Síria: UE condena ofensiva turca e apela a cessar imediato de ação militar - TVI

Síria: UE condena ofensiva turca e apela a cessar imediato de ação militar

  • AM atualizada às 16:35
  • 14 out 2019, 13:57

Chefes da diplomacia do bloco comunitário realçam que a ofensiva turca torna “mais difícil” as perspetivas de sucesso do processo político liderado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para alcançar a paz na Síria

A União Europeia (UE) condenou esta segunda-feira a ofensiva militar lançada pela Turquia contra milícias curdas na Síria, reiterando o apelo a um cessar imediato da ação militar turca naquele país.

“A União Europeia condena a ação militar da Turquia que mina seriamente a estabilidade e a segurança em toda a região, leva ao sofrimento de mais civis e a novos deslocamentos e compromete seriamente o acesso à ajuda humanitária”, lê-se nas conclusões adotadas hoje pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da EU, reunidos no Luxemburgo.

Apelando a que a Turquia cesse imediatamente a “ação militar unilateral no nordeste da Síria”, os chefes da diplomacia do bloco comunitário realçam que a ofensiva turca torna “mais difícil” as perspetivas de sucesso do processo político liderado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para alcançar a paz na Síria.

A ação militar turca também “compromete significativamente” os progressos alcançados até ao momento pela coligação internacional para derrotar o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI), que continua a constituir “uma ameaça para a segurança europeia, assim como para a segurança regional e internacional da Turquia”, acrescentam.

“Os contínuos esforços da comunidade internacional, incluindo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para parar esta ação militar unilateral são urgentemente necessários”, salientam, apelando a uma reunião ministerial da coligação internacional para debater como deve atuar no contexto atual.

Nas conclusões, os chefes da diplomacia europeia sublinham ainda o facto de alguns Estados-membros do bloco comunitário terem decidido “pôr termo com efeito imediato” à exportação de armas para a Turquia.

A Turquia lançou na quarta-feira uma operação militar, que inclui alguns rebeldes sírios, contra a milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG), grupo que considera terrorista, mas que é apoiado pelos ocidentais para combater o grupo extremista EI.

Desde o início da ofensiva turca, pelo menos 104 combatentes curdos e cerca de 60 civis morreram na sequência dos confrontos, segundo o mais recente balanço do OSDH (Observatório Sírio dos Direitos Humanos).

A ofensiva turca no nordeste da Síria já provocou cerca de 130 mil deslocados, de acordo com a ONU.

O Ministério da Defesa turco tem afirmado, em diversas ocasiões, que todas as medidas necessárias foram tomadas no âmbito desta operação para evitar baixas civis.

Segundo Ancara, a operação militar que arrancou na quarta-feira visa “os terroristas das YPG e do Daesh [acrónimo árabe do grupo extremista Estado Islâmico]” e pretende estabelecer uma “zona de segurança” no nordeste da Síria.

A ofensiva de Ancara abre uma nova frente na guerra da Síria que já causou mais de 370.000 mortos e milhões de deslocados e refugiados desde que foi desencadeada em 2011.

 

MNE diz que posição da UE tem mais significado por Turquia ser candidata à adesão

O ministro dos Negócios Estrangeiros defendeu esta segunda-feira que a "firme condenação" da União Europeia à ofensiva militar turca no nordeste da Síria tem maior significado por a Turquia ser candidata a aderir ao bloco comunitário.

Nós entendemos que este desenvolvimento no nordeste da Síria constitui uma ameaça para a segurança europeia e, por isso, tomámos uma posição tão firme de condenação, de pedido de convocação urgente de uma reunião ministerial da coligação internacional contra o Daesh [acrónimo árabe para o grupo extremista Estado Islâmico], da qual a Turquia também faz parte, e de um apelo à suspensão imediata da venda de armas à Turquia, de acordo com as legislações nacionais dos respetivos países”, realçou Augusto Santos Silva.

Em declarações aos jornalistas, o chefe da diplomacia portuguesa considerou que as decisões tomadas hoje pelos ministros dos Negócios Estrangeiros europeus, reunidos no Luxemburgo, têm “um significado tanto mais importante quanto a Turquia é um Estado candidato a membro da UE” e um aliado, no quadro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, para “a esmagadora maioria dos membros da UE”.

O ministro português dos Negócios Estrangeiros disse esperar “naturalmente” que a Turquia acate o apelo europeu para cessar imediatamente a ofensiva militar contra as forças curdas no nordeste da Síria, realçando, contudo, que a UE não se limitou “a esse apelo”.

