interessado no processo do ‘Brexit’, nomeadamente por causa dos muitos cidadãos portugueses residentes no Reino Unido e pelas relações económicas “muito estreitas” entre os dois países.

“Basta pensar que o Reino Unido é o nosso quarto cliente comercial, é o nosso primeiro cliente no setor dos serviços, é o primeiro mercado emissor de turistas para Portugal e é o nosso oitavo fornecedor. Para perceber quão densa é a relação económica entre os dois países”, realçou.

Sobre os direitos dos cidadãos, “que era a preocupação número um de Portugal”, Santos Silva afirmou que estes “não suscitam hoje nenhuma dificuldade” nem constituem hoje motivo de preocupação.

“O que está já acertado entre as partes relativamente aos direitos dos cidadãos é totalmente satisfatório. Garante os direitos dos cidadãos portugueses, juntamente com os outros europeus residentes hoje no Reino Unido, naqueles que chegarem ao Reino Unido até ao fim de 2020, e garante naturalmente também os direitos dos cidadãos britânicos residentes em Portugal ou em outro país da UE”, indicou.

O chefe da diplomacia portuguesa recordou ainda as palavras da própria primeira-ministra britânica, Theresa May, que deu a garantia que mesmo perante um cenário de não acordo os direitos dos cidadãos serão respeitados.

“E nós faremos naturalmente o mesmo”, frisou.

Quanto às atividades económicas, o ministro referiu que o executivo português está a preparar-se para “mitigar os efeitos negativos” do ‘Brexit’.

A par dos ajustes administrativos e legislativos necessários, Santos Silva realçou a importância de trabalhar em conjunto com as empresas, as associações empresariais e com as associações sindicais, para que todos “vejam em concreto quais são as dificuldades principais, os setores e as regiões que precisarão de mais apoio”.

“Esse trabalho fino está a fazer-se”, referiu o ministro.

Depois de reuniões com as maiores empresas exportadoras para o Reino Unido e encontros com agentes económicos, Santos Silva avançou que até ao próximo mês de novembro vão decorrer uma série de encontros setoriais.

Estes encontros setoriais arrancam na quarta-feira em Leiria e vão abranger quatro setores: Moda e Têxtil, Alimentação, Automóvel e Saúde.

“Vamos examinar setor a setor, quais são as dificuldades principais e onde devemos intervir cirurgicamente. E o mesmo se diz sobre o impacto sobre os trabalhadores”, afirmou ainda.

As negociações entre o Reino Unido e a UE chegaram a um novo impasse neste fim de semana, dois dias antes do início, na quarta-feira, de um Conselho Europeu dedicado ao tema, devido à questão da fronteira entre a Irlanda e a província britânica da Irlanda do Norte.

O Reino Unido vai deixar a UE em 29 de março de 2019, dois anos após o lançamento oficial do processo de saída, e quase três anos depois do referendo de 23 de junho de 2016 que viu 52% dos britânicos votarem a favor do 'Brexit'.

 

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