Trinta anos depois, sirenes voltaram a soar em Chernobyl - TVI

Trinta anos depois, sirenes voltaram a soar em Chernobyl

Ucrânia recorda o pior acidente nuclear da história e presta homenagem às vítimas. Trinta anos depois, milhares de trabalhadores continuam obras de desmantelamento da infraestrutura. Ainda há radiações perigosas

O mundo recorda, esta terça-feira, os 30 anos da catástrofe nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. O acidente, o pior da história nuclear a par do desastre de Fukushima, no Japão, em 2011, deu-se às primeiras horas da manhã de 26 de abril de 1986, quando o reator 4 explodiu durante um teste de segurança, devido a um erro humano e um defeito de conceção do reator soviético, modelo RBMK. Da explosão resultou uma nuvem de mais de oito toneladas de material radioativo que se espalhou pela Ucrânia, pela Rússia, pela Bielorrússia e pelo norte da Europa.

Esta terça-feira de manhã, à mesma hora em que se deu a explosão há 30 anos, soaram sirenes na zona, para marcar o início da cerimónia de homenagem às vítimas.

De acordo com a BBC News, centenas de pessoas depuseram flores e acenderem velas na cidade ucraniana de Slavutych, construída de propósito para albergar os habitantes de Pripyat que foram obrigados a abandonar casas. Em Kiev, na capital, as cerimónias de homenagem às vítimas começaram com um serviço religioso.

Risco de contaminação continua

Pelo menos 30 pessoas morreram no acidente nuclear de há 30 anos, com as consequências da explosão a fazerem-se sentir até hoje. Ao longo das últimas três décadas, milhares de pessoas têm sucumbido a doenças relacionadas com a radiação, como o cancro, embora o número total de mortes e os efeitos a longo prazo sobre a saúde continuem a ser um assunto de intenso debate.

Explosão do reator 4, 26 de abril de 1986 (REUTERS)

De acordo com um relatório de um comité da ONU divulgado em 2005, mais de quatro mil pessoas morreram ou virão a morrer vítimas de doenças congénitas provocadas pelos altos níveis de radiação. Um ano depois, a organização ambientalista Greenpeace situou o número em cerca de 100 mil. O balanço das vítimas continua a ser controverso: algumas estimativas indicam milhares de mortos, mas apenas 56 mortos como vítimas diretas da catástrofe.

Da zona de exclusão, num raio de 30 quilómetros em redor da central nuclear, foram retiradas mais de 130 mil pessoas nos dias que se seguiram à explosão. Abandonada pelos habitantes, a central tornou-se um destino turístico e um santuário para várias espécies de animais. Apesar dos elevados níveis de radiação, a vida selvagem tem estado a expandir-se ao redor da central.

Milhares de trabalhadores continuam obras de desmantelamento

Na central nuclear, situada a 120 quilómetros a norte da capital ucraniana, Kiev, e junto à fronteira com a Bielorrússia, os trabalhadores garantem o desmantelamento definitivo dos reatores um, dois e três, que continuaram a funcionar depois da catástrofe, entrando progressivamente em suspensão até à paragem definitiva em 2000. 

Trabalhadores continuam a entrar todos os dias em Chernobyl (REUTERS)

Milhares de trabalhadores continuam a entrar todos os dias na central nuclear de Chernobyl para continuarem a desmantelar o local e concluírem a construção de um novo sarcófago - 108 metros de altura, 150 de largura e 280 de comprimento - que vem substituir o primeiro, um enorme cubo de cimento, construído nos meses a seguir ao acidente e cujo tempo de vida útil, calculado em 30 anos, está a chegar ao fim.

"Há 1500 trabalhadores na central para o processo de desmantelamento, e mil ou dois mil contratados pelo consórcio internacional que está a construir o novo sarcófago para o reator acidentado", explicou esta terça-feira o departamento de cooperação internacional da central.

Três dos quatro reatores da central continuaram em funcionamento depois da catástrofe e o seu uso só foi suspenso definitivamente em 2000. De acordo com o mesmo departamento, "só em 2015 é que começou a segunda fase do programa para a paragem total da central e conservação das unidades", por forma a "garantir o armazenamento seguro do combustível nuclear e todo o material radioativo nos reatores".

A conclusão do novo sarcófago está prevista para o final do ano, sendo de imediato colocado sobre a antiga proteção do reator quatro. 

Um ano mais tarde, o segundo sarcófago vai entrar em funcionamento e, em 2023, deverá estar concluída a destruição do primeiro, uma das tarefas mais delicadas de todo o projeto, já que implica trabalhar no interior do reator. 

Na segunda-feira, dadores de todo o mundo anunciaram um pacote de 87,5 milhões de euros de ajuda ao Estado ucraniano para criar um espaço subterrâneo de recolha de lixo tóxico. Para completar os trabalhos em Chernobyl, a Ucrânia terá de investir mais dez milhões de euros.

 

 

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