Brasil: governador sem dinheiro pede a polícias que voltem ao trabalho - TVI

Brasil: governador sem dinheiro pede a polícias que voltem ao trabalho

Brasil - Estado do Espírito Santo

Crimes e violência no Estado de Espírito Santo já causaram 87 mortos. Polícia militar continua "em greve" e o exército tenta patrulhar as ruas. Autoridades não conseguem ultrapassar o impasse

Ao quinto dia de caos na cidade de Vitória, capital do Estado brasileiro de Espírito Santo, a norte do Rio de Janeiro, os assaltos, assassínios e violência já terão causado 87 mortos, segundo a contagem adiantada pelo sindicato da polícia civil.

Desde sábado que muitos dos efetivos da polícia militar continuam aquartelados, tendo deixado de patrulhar as ruas. Os quartéis continuam com familiares à porta, que impedem os agentes e as viaturas de sair. É a forma de contornar a impossibilidade dos militares fazerem greve, punida pelas leis brasileiras.

Na manhã de quarta-feira, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, falou à imprensa, pedindo "bom senso" aos efetivos da polícia militar, convidando-os "pelo respeito para com a população capixaba, a voltar ao trabalho".

A polícia militar tem homens e mulheres sérios. Quero olhar no branco do olho desse policiais e pedir-lhes que respeitem o nosso Estado do Espírito Santo. Porque quem está a pagar é o cidadão capixaba", frisou o governador.

Falando à imprensa e apelando repetidamente ao "bom senso" dos polícias capixabas, o termo usado para designar os naturais do Estado de Espírito Santo, Hartung não deixou de considerar haver "chantagem" em toda a paralisação, que "se não for enfrentada hoje aqui, amanhã estará por todo o Brasil".

Tudo bota culpa no governo. Quem é o governo? Somos nós! O que é que querem do governo? Querem chantagear o governo, chantagear a população que vai pagar a conta. Quanto custa um aumento desses?", afirmou o governador na conferência de imprensa, transmitida através da conta de Facebook do governo estadual.

Hartung assumiu mesmo não ter dinheiro para suportar os aumentos reivindicados pela polícia militar.

Onde vamos arranjar meio bilhão [500 milhões de reais]? Nós fechámos o ano de 2016 num sacrifício danado para manter essas contas em dia, como fizemos em 2015. Aonde nós vamos arranjar meio bilhão para aumentar a folha da polícia militar?", expôs Paulo Hartung, justificando que tal aumento obrigaria a um aumento de impostos: "Alguém é favoirável a aumentar a carga tributária num país vivendo a maior recessão dos últimos cem anos?"

Mais tropa nas ruas

A par do governador Paulo Hartung, o seu substituto atualmente em exercício reforçou que pretende pedir ao governo do Brasil o envio de mais militares e polícias para patrulhar as ruas da capital Vitória e arredores.

Estamos tomando providências no sentido de aumentar o efetivo da Força Nacional, principalmente, que é policial, e das Forças Armadas, para que tenhamos segurança, nesse momento em que a sociedade se encontra sem condições de se deslocar, quase em cárcere privado", afirmou César Colnago.

Igualmente presente na conferência de imprensa, o secretário de Segurança Pública, André Garcia, afiançou que a criminalidade tem vindo a baixar desde que, na segunda-feira, o exército brasileiro passou a patrulhar as ruas.

As ocorrências despencaram", afirmou André Garcia, sem, contudo, adiantar números oficiais.

Os responsáveis do Estado de Espírito Santo garantem haver pelo menos 500 polícias militares nas ruas, apesar da paralisação iniciada no sábado. Mas a situação de patrulhamento agravou-se porque os agentes da corporação civil decidiram parar por um dia, em protesto contra a morte de um camarada da corporação, quando tentava evitar uma situação de assalto.

Cidade paralisada

Sem escolas a funcionar, já que o início do ano letivo foi suspenso, quase sem transportes, porque poucos autocarros circulam, com os bancos e lojas fechados, na sua maioria, a população mantém-se trancada em casa e começa até a ter dificuldades para comprar comida.

De acordo com as informações veiculadas pela Rede Globo, a federação de comércio do Estado de Espírito Santo admite perdas superiores a 90 milhões de reais (cerca de 27 milhões de euros), após dois dias sem abrir as portas das lojas.

Um prejuízo que não contabiliza os assaltos e a destruição levados a cabo por bandos que vão aproveitando a escassez de policiamento e que pode, até ao momento, chegar aos 20 milhões de reais, uns seis milhões de euros.

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