Zika: há bebés "aparentemente normais" que nascem sem microcefalia - TVI

Zika: há bebés "aparentemente normais" que nascem sem microcefalia

Microcefalia poderá não ser consequência direta do zika

Investigação levada a cabo no Brasil revela que um em cada cinco recém-nascidos afetados pelo vírus, classificados como normais, tinham na verdade algum tipo de problema ao nível cerebral

Uma investigação levada a cabo no Brasil, país muito afetado pelo vírus zika, conclui que a microcefalia pode não afetar alguns bebés em casos de infeção pelo vírus zika e alerta para a necessidade de expansão do rastreio. Embora alguns bebés estudados não apresentassem anomalias no perímetro da cabeça, um estudo da Universidade Federal de Polatas, divulgado na publicação Lancet, mostrou que um quinto dos bebés classificados como normais, na verdade, tinha algum tipo de problema ao nível cerebral.

Outro estudo brasileiro, também publicado na Lancet em junho, realizado por médicos da Fundação Altino Ventura, do Hospital dos Olhos de Pernambuco e do Instituto da Visão da Universidade Federal de São Paulo, confirmou um caso de um bebé sem microcefalia, mas com lesões neurológicas e oculares graves pelo vírus

O mosquito Aedes aegypti é identificado como o principal propagador do vírus

 

As recentes conclusões alertam para a falta de assistência aos bebés que não apresentem microcefalia. Quando este sintoma não se verifica, só um rastreio mais aprofundado poderá dar sinais da existência do vírus.

Foram estudados 1.500 recém-nascidos suspeitos de microcefalia, até fevereiro. Concluiu-se que o risco pode ser maior do que o esperado.

O último estudo faz referência a uma criança que nasceu às 38 semanas de gestação. Com 3,5 kg e perímetro cefálico de 33 cm – considerado normal. Contudo, apresentou outras lesões características do vírus, às quais os investigadores já dão o nome de Síndrome Congénito do Zika.

A extensão da doença é muito maior. Não dá para excluir o zika só porque a microcefalia não está presente. Isso piora muito o problema", disse à BBC Brasil o oftalmologista Rubens Belfort, da Universidade Federal de São Paulo, um dos responsáveis pelo estudo.

Desde o nascimento, o bebé apresentou espasmos musculares nos braços e pernas. Exames feitos com recurso a imagem mostraram calcificações no seu cérebro - cicatrizes causadas por infecções, que impedem o desenvolvimento cerebral.

Imagem mostra calcificações no cérebro que impedem o seu desenvolvimento. Foto: Lancet

Nos exames oftalmológicos, os médicos também encontraram lesões oculares semelhantes às encontradas em bebés com microcefalia.

Os nossos resultados sugerem que, entre as gestações afetadas pela infecção do zika, alguns fetos vão ter alterações cerebrais e microcefalia, outros vão ter alterações cerebrais e o perímetro cefálico normal, enquanto outros não serão afetados,” afirmou César Victora, professor da Universidade Federal de Pelotas, à BBC Brasil.

 

Um sistema de vigilância destinado a detetar todos os casos de recém-nascidos afetados pela zika não pode concentrar-se apenas na microcefalia e na irritação cutânea (das mães, sintoma mais comum da doença), e o exame de todos os recém-nascidos durante as ondas de epidemia deve ser considerado", acrescentou o epidemiologista.

O levantamento incluiu todos os casos suspeitos de microcefalia registados no Brasil até fevereiro (5.909) e, desse total, foram reavaliados 1.501 casos de crianças nascidas vivas (27%) que já haviam sido totalmente investigados. Essas crianças foram, posteriormente,  divididas em cinco categorias de acordo com a certeza do diagnóstico de infecção Zika: definitiva, altamente provável, moderadamente provável, pouco provável e rejeitados (não considerados zika). A reavaliação mostrou que pelo menos 100 casos examinados apresentavam alterações neurológicas consistentes com os efeitos da infecção por Zika, ainda que as crianças não apresentassem características de microcefalia. 

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que "está a investigar todos os casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central informados pelos Estados, e a possível relação com o vírus Zika e outras infecções congénitas".

 

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