Ele, o irmão de cinco anos, Galip, e a mãe, Rehan, morreram, quarta-feira, após o naufrágio do frágil barco em que seguiam rumo à ilha grega de Kos. O pai, Abdullah, sobreviveu e está internado num hospital turco. No total, morreram 12 pessoas no mar, cinco eram crianças.
O pai de Aylan e Galip contou os detalhes da tragédia à agência de notícias turca Dogan. Declarações citadas pelo "Le Monde":
"Tínhamos coletes salva-vidas, mas o barco virou de repente, porque as pessoas se levantaram. Eu segurei a mão da minha mulher. Mas os meus filhos escorregaram-me das mãos".
Fugiam da Síria e do Estado Islâmico, procurando o conforto do Canadá, onde em Vancouver vivia uma irmã do pai.
A família era oriunda de de Kobane, cidade síria do norte e próxima da fronteira turca, um território de violentos combates entre as forças curdas e os jihadistas.
Ao diário canadiano National Post, a tia de Aylan contou que a família tinha pedido asilo ao Canadá, mas que este lhes tinha sido negado por problemas na documentação. Não desistiram e decidiram tentar a viagem.
“Estava a tentar ajudá-los mas não conseguia tirá-los de lá. Foi quando decidiram viajar de barco”, contou a familiar.
Rest in peace, Aylan and Ghalib Kurdi. May your cruel and undeserved deaths provoke enough action to save others. pic.twitter.com/7clGYknApE
— SimonNRicketts (@SimonNRicketts) 2 setembro 2015
A imagem do menino com uma t-shirt vermelha e calções caído de rosto na areia chocou o mundo, como nunca tinha acontecido com os milhares de anónimos que já perderam as suas vidas na luta pela paz.
O pescador que encontrou o corpo cerca das 06:00 locais também ficou em estado de choque. “O meu coração parou”, disse à imprensa turca, citada pelas agências internacionais.
A jornalista da CNN Nilüfer Demir, que tirou as fotografias, disse que quando viu a criança congelou. Mas "nada mais havia a fazer". Restava focar-se no trabalho.
Aquela praia, junto a um resort turístico, ganhou subitamente notoriedade, mas quem ali vive diz que todos os dias aquela areia é testemunha do sofrimento dos refugiados, com pertences e destroços a darem à costa.
As autoridades turcas detiveram na noite de quarta-feira quatro sírios alegadamente responsáveis pelo barco onde seguia Aylan e a sua família.
Na sequência desta imagem, o primeiro-ministro britânico David Cameron está a ser pressionado, inclusive pelos seus pares do partido, para acolher mais refugiados, sobretudo depois de horas antes ter afirmado que a solução não estava em acolher refugiados mas em levar a paz e estabilidade ao Médio Oriente, apenas horas antes.
“Não somos nada sem compaixão. A imagem deve envergonhar-nos a todos. Falhámos na Síria. Desculpa pequeno anjo”, escreveu Nadhim Zahawi, deputada dos Conservadores, no Twitter.
Esta imagem causou " terrível frustração " ao alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, que defende que a atual crise dos migrantes e refugiados requer "uma resposta coerente" da Europa.
“Estas pessoas são forçadas a irem de barco, pagam 4.000 ou 5.000 euros, e morrem nestas circunstâncias desesperadas. Isto não faz sentido”, afirmou Guterres, em entrevista à CNN.