[O Conselho de Negócios Estrangeiros] tomou decisões práticas relativas à ações que nos parece poder tornar mais claro às autoridades turcas o custo em que elas incorrem se persistirem nesta ação”, pontuou.

Santos Silva elencou ainda “as várias razões” pelas quais a UE condenou a ação da Turquia, nomeadamente porque a ofensiva militar “viola a lei internacional”, põe em causa a integridade territorial da Síria e o processo político, “que teve avanços recentes com a constituição do Conselho Constitucional sírio”, e ignora as obrigações “de todos” em matéria de lei internacional humanitária.

Essa intervenção militar constitui, a nosso ver, um revés para a luta internacional contra o terrorismo, na qual, aliás, as forças curdas foram aliados seguros e na linha de frente da coligação internacional anti-Daesh, de que Portugal faz parte”, defendeu ainda.

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, também condenou esta segunda-feira a operação militar da Turquia e sublinhou o apoio unânime da União Europeia (UE) aos esforços de mediação da ONU para encontrar uma solução pacífica.

Houve unanimidade na condenação da ação militar da Turquia no nordeste Síria, bem como das explorações que o país está a fazer no Mediterrâneo", sublinhou Mogherini, em conferência de imprensa no final de uma reunião do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.

 

Apoiamos os esforços de mediação da ONU", disse ainda, para acrescentar que que a UE avisou a Turquia, antes da intervenção, sobre a possibilidade de as forças curdas se aliarem ao regime sírio.

 

Apesar das nossas diferenças, temos um objetivo comum que é o de pôr um fim à guerra na Síria", sublinhou Mogherini, apelando a todos os parceiros internacionais para que cheguem a uma solução política e salientando que a UE falou com uma só voz "clara e unida".

Federica Mogherini alertou também para o perigo de o auto proclamado Estado Islâmico (EI) reencontrar espaço para reunir forças, recrutar membros e reconquistar território operacional no nordeste da Turquia.

Fizemos um bom exercício de clarificação, pelo nosso lado", salientou ainda, referindo que os Estados-membros se comprometeram a não vender armas à Turquia.

A Alta Representante para a Política Externa da UE adiantou também que os 28 foram unânimes na condenação das atividades turcas de exploração de gás e petróleo no Mediterrâneo, ao largo de Chipre, e está a ser preparado quadro de sanções.

 

PCP exige ao Governo rejeição da ação militar turca

O Partido Comunista Português condenou hoje a ofensiva militar turca no nordeste da Síria, classificando-a como "uma aberta violação do Direito Internacional" e pede ao Governo português que rejeite e condene a ação militar.

O PCP condena a agressão militar turca em curso contra a Síria, visando a ocupação direta de parte do seu território, o que constitui uma aberta violação do Direito Internacional e um novo e perigoso desenvolvimento na agressão a esse país”, declarou o partido em comunicado.

Os comunistas reclamam do Governo português “uma clara posição de distanciamento e rejeição da estratégia de desestabilização, agressão e divisão da Síria”.

O partido acusou “os governos e instituições que se distanciaram nos últimos dias deste acontecimento” de hipocrisia, falando em “cumplicidade” a União Europeia, nomeadamente da França e do Reino Unido, “na sucessão de subversões, agressões e crimes na região do Médio Oriente, desde logo contra a Síria”.

O PCP alegou ainda que “os diversos grupos terroristas que se mantêm em território sírio estiveram, ou continuam a estar, às ordens das potências imperialistas agressoras que os criaram, treinaram, financiam, armam e protegem como parte da sua estratégia de desestabilização, ocupação e divisão da Síria.”

O partido deixou ainda críticas à administração norte-americana do Presidente Donald Trump, que classificou de responsável por “complexas manobras de conspiração, de que a sua postura face a esta agressão é parte integrante, e para o perigo de esta se poder inserir numa operação mais vasta visando libertar milhares de terroristas do denominado 'Daesh' e de outros grupos”

O PCP "reafirma a exigência do fim da agressão contra a Síria, da retirada de todas as forças militares estrangeiras de ocupação”, pedindo ainda a “devolução de todos os territórios sírios à soberania da República Árabe Síria”.

Os comunistas manifestaram solidariedade para com o povo sírio, que consideram vítima da “estratégia de agressão e divisão da Síria promovida pelo imperialismo”.

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