UE não quer utilizar vacina como instrumento geopolítico, afirma Borrell - TVI

UE não quer utilizar vacina como instrumento geopolítico, afirma Borrell

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  • JGR
  • 4 mar 2021, 10:18
Bandeira da União Europeia

Nesse âmbito, o chefe da diplomacia europeia sublinhou que a UE e os Estados-membros já contribuíram com 2,2 mil milhões de euros para a iniciativa COVAX

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, defendeu esta quinta-feira que a União Europeia (UE) não quer utilizar a vacina contra a covid-19 como “um instrumento para influência geopolítica”, mas antes para revitalizar o multilateralismo mundial.

No mundo atual, as vacinas são uma medida de poder e um instrumento de influência geopolítica: primeiro, foram as máscaras, agora são, cada vez mais, as vacinas. A nossa abordagem é a de tentar continuar a sublinhar o multilateralismo das vacinas, e não usar a vacina como um instrumento para a influência geopolítica como outros o fazem”, sublinhou Josep Borrell durante uma intervenção no segundo dia da Conferência Interparlamentar sobre a Política Externa e de Segurança Comum e a Política Comum de Segurança e Defesa, organizada pela Assembleia da República de Portugal.

O Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança abordava assim a necessidade de “revitalizar o multilateralismo” mundial, que definiu como sendo uma das prioridades da UE, e que tem, como “desafio mais premente” a atual pandemia de covid-19.

Atualmente, as vacinas são a prioridade principal. Temos de vacinar mais rápido do que as mutações do vírus, há uma corrida entre a nossa capacidade industrial e logística e a evolução biológica do vírus: temos de ter o mundo inteiro vacinado, não apenas nós próprios e os nossos vizinhos”, apontou Borrell.

Nesse âmbito, o chefe da diplomacia europeia sublinhou que a UE e os Estados-membros já contribuíram com 2,2 mil milhões de euros para a iniciativa COVAX, que pretende vacinar 1,3 mil milhões de pessoas em 92 países de baixo ou médio rendimento.

Além disso, Borrell referiu também que o “fortalecimento do sistema de saúde global” e da Organização Mundial de Saúde (OMS) são outras das prioridades no âmbito de uma estratégia de revitalização do multilateralismo, por terem sido “muito enfraquecidos” durante a presidência de Donald Trump.

[A OMS] tem de ser mais bem equipada para gerir desafios futuros, tem de ter o mandato, as respostas e os instrumentos certos, o que não é o caso hoje. A UE está a liderar as negociações sobre uma resolução para fortalecer esta organização e a capacidade de resposta global, e esperamos que seja adotada em maio na Assembleia Mundial da Saúde”, informou Borrell.

Além da vertente da saúde no âmbito do multilateralismo, o chefe da diplomacia salientou também outras áreas que devem ser revitalizadas, destacando a reforma da Organização Mundial do Comércio, as novas tecnologias, e a necessidade de “aumentar o nível de ambição global” no que se refere à ação climática.

Temos de trabalhar com outros parceiros, estabelecer padrões globais e assegurar-nos que refletem os nossos valores. O que é claro é que, se queremos renovar e liderar a modernização do multilateralismo, precisamos de parcerias e alianças vastas, incluindo com o setor privado e com organizações não governamentais”, precisou.

Nesse âmbito, o chefe da diplomacia abordou a autonomia estratégica da UE, que disse ter de ser a “prioridade global” para o bloco europeu em 2021, e que, segundo o responsável, é conciliável com a vontade de revitalizar o multilateralismo.

Não são prioridades contraditórias, são duas faces da mesma moeda: queremos operar multilateralmente sempre que pudermos, mas de maneira autónoma quando tivermos de nos defender e quando for necessário defender os nossos valores e os nossos interesses”, asseverou.

Qualificando assim a autonomia estratégica de “autonomia estratégica aberta”, Borrell sustentou que o objetivo da UE é o de fazer o “melhor uso” possível da sua “abertura para o resto do mundo”.

Isto inclui utilizar a geopolítica fornecida pelo comércio baseado em regras, mas também utilizar o direito de agirmos autonomamente e de nos defendermos, impormos os nossos direitos, proteger os nossos cidadãos e interesses, quando os nossos parceiros não jogam segundo as regras e quando um diálogo construtivo revela ser insuficiente”, realçou.

A Conferência Interparlamentar sobre a Política Externa e de Segurança Comum e a Política Comum de Segurança e Defesa começou em 2012 e tem lugar semestralmente, tendo como objetivo reunir eurodeputados do Parlamento Europeu (PE) e deputados das Comissões dos Negócios Estrangeiros, Assuntos Europeus e Defesa dos parlamentos nacionais dos Estados-membros da UE.

Nesta edição, organizada pela Assembleia da República no âmbito da dimensão parlamentar da presidência portuguesa do Conselho da UE, os temas abordados serão a cooperação entre a UE e a NATO, a Bússola Estratégica e a estratégia da UE para o continente africano.

Além da participação de Josep Borrell, e do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, a conferência também já contou com a intervenção do ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.

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