O Brasil em casa, sem Neymar mas com as expectativas altas. A Argentina e Lionel Messi à procura de um título que teima em fugir. O Chile com ambição mas longe da euforia do bicampeonato de há três anos, a Colômbia a sonhar com Carlos Queiroz ao leme, o Uruguai assente na sua solidez lendária, mais as outras cinco seleções sul-americanas e dois convidados do Oriente a participar na festa. Está aí a Copa América, a competição de seleções principais mais antiga do mundo, sempre promessa de futebol, talento e paixão. E volta a ter, como de costume, vários «portugueses» em ação.
O palco é o Brasil, cinco cidades e seis estádios para três semanas de competição: dois em São Paulo, o Morumbi e a Arena Corinthians, depois o Maracanã, no Rio de Janeiro, o Mineirão em Belo Horizonte, a Arena do Grêmio em Porto Alegre e a Arena Fonte Nova em Salvador. O pontapé de saída é no Morumbi, palco do jogo de abertura entre o Brasil e a Bolívia na madrugada de sexta-feira para sábado (01h30 de Portugal continental), a final no Maracanã, a 7 de julho. São três grupos, passam aos quartos de final os dois primeiros e os dois melhores terceiros.
É a quinta vez que o Brasil organiza a Copa América e sempre que foi anfitrião saiu como vencedor. Um dado mais a reforçar a ambição da Seleção canarinha, que tem ao todo oito vitórias na competição, mas por outro lado não vence há mais de uma década, desde 2007. Foi o último título internacional do escrete, que procura voltar às vitórias e deixar melhor imagem do que a que ficou do Mundial 2018, quando caiu nos quartos de final. Já depois da convocatória final o Brasil perdeu Neymar, descartado por lesão no meio de muito ruído em torno de uma acusação de violação. É sem a estrela maior e com uma equipa renovada, na qual restam apenas 13 dos jogadores que estiveram no Mundial 2018, que Tite espera levar o Brasil a festejar, num grupo onde, além da Bolívia, tem por adversários o Peru e a Venezuela.
A pressão do Brasil e da Argentina de Messi
A pressão está do lado do Brasil, mas não só. A Argentina, a outra grande potência do continente, tem uma longa história de expectativas goradas. Não vence a Copa América há 26 anos, desde então perdeu quatro finais, três delas com Lionel Messi em campo. Além da final do Mundial 2014. A pressão sobre Messi na seleção é enorme, uma relação intensa ao longo de 14 anos que já o levou a admitir abandonar, mas que o faz voltar e ter como ponto de honra vencer com a camisola celeste. Desta vez tem de novo ao seu lado o velho companheiro Sergio Aguero, que reconhece isso mesmo, o desejo de ganhar por Leo. «Estou mais entusiasmado em tentar ganhar pelo Leo do que por mim próprio, porque ele joga há tanto tempo e sofreu tanto. Sempre que converso com ele, dizemos que temos de rezar para que um dia resulte para nós. É o que ele quer e o que todos queremos», disse Aguero por estes dias em entrevista à Fox Sports. Depois da desilusão no Mundial 2018, uma fase de grupos sofrida e uma despedida nos oitavos sob o comando de Jorge Sampaoli, a Argentina assumiu a necessidade de mudança. O selecionador é Lionel Scaloni, que chegou a jogar ao lado de Messi na seleção, numa equipa técnica jovem e com vários antigos internacionais, incluindo Pablo Aimar, a orientar uma seleção também em transição: restam apenas nove dos jogadores que foram ao Mundial 2018.
Queiroz, os «portugueses» e os convidados
A Argentina é a segunda seleção com melhor palmarés na Copa América, 14 títulos contra 15 do Uruguai. Que volta a apresentar-se com as suas armas de sempre, feitas de experiência e solidez e reforçadas com a capacidade letal de Luis Suarez e Edinson Cavani, lá na frente. Depois há o Chile, que venceu as duas últimas edições - as únicas vitórias da sua história - que depois disso falhou a qualificação para o Mundial 2018, mas chega também entre os candidatos. E a Colômbia, que apostou na experiência de Carlos Queiroz, um treinador português a lutar pelo título de campeão sul-americano à frente de uma equipa com muito potencial, com alguns jovens e outros nomes consagrados como Cuadrado, Jamez Rodriguez ou Radamel Falcao.
