Diplomacia das vacinas: Israel aproveita avanço na vacinação para fazer jogo político - TVI

Diplomacia das vacinas: Israel aproveita avanço na vacinação para fazer jogo político

Promessas políticas permitem a países receber vacinas contra a covid-19

Israel é o país mais avançado na vacinação contra a covid-19 em todo o mundo. Já administrou pelo menos uma dose da vacina a quase 50% da população, constituída por pouco mais de nove milhões de habitantes.

Agora, o país parece virar-se para um segundo passo, aquilo a que podemos chamar a diplomacia das vacinas. Basicamente, a estratégia do regime israelita passa por utilizar as vacinas que tem disponíveis para mediar acordos internacionais e negociações que lhe sejam favoráveis.

É isso que está a fazer com Guatemala, Honduras e República Checa, além de estar também a mediar a chegada de vacinas à Palestina, território que não conhece como independente, e que está dentro do território israelita.

É precisamente neste foco de tensão que Israel parece exercer a sua jogada de poder. Para o país, uma das coisas mais importantes é o reconhecimento de Jerusalém como capital, sendo a oficial Tel Aviv. A cidade de Jerusalém fica no ponto que divide o território israelita do território palestiniano. A Palestina define a parte oriental como sua capital, um território que é atualmente ocupado por Israel.

Neste ponto, é importante para Israel, como jogada de força política, que a comunidade internacional reconheça Jerusalém como cidade israelita. Assim, e em troca de melhores relações, vários países deram ou começam a dar passos nesse sentido.

É o caso da Guatemala, país da América Central que abriu a embaixada em Jerusalém em 2020, e que agora vai ser "recompensado" com cinco mil doses de vacinas da Pfizer, que serão enviadas por Israel.

O mesmo caminho segue outro país da mesma geografia, as Honduras. Depois de já terem dito que também pretendem instalar uma embaixada em Jerusalém, o país vai receber as mesmas cinco mil doses de vacinas.

Mas este jogo também se faz no dito Ocidente, e a República Checa confirmou que recebeu vacinas vindas de Israel. Em dezembro o país tinha anunciado que iria colocar uma representação diplomática na cidade de Jerusalém, caminho que pode levar à instalação de uma embaixada permanente em Israel.

Esta ajuda acabou por chegar já depois de responsáveis checos terem expressado, através de uma carta, um pedido de ajuda ao Estado de Israel.

Israel já está a encomendar há muito as vacinas produzidas pela Pfizer e pela Moderna, sendo que é com a primeira que vacinou grande parte da população.

Este mês começaram já a ser exportadas vacinas para a Palestina, que chegam do carregamento recebido da Moderna, e que ajudou a iniciar o limitado programa de vacinação na Cisjordânia e em Gaza, áreas de constante tensão entre os dois Estados.

Israel já estava a vacinar os cidadãos que vivem na parte oriental de Jerusalém, território com maioria palestiniana, mas vinha sendo muito criticada por não estender o programa ao resto do Estado que é reconhecido pela Organização das Nações Unidas, onde tem o estatuto de Estado observador não-membro.

Voltando à diplomacia, um avião da Força Aérea hondurenha está já em Israel à espera de ser carregado com as vacinas, segundo informou o porta-voz do governo, Carlos Madero. 

Mas se o jogo se faz fora do país, é a frente interna que parece ser um dos problemas. A oposição do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, já veio criticar o facto de o país estar a dar vacinas, afirmando que a opinião pública devia ter sido consultada antes.

Israel vai a eleições legislativas a 23 de março, e este é um dos trunfos em que a oposição aposta, até porque já houve membros do governo a admitir que desconheciam estas doações, como foi o caso do ministro das Finanças, que disse não ter conhecimento disso.

Israel reclama que a sua verdadeira capital é Jerusalém, ao passo que os palestinianos reivindicam parte da cidade como a sua capita. O território foi anexado em 1967 por Israel.

Esta não é a primeira vez que Israel utiliza o poder da sua vacinação para negociar internacionalmente. Há quatro dias foi noticiado que o país tinha dado vacinas à Síria em troca de uma prisioneira.

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