Quase três mil personalidades de vários países assinam artigo contra Bolsonaro - TVI

Quase três mil personalidades de vários países assinam artigo contra Bolsonaro

  • MM
  • 8 fev 2020, 10:09
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, celebra, sob forte chuva, o Dia do Exército Brasileiro, em Brasília

Entre elas, estão Sting e Caetano Veloso

Quase três mil pessoas, de várias nacionalidades e diferentes áreas de atuação, assinaram na sexta-feira um artigo contra o "regime de direita do Brasil", liderado pelo Presidente Jair Bolsonaro, entre elas Sting e Caetano Veloso.

O artigo, publicado na sexta-feira no jornal britânico The Guardian, afirma que o atual Governo brasileiro "quer censurar livros didáticos, espiar professores e reprimir grupos minoritários e LGBT [sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgéneros]”, apelando ao apoio da comunidade internacional.

As instituições democráticas do Brasil estão sob ataque. Desde que assumiu o cargo, o Governo de Jair Bolsonaro, ajudado pelos seus aliados da extrema-direita, minou sistematicamente as instituições culturais,científicas e educacionais do país, bem como a imprensa", diz a introdução do artigo de opinião.

Entre os 2.775 assinantes do documento, entre anónimos ou figuras públicas, encontram-se nomes como o do ator norte-americano Willem Dafoe, o escritor português Valter Hugo Mãe, a escritora e jornalista espanhola Pilar Del Río ou o escritor moçambicano Mia Couto.

No lado das figuras brasileiras que se opuseram a Bolsonaro estão o fotógrafo Sebastião Salgado, a realizadora Petra Costa, a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sonia Guajajara, o músico e escritor Chico Buarque, o ator e comediante Gregório Duvivier ou o escritor Paulo Coelho.

Ao longo do texto, o grupo enumerou uma série de polémicas que envolveram o atual Governo brasileiro, desde o início do seu mandato, em janeiro de 2019, até aos dias de hoje, desde uma "campanha para incentivar estudantes (...) a filmar secretamente os seus professores e denunciá-los por 'doutrinação ideológica'”, passando pela "demissão do diretor de marketing do Banco do Brasil, por criar uma campanha publicitária promovendo a diversidade e a inclusão".

As questões ambientais também não ficaram de fora das críticas, com foco para os incêndios que fustigaram a Amazónia no verão passado, sublinhando que, enquanto a floresta ardia "a um ritmo alarmante, o Governo de Bolsonaro retaliava contra cientistas que ousavam apresentar factos", mencionando o caso de Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, afastado de cargo por divulgar dados de satélite sobre a desflorestação na região.

O documento destaca ainda os ataques à imprensa, mais concretamente o caso do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, responsável pela investigação jornalística que colocou em causa a imparcialidade da Lava Jato, maior operação contra a corrupção no país, e de Sergio Moro, ministro da Justiça de Bolsonaro. Greenwald foi denunciado pelo Ministério Público num inquérito sobre acesso ilegítimo a conversações de autoridades em telemóveis, usadas nas suas reportagens.

As acusações ao atual chefe de Estado prosseguem ao longo do artigo, passando por áreas como cultura, educação ou desenvolvimento social.

Este é um Governo que não possui plano de desenvolvimento para o seu povo. (...) Tememos que esses ataques às instituições democráticas possam tornar-se irreversíveis em breve", acrescenta.

O texto conclui com um apelo por parte dos subscritores, para que a comunidade internacional "expresse solidariedade pública” e condene “as tentativas do Governo de Bolsonaro de pressionar politicamente as organizações artísticas e culturais", e "pressione o Brasil a respeitar plenamente a Declaração Universal dos Direitos Humanos e, assim, respeitar a liberdade de expressão, pensamento e religião".

Exortamos os órgãos de direitos humanos e a imprensa internacional a destacar o que está a acontecer no Brasil. Este é um momento político grave. Devemos rejeitar a ascensão do autoritarismo", termina o texto, publicado no The Guardian.

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