A paquistanesa Asma Aziz acusou publicamente o marido, Miran Faisal, de a ter espancado e rapado o cabelo apenas porque não quis dançar para ele e para os seus amigos.
O caso aconteceu na cidade de Lahore no dia 24 de março. Dois dias depois, Asma publicou um vídeo nas redes sociais em que contou que o marido e os criados espancaram-na e raparam-lhe o cabelo. O vídeo depressa se tornou viral e as autoridades prenderam Faisal e um criado, Rashid Ali.
Ele tirou as minhas roupas à frente dos empregados. Depois estes seguraram-me e ele rapou o meu cabelo e queimou-o. As minhas roupas estavam ensanguentadas. Eu estava presa num cano e pendurada no ventilador. Ele ameaçou que me pendurava nua."
#AsmaAziz woman in #Lahore was allegedly tortured & her head was shaved by her husband after she refused to dance in front of his friends. Asma claimed that her husband Faisal & his friends beat her with pipes, shaved her head, threatened to strangle her when she refused to dance pic.twitter.com/mJlXK00ns9
— Ghulam Abbas Shah (@ghulamabbasshah) March 27, 2019
Segundo a reportagem da BBC, o marido negou as acusações. Miran Faisal disse à polícia que Aziz tinha começado a cortar o cabelo quando estava sob influência de drogas e que ele, depois de também ingerir drogas, a ajudou a terminar o corte. Além disso, o homem afirmou que os media ficaram ao lado da mulher sem ouvir a sua versão da história.
Apesar das alegações do marido, o juiz Shadiq Zia ordenou que o homem e o empregado permanecessem na prisão até à divulgação do relatório médico final. O relatório preliminar apontou hematomas, inchaço e vermelhidão nos braços, nas bochechas e ao redor do olho esquerdo de Asma.
Os advogados de Asma apelaram à justiça paquistanesa para que os agressores sejam julgados pela lei antiterrorista e não num julgamento de crime banal, por causa da prática de tortura contra a mulher.
Redes Sociais e o segundo vídeo
Um segundo vídeo divulgado nas redes sociais, supostamente gravado há quatro meses, mostra a jovem a dançar numa festa. Vários paquistaneses divulgaram as imagens e começaram a questionar a denúncia de Asma contra o marido.
#AsmaAziz the girl who's husband beaten her & shaved her head for not dancing in front of his friends released by her husband's friend claiming that she used to dance with them in private gatherings on her own wish & her Husband saying he neither shaved her head nor tortured her pic.twitter.com/Zh8pTX8pgv
— Showbiz & News (@ShowbizAndNewz) March 29, 2019
A situação comoveu o Paquistão e várias pessoas e entidades manifestaram-se sobre o caso nas redes sociais, com a hashtag #AsmaAziz.
A atriz e cantora Sanam Saeed, que é uma das estrelas da TV paquistanesa, defendeu Aziz no Twitter, dizendo que a divulgação do segundo vídeo é uma forma de culpabilizar a mulher que é vítima de violência
É o mesmo que dizer que quando uma prostituta é violada a culpa é dela. Quando alguns de vocês vão entender o sentido da palavra consentimento? Um vídeo antigo em que Asma aparece a dançar não justifica que ela seja torturada por se recusar a dançar. Tenha piedade!”, escreveu.
It's like saying if a prostitute was raped its her fault anyway. When will some of you really understand the meaning of #consent??? An old leaked video of #asmaaziz dancing, does not justify her being tortured for refusing to dance when she doesn't feel like it. Have mercy!
— Sanam Saeed (@sanammodysaeed) April 2, 2019
A Amnistia Internacional também divulgou mensagem de apoio à Asma Aziz e pediu ao governo do Paquistão políticas mais efetivas de combate à violência contra a mulher. Dados de 2016 do Índice de Desigualdade de Género da ONU põe o país na posição 147, numa lista de 188 nações.
Embora estejamos satisfeitos por ter sido tomada uma ação forte e rápida contra os torturadores de Asma Aziz, constatamos, com consternação, o aumento alarmante dos casos de violência contra as mulheres. É necessária uma mudança sistémica para proteger as mulheres. Não podem ser tomadas apenas medidas caso a caso.”
While we are glad that strong and swift action has been taken against the torturers of Asma Aziz, we note with dismay the alarming rise in reported cases of violence against women. Systemic change to protect women is necessary. Action can’t only be taken on a case-by-case basis. pic.twitter.com/IQSOEpMUd9
— Amnesty International South Asia (@amnestysasia) March 28, 2019