Mãe que matou violador da filha é absolvida pela justiça - TVI

Mãe que matou violador da filha é absolvida pela justiça

  • FM
  • 2 abr 2019, 15:31
África do Sul

Nokubonga Qampi ficou conhecida no país como “mãe leoa” por matar um dos homens que atacou a filha e ferir os outros dois na África do Sul

Em setembro de 2017, Nokubonga Qampi recebeu uma chamada de madrugada. Do outro lado da linha estava uma jovem com uma notícia grave, a filha, Siphokazi, estava a ser violada por três homens. Os suspeitos eram conhecidos na aldeia onde morava, na província de Cabo Oriental, na África do Sul.

Como contou à BBC, Nokubonga ligou para a polícia, mas ninguém atendeu. A filha estava a cerca de 500 metros de distância e mesmo que a polícia aparecesse não seria rápida o suficiente para impedir a violação.

A mulher de 57 anos pegou numa faca, iluminou o caminho com a lanterna do telemóvel, e quando se aproximou da casa, ouviu os gritos da filha. Assim que entrou, viu a filha a ser violentada e os dois homens, com as calças arriadas, à espera da próxima vez para violarem novamente a jovem.

Eu estava com medo. Fiquei parada perto da porta e perguntei o que estavam a fazer. Quando eles viram que era eu, vieram na minha direção, foi quando eu pensei que tinha de me defender, foi uma reação automática", contou Nokubonga.

Os homens foram em direção à Nokubonga, que reagiu e os esfaqueou. Um dos suspeitos morreu e os outros dois ficaram feridos. Pouco depois levou a filha para a casa de um amigo. Quando a polícia chegou, Nokubonga foi presa e a filha foi levada para um hospital, onde recuperou do ataque.

Mãe Leoa

Sem conseguir identificar o rosto nem o nome nas reportagens, a imprensa local apelidou Nokubonga de “mãe leoa”. A alcunha ficou popular entre a opinião pública, que criticou a justiça por processar uma mãe que defendeu a própria filha.

Nokubonga foi libertada dois dias depois, saiu sob fiança. Uma semana depois, a advogada Buhle Tonise, apresentou-se para representar a acusada. Tonise estava certa sobre a absolvição da mãe, baseada no argumento de que Nokubonga agiu em legítima defesa, mas nem a mãe nem a vítima estavam recuperadas do ocorrido e não confiavam na justiça.

Quando se encontra pessoas com este nível de pobreza, sabes que, na maioria das vezes, elas acham que a mãe vai para a cadeia porque ninguém vai ficar do lado dela. O sistema de justiça é para quem tem dinheiro.", disse a advogada à reportagem da BBC.

Um mês após o ataque, Nokubonga foi intimada para se apresentar em tribunal. Ao chegar percebeu que eram várias as pessoas que a apoiavam e estavam do lado dela. A mãe foi chamada perante o juiz e informada que as acusações foram retiradas. A decisão fez a filha "rir-se pela primeira vez em meses"

Eu fiquei lá parada, mas estava animada, estava feliz. Naquele momento, eu soube que a justiça era capaz de separar o certo do errado, que eles eram capazes de dizer que eu não tinha a intenção de tirar a vida a alguém.", contou Nokubonga.

Um ano depois, em dezembro de 2018, os outros dois autores da violação, Xolisa Siyeka, de 30 anos, e Mncedisi Vuba, de 25 anos, membros do mesmo clã de Nokubonga e Siphokazi, foram condenados a 30 anos de prisão.

Violações na África do Sul

A África do Sul é um dos países do mundo em que há mais violações por habitantes. São cerca de 40 mil por ano, uma média de 110 por dia. Além disso, um a cada quatro homens confessaram que já consumaram uma violação.

O quadro é tão grave que, no início do ano, o presidente Sul Africano, Cyril Ramaphosa, chegou a classificar a situação como uma crise nacional. O líder político pediu aos homens que se unam contra as violações no país.

A província de Cabo Oriental, onde moram Nokubonga Qampi e a filha, Siphokazi, tem cerca de 5 mil habitantes e é a mais pobre do país. Entre 2017 e 2018 registaram-se 74 violações nesta região.

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