Bulgária nomeia Kristalina Georgieva candidata a secretária-geral da ONU - TVI

Bulgária nomeia Kristalina Georgieva candidata a secretária-geral da ONU

Nomeação acontece após Irina Bokova ter caído nas preferências na última votação secreta, que deu a quinta vitória consecutiva a António Guterres. Bruxelas já libertou a comissária Georgieva e promete manter uma imparcialidade cristalina

O Governo búlgaro nomeou, esta quarta-feira, a comissária Europeia Kristalina Georgieva para substituir Irina Bokova na corrida ao cargo de secretária-geral da ONU, que o português António Guterres lidera.

Segundo a Agência Reuters, a nomeação acontece depois de Irina Bokova ter caído nas preferências na última votação secreta, que deu a quinta vitória consecutiva a Guterres.

O anuncio foi feito pelo primeiro-ministro Boiko Borisov, que acredita que a Comissária Europeia tem maiores hipóteses de conseguir chegar ao cargo.

Consideramos que esta nomeação terá melhor sucesso”, disse Borisov.

Com o apoio de Merkel

A candidatura de Georgieva, que é proposta já com cinco votações realizadas entre os membros do Conselho de Segurança, tem sido apresentada como um desejo da chanceler alemã, Angela Merkel. Terá, contudo, a oposição firme da Rússia, o que já levou a troca de acusações entre Moscovo e Berlim.

Na recente cimeira do G20, a chanceler terá feito trabalho de bastidores, de forma a promover a candidatura de Kristalina Georgieva. Moscovo denunciou o caso, com críticas da parte de uma porta-voz do Ministério dos Negócios estrangeiros russo, segundo a qual, o presidente russo, Vladimir Putin, comunicara a Angela Merkel que "a nomeação de um candidato para o cargo de secretário-geral da ONU é um decisão soberana de um pais e qualquer tentativa de influenciar essa decisão direta ou indiretamente é inaceitável".

A forte oposição da Rússia, que tem poder de veto no Conselho de Segurança, ao nome de Georgieva, pode vir a tornar-se um apoio a Guterres, segundo círculos diplomáticos. Sendo certo que, com a candidatura a meio da corrida, a búlgara se torna a maior adversária do ex-ministro português na pretensão de substituir Ban Ki-moon.

Além da Alemanha, Kristalina Georgieva poderá ter também o apoio de alguns países do leste da Europa e mesmo da Comissão Europeia. O chefe de gabinete do presidente Juncker foi um dos que há semanas expressou o seu agrado com a possível candidatura.

A 10 de setembro, Martin Selmayr partilhou no Twitter uma notícia que dava conta da nomeação de Georgieva e escreveu que "seria uma grande perda" para a União Europeia, mas que a Búlgara "seria uma forte secretária-geral da ONU, faria muitos europeus orgulhosos" e seria um "sinal forte" para a igualdade de género.

Bruxelas liberta Georgieva

Já na manhã desta quarta-feira, o presidente da Comissão Europeia decidiu libertar a sua vice-presidente, concedendo-lhe uma licença sem vencimento para que possa concorrer ao cargo de secretária-geral da ONU.

Durante este período, Kristalina Georgieva e a Comissão Europeia assegurarão uma separação estrita entre atividades relacionadas com a sua candidatura e o seu trabalho como membro do colégio, de uma forma absolutamente transparente", afirmou o porta-voz Margaritis Schinas. 

Bruxelas promete assim manter-se agora equidistante face à anunciada candidatura de Georgieva, que a Bulgária fez avançar em substituição da . 

A Bulgária mudou a sua candidata ao cargo de secretário-geral da ONU, substituindoa diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova.

Economista e comissária

Kristalina Georgieva tem 63 anos. É economista. Estudou na sua Bulgária natal e completou os seus estudos académicos em Londres e nos Estados Unidos.

Há seis anos foi escolhida para comissária europeia da Proteção Civil e Ajuda Humanitária. Com a presidência do luxemburguês Jean-Claude Juncker, Georgieva subiu na hierarquia. Assumiu a pasta do Orçamento e Recursos Humanos e chegoua vice-presidente da Comissão Europeia.

Para dia 4 de outubro está marcada mais uma votação no seio do Conselho de Segurança. Será a sexta, sendo que Guterres foi claramente o preferido nas cinco anteriores.

Na próxima votação, deverá então ser revelado o sentido do voto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra, cada qual com o poder de vetar qualquer decisão ou escolha de todos os quinze países que compõem atualmente o grupo.

Cinco votações, cinco vitórias

O ex-primeiro-ministro António Guterres, que já desempenhou o cargo na ONU, de alto-comissário para os Refugiados, venceu destacado as cinco primeiras votações no Conselho de Segurança da ONU, que aconteceram a 21 de julho, 5 de agosto, 29 de agosto, 9 de setembro e 26 de setembro.

Na última ronda, Guterres teve 12 votos "encoraja", dois "desencoraja" e um "sem opinião", precisamente o mesmo resultado da votação anterior.

Em segundo lugar, ficou o sérvio Vuk Jeremic, mas com apenas oito votos de encorajamento, seis "desencoraja" e um "sem opinião.

A próxima votação, prevista para 5 de outubro, é mais importante devido à possibilidade de veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China) a qualquer candidato, incluindo Guterres. 

O nome do próximo secretário-geral da ONU deverá ser anunciado durante o próximo mês e a decisão do Conselho será, em seguida, ratificada pela Assembleia-geral das Nações Unidas.

Neste momento, o lugar de secretário-geral da ONU é disputado por 9 candidatos, quatro deles mulheres.

Ao longo de todo o processo para a escolha do sucessor de Ban Ki-Moon têm surgido influências e lobbys a favor da eleição de um representante da Europa de leste ou de uma mulher. Georgieva tem esses dois fatores a seu favor, mas tem contado com a animosidade da Rússia.

A eleição de uma mulher ou de uma personalidade do leste da Europa seria inédito nas Nações Unidas, que tiveram até hoje oito homens como secretário-geral.

Na escolha do líder da ONU, assim que um candidato reunir nove votos entre os 15 países membros e aprovação de todos os membros permanentes - China, França, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos - o conselho recomendará o seu nome para aprovação pela Assembleia-Geral da ONU, que reúne representantes de 193 países.

A ONU espera encontrar durante este outono o sucessor de Ban Ki-moon, que termina o seu segundo mandato no final do ano.

 

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