Mais de 6.500 migrantes morreram nas construções para o Mundial2022 no Qatar - TVI

Mais de 6.500 migrantes morreram nas construções para o Mundial2022 no Qatar

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 23 fev 2021, 19:21

Números foram avançados por fonte governamental e mostram que a causa de óbito mais comum é "morte natural", atribuída a insuficiência cardíaca ou doença respiratória aguda

Mais de 6.500 trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Qatar desde o anúncio de que o país recebeu os direitos para realizar o Campeonato do Mundo de Futebol, em 2010.

De acordo com uma investigação do jornal britânico The Guardian, uma média de doze trabalhadores migrantes morreram por semana desde o dezembro em que Daha celebrou a conquista.

Dados de fontes governamentais da índia, Bangladesh, Nepal e Sri Lanka revelam 5.927 mortes no período entre 2011 e 2020. Separadamente, dados da embaixada do Paquistão no Qatar relataram mais 824 mortes de trabalhadores paquistaneses, entre 2010 e 2020.

Durante a última década, o Qatar embarcou num programa de construção sem precedentes, principalmente em preparação para o torneio de futebol de 2022. Além de sete novos estádios, dezenas de grandes projetos foram concluídos ou estão em andamento, incluindo um novo aeroporto, estradas , sistemas de transporte público, hotéis e uma nova cidade, que sediará a final da competição da FIFA.

 

Trabalhadores constroem estádio para acolher Mundial2022/ AP Images

 

Ainda que o registo dos óbitos não seja categorizado por ocupação, é provável que muitos trabalhadores que morreram trabalhavam para projetos de infraestrutura do Mundial, a FairSquare Projects - um grupo de defesa especializado em direitos humanos.

Uma proporção muito significativa dos trabalhadores migrantes que morreram desde 2011 estava no país apenas porque o Qatar ganhou o direito de sediar o Mundial de Futebol”, disse Nick McGeehan, diretor da FairSquare, ao The Guardian.

Ainda assim, os dados oficiais apontam para 37 mortes diretamente ligadas à construção de estádios para o evento, dos quais 34 são classificados como “não relacionados com trabalho” pela comissão organizadora. 

 

 

Especialistas questionam o uso deste termo. Tudo porque, em alguns casos, tem sido usado para descrever mortes ocorridas no local de trabalho, incluindo vários trabalhadores que caíram e morreram nas obras de estádios.

Os dados colocam em causa a capacidade do governo do Qatar em proteger a sua força de trabalho migrante - composta por cerca de dois milhões de pessoas - e evidenciam falhas na investigação dos óbitos, em grande parte de trabalhadores jovens.

Os documentos oficiais listam as causas de morte mais frequentes: ferimentos graves devido a quedas; asfixia; causa indeterminada de morte.

Porém, entre as causas, a mais comum é a chamada “morte natural”, muitas vezes atribuída a insuficiência cardíaca ou doença respiratória aguda. 69% das mortes de trabalhadores indianos, nepaleses e do Bangladesh são classificadas como naturais. Só entre os indianos, o número sobe aos 80%.

Um vídeo da Amnistia Internacional mostra as condições em que vivem estes trabalhadores. A ONG descreve o trabalho como "forçado".

 

Sem contestar o número de mortes, o governo do Qatar diz que os óbitos são proporcionais ao tamanho da força de trabalho migrante e que os números incluem trabalhadores de colarinho branco que morreram naturalmente depois de viver no país por muitos anos.

O comité organizador do Mundial do Qatar, quando questionado sobre as mortes durante a construção de estádios, disse lamentar profundamente todas as tragédias. “Investigamos cada incidente para garantir que as lições foram aprendidas. Sempre mantivemos a transparência em torno dessa questão e contestamos as afirmações imprecisas sobre o número de trabalhadores que morreram”.

Em comunicado enviado ao jornal britânico, a FIFA diz estar totalmente empenhada em proteger os direitos dos trabalhadores. “Com as medidas de saúde e segurança muito rigorosas no local, a frequência de acidentes em obras para o Mundial tem sido baixa em comparação com outros grandes projetos de construção em todo o mundo”, justificaram.

O superintendente-chefe Jorge Maurício, ex-comandante metropolitano de Lisboa da Polícia de Segurança Pública (PSP), é quem está a coordenar o projeto Stadia, de segurança no Mundial2022 de futebol, no Qatar.

O projeto Stadia foi criado pela Interpol em 2012, com o objetivo de apoiar países que organizem grandes eventos desportivos, entre os quais a segurança e policiamento no Mundial do Qatar.

O Mundial do Qatar decorrerá em sete cidades-sede no final de 2022, entre 21 de novembro e 18 de dezembro, e acontecerá fora do período habitual dos Mundiais de futebol, entre o final da primavera e o verão, devido às elevadas temperaturas.

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