E vão três. Depois das cidades de Cannes e de Villeneuve-Loubet, na riviera francesa, o caldo entornou-se agora na praia de Sisco, no norte da ilha francesa da Córsega, perto de Bastia. No fim de semana, a presença de mulheres muçulmanas no areal, vestindo os chamados burkinis - fatos de banho integrais que deixam apenas o rosto descoberto - esteve na origem de desacatos que ainda não estão completamente sanados.
Tudo começou com um homem muçulmano a acusar um turista de ter fotografado a sua mulher. Palavra puxa palavra, houve quem puxasse também de facas e arpões de pesca e a rixa provocou quatro feridos com gravidade, entre os quais uma mulher grávida.
Quatro pessoas feridas, entre as quais uma grávida, foram levadas para o centro hospitalar de Bastia. Três veículos foram incendiados, provocando grandes perturbações na circulação e um início de um incêndio florestal rapidamente circunscrito", foi o balanço feito em comunicado pelo ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve.
Domingo, populares corsos manifestaram-se na cidade de Bastia, exigindo medidas. A solução da autarquia de Sisco foi a de seguir os passos das cidades continentais de Cannes e Villeneuve-Loubet e proibir os burkinis na praia.
Não há nada de racismo, trata-se apenas de assegurar a segurança das pessoas", é o testemunho do presidente da câmara de Sisco, Ange-Pierre Vivoni, o primeiro autarca socialista a tomar a decisão de proibir os burkinis.
Manifestações propagam-se
Desde domingo, as manifestações têm-se sucedido no norte da Córsega. Segundo a imprensa, as centenas que procuraram satisfações frente à câmara de Bastia nesse mesmo dia, não ficando contentes com as respostas, dirigiram-se para o bairro Lupino, onde reside uma forte comunidade muçulmana.
Nas redes de comunicação na internet, pequenos filmes têm mostrado várias manifestações de populares corsos, conhecidos por um forte sentimento comunitário e até bairrista, em que se grita "Árabes fora!".
#France #Corsica:
— 私は小さなクルド人です (@JPY_Kurdish) August 16, 2016
After the 1st battle between #migrants and locals, #Sisco rally chants "Arabi Fora!" (#Arabs Out!) pic.twitter.com/pp55dQ2WeL
Burkinis da discórdia
O uso dos burkinis por algumas mulheres muçulmanas tem vindo a aquecer o verão, tanto nas praias, quanto na sociedade francesa. O governo, pela sua parte, tem delegado a permissão ou proibição nas autarquias, apesar de dar sinais de não gostar da moda.
É a versão de praia da burka porque segue a mesma lógica de tapar o corpo das mulheres para melhor as controlar. Não é apenas algop que só diz respeito às mulheres que usam, porque é um símbolo de um projeto político que é hostil à diversidade e à emancipação da mulher", são palavras da ministra Laurence Rossignol, em entrevista ao jornal Le Parisien.
Se o governo francês não toma uma posição global, até porque não é proibido usar símbolos e indumentárias religiosas, mas apenas tapar a cara em público, de acordo com a lei introduzida em 2010, alguns autarcas não estiveram pelos ajustes. Em Cannes, David Lisnard, de centro direita, foi o primeiro a banir os burkinis da praia.
Roupa de praia que ostensivamente mostra uma conotação religiosa, quando a França e outros locais são alvo de ataques terroristas, é passível de criar riscos de alteração da ordem pública que é necessário prevenir", sustentou o presidente de Cannes.
Em oposição à decisão de proibir os burkinis nas praias, já tomada por três cidades francesas, tem estado a associação Coletivo contra a Islamofobia em França. Ameaça recorrer aos tribunais para revogar as proibições, considerando estarem em causa direitos fundamentais.
Em reação à decisão do autarca de Cannes, a organização lembra que equiparar todos os símbolos muçulmanos ao terrorismo irá criar tensões.
Temos de lembrar o presidente da câmara que 30 das vítimas do ataque em Nice eram muçulmanas, porque o terrorismo atinge-nos a todos indiscriminadamente", sustenta a organização no seu site na internet.