Casados há 53 anos, morrem de mãos dadas vítimas da Covid-19   - TVI

Casados há 53 anos, morrem de mãos dadas vítimas da Covid-19  

  • João Guerreiro Rodrigues
  • 1 jul 2020, 13:17
Depoisde 53 anos de casamento, morrem de mãos dadas vítimas da Covid-19

Betty e Curtis Tarpley adoeceram com diferença de dias e foram internados no mesmo hospital. Acabariam por morrer com menos de uma hora de diferença um do outro

Viveram uma história de amor cada vez mais rara. Andaram juntos no mesmo liceu, apaixonaram-se anos mais tarde na Califórnia, casaram e tiveram dois filhos. Anos mais tarde, de mãos dadas, Betty e Curtis Tarpley morreram com uma hora de diferença de mãos dadas, vítimas do novo coronavírus, num hospital do Texas, nos Estados Unidos da América.

Os detalhes da história que está a emocionar o mundo foram dados pelo filho do casal, Tim Tarpley. Em declarações à CNN, afirmou que a mãe, de 80 anos, tinha adoecido dias antes de ser admitida no hospital texano, onde foi diagnosticada com a Covid-19.

Dois dias depois, a 11 de junho, era a vez do marido, Curtis, dar entrada no mesmo hospital, com o mesmo diagnóstico.

Os primeiros dias de internamento não faziam antever o que acabou por acontecer. Tudo parecia estar a correr bem.  As enfermeiras da Unidade de Cuidados Intensivos dos hospital até costumavam transportar Curtis para a unidade de Betty, para que pudessem passar algumas horas juntos.

Repentinamente, a saúde de Betty começou a deteriorar-se, de tal forma que chegou a ligar aos filhos a dizer “estar pronta para ir embora”.

Gritei-lhe que não, que não podia ser, que tinha muitas coisas para fazer com ela ainda e para lhe mostrar", contou o filho do casal.

A situação, cada vez mais delicada em que Betty se encontrava, fez com que os responsáveis do hospital permitissem os filhos visitar a mãe. Na primeira visita, relembra Tim Tarpley, a mãe estava altamente medicada e não parecia não reconhecer a presença dos filhos.

À saída, Tarpley ligou ao pai para o pôr a par do estado de saúde mãe e para lhe dizer o quanto gostava dele. Horas depois, os níveis de oxigénio de Curtis começaram a cair.

Eu sinto que ele estava a lutar porque achava que era o seu dever e, assim que ele sentiu que a nossa mãe não iria aguentar, ele ficou em paz com a decisão de deixar de lutar”, contou o filho. “Acho que ele lutou porque precisávamos dele, mas ele estava cansado e com muitas dores.”

Tim Tarpley e a sua irmã, Tricia, nunca mais veriam os pais com vida.

Com os seus sinais vitais cada vez mais frágeis, a decisão de “fazer a coisa certa” e tentar “arranjar forma de eles estarem juntos” foi tomada pelos enfermeiros da unidade hospital, como conta Blake Throne, um dos enfermeiros responsável por Curtis Tarpley.

Emocionados com o casal, a equipa tratou de fazer com que Betty fosse transferida para a Unidade de Cuidados Intensivos, para ficar lado a lado com o marido.

Quando uma enfermeira disse ao Curtis que a Betty estava ali, ele tentou levantar-se e virar-se para ela. Mas estava muito fraco e não conseguiu. Depois abriu muito os olhos e levantou as sobrancelhas. Ele sabia que ela estava ali. Depois levantei-lhe o braço e ele deu a mão à Betty", descreveu o enfermeiro.

Betty acabou por morrer 20 minutos depois e com Curtis a dar os últimos sinais vitais 45 minutos depois da mulher.

Honestamente, eles estavam tão incapacitados para falar que tudo o que fizeram foi comunicar com as suas almas. Eles conheciam-se bem o suficiente para poderem comunicar sem precisar de palavras”, relembra o filho.

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