A Colômbia tem estreia de fogo frente à Argentina, num Grupo B onde está ainda o Paraguai, que volta a contar com o «velho» Oscar Cardozo, de regresso à seleção aos 37 anos, e o Qatar, um dos dois convidados para esta edição.
A Copa América, que nasceu em 1916 e já deu muitas voltas desde então, estabilizou desde os anos 90 num formato de 12 equipas (com exceção de 2011, na Copa Centenário, que teve 16 equipas). Para isso, às 10 seleções que constituem a Conmebol tiveram de se juntar sempre seleções doutras confederações.
O habitual tem sido fazer esses convites a equipas da Concacaf, com o México à cabeça. Mas este ano a Copa América coincide com a Gold Cup, a competição de seleções da América do Norte, Central e Caraíbas, pelo que a Copa América teve de olhar mais longe. Convidou o Japão, que já tinha estado na edição de 1999, e o Qatar, organizador do Mundial 2022 e surpreendente vencedor, este ano, da Taça da Ásia.
O Qatar tem um jogador de origem portuguesa, Pedro Correia, que já fez parte da seleção campeã asiática. E estarão no Brasil vários outros jogadores com ligações portuguesas. O Sporting tem três jogadores em prova: Acuña, na Argentina, Coates, no Uruguai, e Cristian Borja, na Colômbia.
Na Argentina está também Saravia, reforço do FC Porto, enquanto o Brasil tem Éder Militão, que trocou agora o Dragão pelo Real Madrid. A Venezuela tem dois jogadores da Liga portuguesa, o vimaranense Osorio e Murillo, do Tondela. Depois ainda há Castillo, jogador do Benfica mas que jogou cedido ao América na segunda metade da época e integra as opções do Chile, e o peruano André Carrillo, também dos quadros do Benfica mas que jogou na última temporada no Al-Hilal.
A Copa América joga-se há mais de um século, a única competição com maior longevidade é o torneio olímpico de futebol, mas que não é há muito disputado por seleções AA. A prova sul-americana teve ao longo dos tempos periodicidade pouco regular e vai deixar agora de se jogar em ano ímpar, porque a Conmebol decidiu passar a fazer a Copa América coincidir com os anos de Campeonato da Europa. Para acertar calendário, para o ano haverá nova edição, que se jogará na Argentina e na Colômbia. Mas por agora o foco está no Brasil, já agora. Venha ela.
Os vencedores da Copa América:
2016, Chile
2015, Chile
2011, Uruguai
2007, Brasil
2004, Brasil
2001, Colômbia
1999, Brasil
1997, Brasil
1995, Uruguai
1993, Argentina
1991, Argentina
1989, Brasil
1987, Uruguai
1983, Uruguai
1979, Paraguai
1975, Peru
1967, Uruguai
1963, Bolívia
1959, Uruguai
1959, Argentina
1957, Argentina
1956, Uruguai
1955, Argentina
1953, Paraguai
1949, Brasil
1947, Argentina
1946, Argentina
1945, Chile
1942, Uruguai
1941, Argentina
1939, Peru
1937, Argentina
1935, Uruguai
1929, Argentina
1927, Argentina
1926, Uruguai
1925, Argentina
1924, Uruguai
1923, Uruguai
1922, Brasil
1921, Argentina
1920, Uruguai
1919, Brasil
1917, Uruguai
1916, Uruguai
Títulos:
Uruguai, 15
Argentina, 14
Brasil, 8
Peru, 2
Paraguai, 2
Chile, 2
Bolívia, 1
Colômbia, 1