Cliente habitual da EVA Air - uma companhia aérea de Taiwan (a ilha Formosa, a sudeste da China) -, um norte-americano, que a tripulação diz pesar "uns 200 quilos", voltou a fazer obra num voo e a desencadear um problema laboral, para o qual os sindicatos do país exigem imediata resolução.
Em conferência de imprensa, a hospedeira apenas designada por Kuo contou que o passageiro terá forçado as assistentes de bordo - todas mulheres, como é prática da companhia - a levá-lo à casa de banho, despi-lo e limpá-lo depois de satisfazer as suas necessidades.
Além da conferência de imprensa, o incidente foi reportado pela hospedeira de bordo nas redes sociais e depois, traduzido e partilhado por um passageiro, acabando por reavivar o debate sobre a política demasiado “pró-cliente” de algumas empresas aeronáuticas asiáticas.
"Sinto-me traumatizada"
Na conferência de imprensa, segunda-feira, em Taipé, a hospedeira de bordo recordou em lágrimas a experiência traumática do voo 15 da EVA Air, que partiu de Los Angeles rumo à capital de Taiwan. Ou seja, 14 horas de viagem.
Segundo a tripulante, o incidente envolveu um dos passageiros, um homem caucasiano de aproximadamente 200 quilos, que chegou numa cadeira de rodas e estava sentado num lugar de classe económica.
Após 2:30 de viagem, o passageiro pediu às hospedeiras para usar a casa de banho da classe executiva. Depois de a hospedeira, juntamente com mais duas colegas, o terem ajudado a deslocar-se até lá, terá exigido que uma delas lhe despisse a roupa interior, alegando que tinha sido operado à mão direita, o que o impossibilitava de o fazer sozinho.
A hospedeira consentiu e tentou cobrir-lhe a zona genital com um pequeno cobertor, mas o homem desviou-lhe o braço violentamente.
Depois, alegando dificuldades em respirar, exigiu que a porta da casa de banho ficasse aberta, pedido esse que foi rejeitado pelas hospedeiras.
Por fim, após usar a casa de banho, pediu às hospedeiras que lhe limpassem o rabo, recusando-se a sair caso o não fizessem.
A hospedeira Kuo contou na conferência de imprensa que foi obrigada a inclinar o homem, que tinha cerca de quatro vezes o seu peso, enquanto uma outra colega o limpava.
Mais fundo, mais fundo", terá então dito o passageiro, ameaçando mesmo as hospedeiras de que esperava que o tivessem limpado bem.
Nunca esquecerei aquele momento: as fezes deles ainda estavam na sanita, eu não tinha por onde escapar (...) cada vez que revivo este episódio na minha cabeça, sinto-me traumatizada”, recordou a hospedeira.
"Cliente tem sempre razão”
O caso desencadeou uma contenda laboral, com os sindicatos a criticarem a companhia EVA Air por falta de condições dadas às suas funcionárias.
Na conferência de imprensa, um sindicalista revelou mesmo que o passageiro, habitual nos voos da companhia, em maio do ano passado, como a tripulação não cedeu às suas exigências, defecou no próprio assento. O cheiro nauseabundo empestou a avião, durante as dez horas que ainda faltavam para aterrar.
Nas redes sociais multiplicam-se as críticas à companhia aérea e à ideia de que “o cliente tem sempre razão”, política comercial seguida pela maioria das empresas asiáticas. Além de se exigir que o conhecido passageiro seja banido de voar.
A companhia aérea de Taiwan, conhecida pela tripulação constituída unicamente por mulheres, em comunicado, defende o tratamento dado ao passageiro, que afirma ter transportado mais de 20 vezes, quase sem incidentes.
A administração da EVA Air expressa o seu “sincero agradecimento” à tripulação, promete investigar o passageiro e explorar opções, que podem ir desde bani-lo de voar nos seus voos, até exigir que viaje com um acompanhante, refere o comunicado.