A esperança de Orlando Bloom para as vítimas do Boko Haram - TVI

A esperança de Orlando Bloom para as vítimas do Boko Haram

Orlando Bloom nos Globos de Ouro 2014 (REUTERS)

Ator e Embaixador da Boa Vontade da Unicef, em artigo publicado na CNN, expressa pesar pelo sofrimento das crianças refugiadas em Níger, deslocadas devido a anos de conflito

Orlando Bloom diz que é difícil conceber a escala do sofrimento na região africana do Lago Chade depois de visitar algumas das crianças desalojadas por anos de conflito.

O ator britânico, que é Embaixador da Boa Vontade da Unicef, visitou no início de fevereiro a região de Diffa, no sudeste da República do Níger, onde fica um campo de refugiados que acolhe milhares de crianças que fugiram da violência do grupo terrorista Boko Haram. Esta quinta-feira publicou um artigo na CNN online, com o título “Boko Haram não esmagará o espírito das crianças”, onde expressa o impacto da organização fundamentalista de métodos terroristas, que visa impor a lei islâmica (Xaria) a quem vive na região.

O ator que atuou em filmes como “Pirata das Caraíbas” e “Senhor dos Anéis”, começa por referir que a região de Diffa acolhe atualmente mais de 240 mil deslocados internos, refugiados e repatriados, dos quais 160 mil são crianças.

Orlando Bloom, que é embaixador da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a Infância há 10 anos, sublinha que não é a primeira vez que vê e ouve falar de sofrimento terrível, mas revela que as histórias devastadoras que ouviu das crianças em Níger o vão “perseguir durante muito tempo”.

Durante a minha viagem, ouvi histórias pavorosas sobre crianças e famílias que têm de fugir a correr, deixando tudo para trás, incluindo a segurança das suas casas e até das salas de aula", escreve o ator.

O artista de 40 anos realça que a violência do grupo Boko Haram afetou milhões de crianças e famílias na Bacia do Lago Chade, na África Ocidental: Níger, Nigéria, Chade e Camarões. Crianças de até 12 anos foram raptadas e mortas. Muitas não só foram forçadas a deixar as casas e as escolas, como também ficaram sem comida ou água potável. Este sangrento conflito resultou numa das mais graves crises humanitárias e de migração em África.

"Cada criança que conheci é afetada pelo conflito, e tem necessidades desesperadas de serviços básicos como água potável, cuidados psicológicos e educação para as ajudar a recuperar das atrocidades que sofreram e testemunharam".

É extremamente difícil compreender a situação quando você não esteve lá. Eu vi a profundidade da dor e do sofrimento daquelas crianças. Isso é uma coisa que criança alguma deve experimentar", salienta o ator.

O ator do filme "Piratas das Caraíbas" acrescenta que "o que essas crianças precisam é do fim da violência, e até que isso seja possível, devemos fazer tudo o que pudermos para ajudá-los a reconstruir as suas vidas".

Orlando Bloom conta que conheceu a família de Eta Ibrahim, uma menina de 12 anos que fugiu depois do grupo jihadista Boko Haram ter queimado a casa em que morava.

Profundamente afetada pelo trauma e pelo medo, Eta contou-me como, há dois anos, acordou de manhã com o som de tiros e ameaças, quando os jihadistas chegaram à aldeia dela. A tremer enquanto falava, ela disse-me que realmente pensava que ia morrer”, escreve o ator.

“Quando os terroristas finalmente foram embora, Eta fugiu a pé com a família, deixando a sua casa e os seus pertences, sem saber se algum dia iriam voltar. A família refugiou-se num acampamento temporário em Diffa, mas Eta não conseguiu dormir como deve ser durante meses por causa de pesadelos onde via os homens do Boko Haram a vir atrás dela”, continua o ator.

Tendo regressado recentemente à sua aldeia natal com o pai e os irmãos, Eta está agora de volta à escola e tem o sonho de ser médica quando crescer.

Bloom diz ainda que, quando visitou escolas durante a viagem, pôde verificar que estavam superlotadas e a lutar para conseguir lidar com o enorme número de crianças desalojadas. Num espaço de aprendizagem temporária, o ator visitou em Diffa o centro de N'gagam para famílias refugiadas, onde havia 500 alunos e apenas 12 salas de aula e 12 professores.

Em Garin Wazam, num desses centros para famílias desalojadas, Orlando Bloom conheceu Amada, um adolescente de 14 anos que o impressionou. O ator refere que, como muitas crianças, Amada fugiu da vizinha Nigéria para Níger, foi alvo de violência e testemunhou assassinatos e mutilações de amigos ou familiares.

Ele contou-me os pesadelos que tem. A aldeia dele foi atacada há oito meses. Percebi que era difícil para ele reviver aquelas experiências traumáticas. No entanto, desde que participa nas atividades no centro de apoio, Amada é mais capaz de expressar os seus sentimentos e de falar sobre os seus medos. Ele fez novos amigos e tive a oportunidade de me juntar a eles num jogo de basquetebol. Deu-me tanta alegria ver Amada com um sorriso no rosto e a ser apenas um jovem adolescente. Dar a estas crianças um sentido de normalidade é crucial não só para o seu próprio futuro, mas para o futuro das suas comunidades e dos seus países”, explica o ator.

A rematar o artigo, Orlando Bloom refere que, enquanto a violência continuar a atormentar a bacia do Lago Chade, o futuro dos seus filhos continuará em jogo.

“Mas se eu aprendi alguma coisa com as histórias de Eta, Amada e milhares de crianças como elas, é que as crianças são incrivelmente resilientes. A capacidade delas para concretizarem os seus sonhos, quando lhes é dada uma oportunidade, enche-me de esperança”, remata.

A UNICEF está aumentar a assistência às famílias na Nigéria, Camarões, Chade e Níger, com acesso a água potável, educação, aconselhamento, vacinas e tratamento para a desnutrição, mas com grande dificuldade de financiamento e difícil acesso devido à falta de segurança.

A ONU diz precisar de 1,5 mil milhões de dólares (1,4 mil milhões de euros) em ajuda humanitária para a região este ano.

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