A ativista paquistanesa de apenas 14 anos Malala Yousufzai encontra-se em estado muito grave depois do ataque de vários homens armados que dispararam sobre ela, enquanto seguia na carrinha da escola, esta terça-feira. A jovem encontra-se hospitalizada, depois de uma operação que durou cerca de duas horas e meia para remover uma bala alojada na nuca, esta manhã de quarta-feira no Hospital de Islamabad, na zona norte do país.
«Inshallah [Deus queira] que ela sobreviva», disse Mumtaz Ali, médico neurocirurgião que a operou, juntamente com outras duas colegas também baleadas, citado pela «CNN».
O ataque, que atingiu Malala na cabeça e nuca, foi reclamado pelo grupo radical talibã no Paquistão, através do seu porta-voz, Ihsanullah Ihsanque, que comanda aquela região e que acusa a jovem de ser «anti-talibã» e secular.
«Ela tornou-se o símbolo da cultura ocidental na região. E estava claramente a propagandeá-lo», disse Ihsanque ao «New York Times», acrescentando que, se Malala sobreviver, será novamente um alvo dos talibã. «Que este ataque lhe sirva de lição», avisou o porta-voz do grupo extremista.
Malala seguia da sua casa para a escola, na carrinha escolar, quando um grupo de homens armados entrou no veículo e perguntou quem era Malala Yousufzai. As colegas da rapariga apontaram em seu sentido e os homens não hesitaram: dispararam vários tiros à queima roupa e fugiram do local. Malala e duas colegas ficaram gravemente feridas.
Em causa está o ativismo de Malala Yousufzai em defesa da educação feminina no Vale do Swat, onde vive, e que a tornou famosa em 2009, então com 11 anos, quando escreveu um diário para a BBC sobre a vida na região. A jovem teceu fortes críticas à decisão de encerrar a escola feminina, e publicava as suas preocupações no seu blogue.
Malala foi mesmo a primeira pessoa a receber o Prémio Nacional de Paz, do Paquistão,no ano passado.
A jovem ativista vive numa das regiões mais conservadoras do país e recorreu à Internet para mostrar ao mundo a sua frustração pelas restrições dos talibã sobre a educação das raparigas.
«Tive um sonho terrível ontem com helicópteros militares e talibãs», escreveu Malala, em janeiro de 2009. «Tive esses sonhos desde o lançamento da operação militar em Swat. A minha mãe preparou-me o pequeno-almoço e fui para a escola. Estava com muito medo de ir à escola porque os talibã emitiram um decreto proibindo todas as meninas de frequentar escolas».
Mesmo depois das ameaças dos talibãs, Malala não parou de denunciar violações, pilhagens e atropelos aos direitos humanos deste grupo radical e não deixou de estudar, escondendo os livros na sua roupa, mantendo a sua indumentária e frequentando a escola.
Agora, o ataque já originou uma onda de críticas e contestação, obrigando os responsáveis políticos paquistaneses a reforçarem atenção aos talibãs. Várias pessoas foram ao hospital oferecer sangue para salvar as meninas.
«A nossa sociedade está a atravessar uma fase crítica. Os civis estão a viver uma guerra contra os militares talibãs e terroristas. O ataque a Malala é um exemplo claro dessa guerra», disse o professor universitário Aazadi Fateh Muhammad por e-mail à CNN.
Ativista de 14 anos em estado grave depois de ataque talibã
- Redação
- Rita Leça
- 10 out 2012, 12:00
Malala Yousufzai foi atingida a tiro na cabeça e nuca. Em causa, a sua luta pela defesa dos direitos das raparigas frequentarem a escola no Paquistão
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