Crianças órfãs e feridas sobrevivem ao último reduto do Estado Islâmico - TVI

Crianças órfãs e feridas sobrevivem ao último reduto do Estado Islâmico

"Eu tinha dois irmãos e uma irmã. Todos eles morreram e eu fiquei sozinho". Hareth Najem tinha 11 anos quando o grupo jihadista montou o seu califado no Iraque e na Síria. Viveu cinco anos de terror, perdeu a família. Ele e muitos outros menores, que ficarão para sempre com as marcas, no corpo, na cabeça e no coração

Uma criança ferida, sozinha, a deambular, com fome, com pressa de fugir. Órfã, só quer sobreviver. O retrato é de Haret Najem e é também o de tantas outras crianças sírias e iraquianas que viveram, nos últimos anos, o terror do Estado Islâmico.

A história de Hareth é contada agora pela Reuters. Tem 16 anos. Tinha 11 quando o grupo jihadista tomou Iraque e Síria. Este rapaz viveu um inferno nos últimos cinco anos. Milhares de pessoas morreram. Ele sobreviveu, mas só agora conseguiu fugir, do último reduto que ainda resta. 

A família do órfão iraquiano morreu há dois anos, em ataques aéreos na fronteira da região de al-Qaim. O rapaz fica com as lágrimas dos olhos ao falar dos seus, que perdeu para sempre.

Eu tinha dois irmãos e uma irmã. Todos eles morreram e eu fiquei sozinho. A minha irmãzinha... Eu amava-a muito. Costumava levá-la comigo para o mercado".

Era nesse mercado que a família fazia vida, tinha a sua banca. De repente, com a invasão dos extremistas, tudo mudou. Tudo acabou. Hareth conversa deitado num camião de gado. Ao seu lado, tem outro menino ferido, o rosto coberto por terra, a cabeça com adesivos.

Caiu-lhe o mundo dos homens maus em cima

Depois de a sua família ter sido morta num bombardeamento aéreo, ele foi para Síria com outros iraquianos que temiam que as milícias xiitas que avançavam contra o EI se vingassem dos sunitas.

Eles fizeram discursos nas mesquitas, jihad e tudo o mais. Eu estava com medo deles. Toda a minha família morreu por causa deles.

Nega ter frequentado as suas escolas ou recebido treino militar. Conta que foi chicoteado.

Quando chegou à Síria, trabalhou num campo em troca de um quarto para dormir. Tentou poupar dinheiro suficiente para voltar a casa, mas foi barrado pelos jihadistas. 

Acabou ferido, na semana passada, quando um projétil caiu perto de onde estava, na zona do rio Eufrates. Ficou com ferimentos na orelha, na mão e no estômago. 

A esperança vive em olhos tristes

Quer receber a assistência médica de que precisa e, assim que puder, regressar a casa. Ainda alimenta esse desejo. 

Quero ir procurá-los ... Quando eu melhorar e o meu corpo se recuperar, quando eu puder andar. Eu quero voltar, tornar-me novamente um jovem, voltar a construir o meu futuro".

Haret Najem e o menino ferido que está a seu lado, no camião de gado integram o grupo de crianças retiradas na última semana de Al Baguz, o último pedaço de terra ainda sob o controlo dos jihadistas. Ontem, a Coligação Internacional liderada pelos Estados Unidos anunciou o ataque final contra o Daesh, precisamente naquela cidade. 

Só na última semana, 20 crianças fizeram a pé o caminho para a liberdade que tanto aspiram, entre iraquianos, sírios, turcos e indonésios. 

Muitas foram escravizadas pelos jihadistas, sobretudo aquelas que fazem parte da minoria yazidi. Muitas assistiram à morte dos pais, ou à sua detenção e nunca mais os viram. Há também menores estrangeiros que vieram com os pais para se aliarem ao EI.

Por isso é que todos são investigados quando há evacuações. As autoridades precisam de saber se têm ligações com o grupo extremista (e quando têm os adultos são detidos), ou se são vítimas, pessoas no lugar errado à hora errada, com uma falta de sorte atroz, em tão tenra idade. 

Estas crianças não têm ninguém. Precisam de alguém para cuidar delas, para lhes dar suporte, apoio psicológico".

O comandante das Forças Democráticas Síria, Adnan Afrin, confessou à Reuters que muitos passam fome há muito tempo. O plano mais premente é entregar essas crianças a grupos de ajuda. 

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