O futebol que queremos ou o que temos? - TVI

O futebol que queremos ou o que temos?

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«Jogo alto»

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Escrevo estas palavras 72 horas depois do final da última jornada da Liga.

Se para os jogadores este é o tempo normal entre dois jogos, para mim também pode servir.

Mas, 72 horas depois do final do último jogo da 10.ª jornada, alguém se lembra ainda do que aconteceu dentro de campo e mexeu com a classificação?

Hummm. Não me diga que agora o fiz pensar... e porquê?

Porque de futebol, nas últimas 72 horas, muito pouco ou nada se tem falado.

Casos, processos, detenções, buscas, tribunais, esquadras, juízes, funcionários de tribunal, fase de instrução... Os termos mais ouvidos nas últimas 72 horas andam muito por aí. De futebol, pouco ou nada se tem falado.

Nesta altura o leitor já foi dar certamente uma vista de olhos e reparou que o FC Porto se isolou na liderança da Liga, que o Sporting aproveitou a vitória dos dragões sobre o Sp. Braga por 1-0 para subir ao segundo lugar isolado, depois de ter ganho ao Desp. Chaves por 2-1, e está agora à frente dos minhotos e do Benfica, que venceu o Tondela por 1-3.

Até podem ser números a mais, mas o importante é olhar para a classificação e ver que os quatro primeiros da Liga estão separados por quatro pontos.

Muito se fala da competitividade do campeonato nacional, mas se olharmos outra vez para os números, e para a diferença entre os do topo da tabela um pouco por essa Europa fora, dos principais campeonatos só Inglaterra e Espanha conseguem algo semelhante ou até melhor do que Portugal.

Em Itália, por exemplo, a Juventus de Cristiano Ronaldo tem 12, sim 12, pontos de vantagem sobre o quarto classificado, quando foram cumpridas 12 jornadas, e 6 sobre o segundo da tabela, o Nápoles.

A competição na Liga portuguesa está ao rubro, digo eu, mas o espectáculo mediático a que assistimos desde o último domingo atirou mesmo para segundo plano a luta pelo título.

Temos competitividade, na última jornada os então dois primeiros defrontaram-se, os grandes rivais de Lisboa tiveram dificuldades em vencer, mas são as polémicas dos tribunais que estão na ordem do dia, há 72 horas. 

O futebol jogado durou pouco, mesmo com um campeonato renhido.

Há quem diga que este será apenas o início de muitas mais polémicas, com o caso dos ataques a Alcochete e as detenções do ex-presidente, Bruno de Carvalho e de Nuno Vieira Mendes, Mustafá, o líder da claque Juventude Leonina ou o início da fase de instrução do processo e-Toupeira, no qual a SAD do Benfica é arguida, a serem apenas dois exemplos do que está para vir.

Para a história ficam nomes que todos lembramos ou iremos lembrar: Apito Dourado, Apito Final, Vouchers, Lex, e-mails, Cashball, e-toupeira... Será dos dirigentes que temos? Será da tutela que temos?

É este o futuro que queremos para um desporto que nos apaixona e faz bater mais forte os corações dos verdadeiros amantes do futebol? Não me parece. Parece, sim, é que devia ser no topo da pirâmide que se devia começar a pensar seriamente isto e nisto!

Ao invés dos artistas que marcam golos, que enchem os estádios e fazem as multidões gritar e vibrar, termos manchetes e aberturas de jornais na TV com notícias de ex-dirigentes, líderes de claques, presidentes de clubes, advogados?

Eu, por mim, preferia estar a falar de futebol, puro e duro, daquele onde os golos são fantásticos, onde as ausências por lesão deixam os adeptos apreensivos, onde a táctica faz a diferença e qualidade dos intervenientes dita grandes momentos de futebol.

Mas os acontecimentos das últimas 72 horas ofuscaram tudo isso e arriscaria mesmo a dizer que, mesmo partindo do princípio de presunção de inocência dos intervenientes, o jogo saiu, uma vez mais, beliscado e com a imagem denegrida. 

Ah, e no entretanto, não sei se se aperceberam, a Seleção Nacional está concentrada para o duplo confronto com Itália e Polónia e o novo treinador do Sporting, Marcel Keizer, começou a treinar a equipa.

É que no meio de tantos flashes e viagens de carro podiam ter passado despercebidas. Afinal de contas, são notícias de... futebol.

«Jogo alto» é um artigo de opinião de Pedro Ramalho, jornalista da TVI, que escreve neste espaço às quartas-feiras de três em três semanas

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